28. Eu prefiro dormir no carro

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David já não conseguia manter os olhos abertos. O cansaço apoderara-se dele, o esforço para conduzir começava a ser notório e tudo o que queria era travar a fundo, recostar-se no banco e dormir ali mesmo, no meio da estrada deserta. Mas não podia. Não conhecia o lugar onde estava, apesar de se servir de GPS para se conseguir localizar, não havia movimento na autoestrada, não havia sinais de povoações próximas.

Rodou o pescoço para tentar aliviar a tensão muscular que sentia e ocultou um bocejo, sentindo os olhos arder pela insistência de os manter abertos. Focou a estrada novamente e ligou a rádio para poder distrair a mente. Sentiu-se descontrair durante algum tempo, embora soubesse que não conseguiria durante muito mais tempo. Esfregou as pálpebras doridas e pensou no tempo que pouparia se conduzisse a noite toda. Se assim fosse, restariam apenas dois dias de viagem e estariam perto da fronteira em menos tempo. Era tudo o que ele queria.

Perdido nos seus pensamentos, fechou os olhos. Ao dar-se conta da irresponsabilidade do seu ato, abriu-os imediatamente. Assim que o fez, a visão de um homem ensanguentado e infetado surgiu na estrada. O homem fitou-o com os seus olhos baços e inexpressivos e caminhou em direção ao carro.

David fechou os olhos e travou a fundo. A travagem brusca deu origem a lamúrias ensonadas dos amigos que o acompanhavam.

Rachel, sentada ao lado de David, acordou imediatamente, assustada com o movimento imprevisto. Desorientada, tentou compreender o que acontecera e dada a calmaria da via olhou para o namorado.

– Estás bem? – perguntou ao vê-lo inclinado sobre o volante, arfando.

– Não...

Rachel piscou os olhos diversas vezes e esfregou-os com força, para acabar com a sonolência. Colocou os caracóis rebeldes para trás e desprendeu o cinto de segurança, anunciando aquilo que David parecia querer ouvir:

– É a minha vez agora.

– Devíamos mesmo parar – aconselhou David, olhando para ela finalmente. Precisava de uma longa noite de sono, com ela, com alguém que o fizesse sentir-se protegido. Não sabia porque a visão do cadáver ainda o perseguia, mas não queria ser assombrado por um simples episódio como aquele. Já vira imensos mortos. Na televisão, pelo menos. Podia pensar em tudo aquilo como ficção e tudo voltaria ao normal. Antes, a prioridade era dormir. E Rachel também precisava de dormir.

– Ok, mas não aqui. – ela concordou, ao notar o desconforto e cansaço no rosto dele. Com um sorriso gentil, saiu do carro e tomou o lugar dele ao volante. A loira não conseguiu conter um carinho antes de engatar a mudança para iniciar a marcha de novo. Acariciou-lhe a face e afastou-lhe os cabelos acobreados que caiam pela testa.

– Descansa – sussurrou. David fechou os olhos e procurou a mão da namorada com a sua para a levar aos lábios, num agradecimento silencioso.  

Rachel sorriu, ensonada, e acelerou. Encontraria um lugar seguro onde pudessem passar a noite. Estavam todos a precisar.

Jake acordara no instante em que David travara. Apesar de não se pronunciar, assustara-se, mas o cansaço forçou-o a fechar os olhos de novo. Doía-lhe o corpo e o desconforto era o bastante para que não voltasse a adormecer, porém ainda faltavam milhares de quilómetros e não queria conduzir quando não era a sua vez.

Sentia calor, sentia-se apertado, sentia-se sufocado pelo cinto de segurança que lhe vincava o pescoço. O seu aperto podia ser aliviado. Kim, sentada no banco intermédio, encostara a cabeça ao seu ombro e parecia desfrutar de um sono sereno e imperturbável.

Com um longo suspiro, Jake rodou o ombro e sentiu-a descair sobre si. A morena murmurou algo impercetível e apertou-o contra si, como se fosse uma almofada. Jake sorriu maliciosamente ao vê-la empurrar Aidan com as ancas enquanto se aconchegava contra o seu corpo. Sentindo o ombro aliviado, encostou a cabeça ao banco e tornou a fechar os olhos.

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