47. Tu... gostas dela?

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– Vais ao menos explicar-me que merda foi aquela na sala? Tu enlouqueceste? – perguntou David, seguindo o irmão para a cozinha depois do momento mais intenso dos últimos dias.

Jake ignorou-lhe a pergunta imediatamente. Ele apenas se tinha embrenhado nos pensamentos desgovernados e andava de um lado para o outro na divisão imaculada, por entre os armários de madeira antigos, abrindo e fechando as portas trabalhadas em busca de um copo.

– Estou a falar contigo, Jake! – gritou David, agarrando nos ombros do irmão frenético e forçando-o a parar com os movimentos nervosos.

– E eu ouvi! – ripostou o mais velho, desenvencilhando-se do aperto do outro, para finalmente abrir o frigorífico e revistá-lo em busca de uma bebida mais forte do que água ou refrigerante de fruta. – Eu encontrei aquele homem no quarto da April. – ele começou por dizer, preferindo a água gelada para o seu estômago em jejum. – Preso à cama e com o peito naquele estado. Ele diz que ela queria um filho dele e que o curou. – Jake viu o irmão franzir o cenho e preparar-se para o interromper, mas ele foi mais rápido a justificar-se. – Tu não consegues perceber esta parte porque... – Porque Kim curara Rachel num impulso da sua bondade e Jake nunca fora capaz de contar a ninguém. Ainda não queria, apesar de tudo. – Mas há outra coisa. Eu não sei, estou a pensar demasiado, mas a Kim pode não ser simplesmente a Kim.

David acabou por sentar-se no balcão de pedra, partilhando o pequeno-almoço desnutrido com o irmão.

– Ela finalmente lembrou-se? – perguntou.

– Ela lembrou-se... – Jake fechou os olhos ao recordar a expressão fechada e distante da rapariga ao descrever as atrocidades que fizeram com o seu corpo, que a deixaram temerosa e desconfiada de toda a gente, de um simples toque casual. De todos menos de ti, acrescentou o seu subconsciente.

Pigarreando para aclarar a voz e a mente enovoada, apenas disse: – Ela lembrou-se de ter uma irmã gémea que não conhecia e que a tentou matar quando percebeu que ela... – refreou-se uma vez mais ao relembrar a palavra que Kim usara para se descrever, a mesma que o enraivecera quando saíra da boca de April. Kim não era deficiente. Ela apenas era especial e talvez fosse o facto de ser tão única que o puxara para si daquela maneira. – Tudo porque a Kim é diferente – acrescentou apenas. – O Aidan disse que a Kim tinha uma irmã gémea ainda em LA. Quantos gémeos é que tu conheces, David? Não há por aí assim tanta gente a nascer aos pares. Mesmo que haja um sósia para cada pessoa no Mundo, eu nunca vi ninguém igual a mim.

– E atacaste a gémeas porque a Kim tem uma gémea?! – a incredulidade era patente na voz do mais novo. – Meu Deus, Jake! – Ele confiava no bom senso do irmão, sempre confiara mais do que no próprio, mas sentia que ele enlouquecera. Jake não se vira ao espelho, não vira a sua expressão, mas ele parecera louco quando confrontara e ameaçara a rapariga que ainda se encontrava amarrada na grande sala de estar.

– A Kim tem uma tatuagem – informou Jake, o que fez David revirar os olhos de imediato. – Uma tatuagem que ela associa ao próprio nome, porque ela não se lembra de ter nenhum.

– Melhorou imenso o motivo...

– Ela não tem nome, David! – Jake elevou o tom de voz quando percebeu que o irmão não o levava a sério, que não ouvia realmente o que ele dizia. Se ouvisse, se atentasse na morena e nas suas ações como ele mesmo vinha a fazer desde que a vira injetar-se em Los Angeles, perceberia porque ele reagira daquela forma tão efusiva contra as gémeas. – Ela não come há mais de um mês. – David apenas acenou negativamente, ignorando a veracidade da informação. – Juro! Ela simplesmente não come e tu sabes! Como é que uma pessoa sobrevive durante tanto tempo sem comer? – Apesar de tudo ele não podia criticar o alheamento do irmão quando nem ele mesmo reparara que ela não se alimentava. Apenas ganhara a real noção no dia em que foram assaltados na estalagem e Kim cedera, assustada com a possibilidade de morrer. Ele ainda temia essa possibilidade e talvez fosse a pressão de ter o tempo contra eles que o forçava a achar respostas para quem ela era. – Ela tem uma queimadura num dos pulsos que nunca tinha reparado. Se ela não mo tivesse mostrado eu não tinha reparado, mas não é normal. Ela associa aqueles números e letras ao seu nome e isso é a coisa mais estranha de sempre.

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