37. O que é que eu fui fazer?

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Jake expirou fundo assim que entrou na casa de banho. O que quer que fosse que acabara de acontecer entre eles, ele não queria pensar muito nisso. Não chegaria a conclusão viável alguma, não chegaria a saber se devia seguir por aquele caminho na relação de ambos, sendo ela quem era, se devia parar, precisamente por ela ser quem era. Por tudo isto e por voltar a sentir-se um adolescente, decidiu não pensar em Kim nem no significado de todas aquelas carícias que podiam mudar a visão que ela tinha dele.

Depois de um banho demorado, saiu do hotel na esperança de ainda encontrar David. Apesar da discussão infantil, não podia deixá-lo sair para uma cidade desconhecida, sabendo o que lhe poderia acontecer. Para seu alívio, David ainda conversava com Aidan lá fora. Rachel subia as escadas do alpendre com o sorriso que ele tão bem conhecia e que tentava evitar.

– Estava a ver que não – comentou a loira, piscando-lhe o olho e socando-lhe o ombro de forma amigável. Ele sorriu e apertou-lhe o nariz, despedindo-se dela.

David olhou para ele, em desafio, e ergueu um sobrolho, um gesto que Jake desprezou mais do que tudo. O ambiente tornou-se tenso, principalmente porque Aidan estava presente e Jake não conseguia esquecer o que o amigo fizera. De qualquer maneira, ia ignorar quaisquer atritos que podiam existir entre os três e iriam juntos à cidade, a bem ou a mal. Teriam de estar juntos naquilo.

– Não podemos ir os três – avisou David no claro intuito de manter o irmão de fora. Ele não queria simplesmente olhar para ele. – Alguém tem que ficar com elas e a melhor pessoa para cá ficar és tu.

– Eu vou e sobre isso não há discussão – insistiu Jake.

– Eu e o Aidan tratamos do assunto.

Jake fitou o irmão por alguns segundos, acalmando-se para que o tom de voz fosse isento de provocações.

– Tratam? Sabes o que vais fazer à cidade, David? – Jake resolveu testá-lo.

– Vou procurar ajuda. Não penses que eu sou estúpido e não sei fazer nada sem ti.

Jake quase riu da utopia em que o irmão ainda vivia.

– Ajuda de quem? Vais pedir um carro emprestado a alguém?

David não respondeu. Na verdade não tinha pensado naquela hipótese. Ele só queria voltar para casa e esquecer que aquele mês tinha realmente existido.

– Então eu explico-te o que vai acontecer agora que finalmente regressaste à Terra – continuou Jake, num tom calmo mas assertivo. – É a sobrevivência do mais forte. Não temos dinheiro nenhum, não temos um carro para sair daqui e não há comida dentro deste hotel – fez uma pausa ao ver a expressão do irmão modificar-se. – Sabes o que isso significa? Que se aqui ficarmos vamos morrer de alguma maneira. Ou morremos de fome ou matamo-nos uns aos outros antes de lá chegar. E lamento, mas eu não vou acabar assim. O verbo emprestar deixou de existir.

David arregalou os olhos ao ouvir o irmão, mas depressa refez a expressão de desprezo.

– Alguém nos há-de ajudar.

– David, eu acho que ele tem razão – interveio Aidan pela primeira vez, sem olhar Jake. – É o fim da linha, meu. Acabou-se. – o loiro colocou a mão no ombro do amigo e o gesto despoletou a reação irada e inesperada.

– Eu não lhe pedi para vir! Eu e tu vamos e acabou!

Sim, pedira, mas Jake não iria relembrá-lo do facto quando ambos ainda tinham o pedido bem fresco na cabeça. Ele só não compreendia porque o irmão reagia daquela forma.

– Ouve puto, estou contigo por aqui! – disse Jake, puxando os cabelos ainda molhados. – Fartinho das tuas merdas, por isso vê se atinas! Eu é que não te pedi para vir! – ripostou, referindo-se àquela viagem. Ao facto de terem saído da Califórnia em direção ao Canadá, sem certezas de nada.

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