41. Só por uma noite

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Rachel não regressara. Vinte minutos depois e ela simplesmente não voltara. Jake acabou por adiantar-se a David e seguiu pela estrada pedregosa, à procura da amiga. Eles acabaram por avistá-la perto do Bed & Breakfast de que ela falara.

Do lado oposto, ao portão de uma imponente moradia de estilo vitoriano que parecia contar com mais de um século, conversava com uma moradora local. Curioso com o demorar da namorada, David interrompeu a conversa:

– Então?

– Parece que as estradas estão cortadas mais a Norte – informou Rachel, olhando para a desconhecida. A rapariga confirmou com um aceno e sorriu em tom de cumprimento para o recém-chegado.

– Como assim mais a Norte? – enfatizou a sua confusão, uma vez que o descampado por trás da vivenda ainda fazia parte dos Estados Unidos.

– Os acessos às cidades estão fechados para evitar o fluxo de...

Rachel tentou referir tudo aquilo que aquela moradora lhe tinha dito, porém ela adiantou-se, depois de perceber a impaciência de David. 

– Tem visto televisão recentemente? – David ergueu o sobrolho quando a desconhecida se dirigiu a si. Parecia tão saudável... E bonita. Aprumada, com um sorriso luminoso refletido no rosto e uma postura graciosa. Como é que alguém se conseguia manter assim nas vésperas do apocalipse? – Este vírus está a acabar com tudo. Parou tudo numa questão de dias. Não tenha grandes esperanças de conseguir viajar pelo país nesta situação. Foi decretado recolher obrigatório para não dispersar a doença, por isso é perigoso andar por aí – apesar do negativismo da mensagem, a rapariga manteve o sorriso morno, que o aqueceu de certa forma.

– Nós não queremos viajar por aqui. Não somos turistas.

– A sua amiga já o disse, mas...

– Os Estados Unidos estão um caos. Nós precisamos de voltar para a Europa. – disse ele. Era a única coisa que podia dizer. Não estava no Canadá enquanto turista. Só precisava de ir para casa e tudo o resto era insignificante. Até os obstáculos no seu caminho.

– Os meus pais estão presos na Austrália há dois meses – confessou a rapariga, numa tentativa de forçá-lo a ver que não era o único que passava por dificuldades, que desesperava por voltar a casa. – Talvez já não estejam à espera de voltar... Há três semanas que não sei nada deles – manteve o olhar fixo em Jake, que se aproximara o suficiente para ouvi-la, apesar do sorriso se desvanecer. – Não se sinta o único desesperado com isto tudo.

David não se ia dar ao luxo de se afeiçoar a desconhecidos naquela altura. A sua prioridade era só uma. Era óbvio que não era o único com dificuldades, mas era o único que podia viver a sua vida e o único a lutar por ela. As outras pessoas que fizessem o mesmo.

– Lamento imenso – murmurou Jake, apesar de não o sentir verdadeiramente. Lamentava muito a morte do melhor amigo, matara um homem no dia anterior. Pouca coisa o podia abalar depois disso.  

– Eu também – acabou por dizer David, com um suspiro, quando percebeu que a rapariga lutava contra as lágrimas em frente a eles.

– Já não há nada para lamentar – renovando o sorriso, a desconhecida recompôs a postura e o olhar iluminou-se novamente ao olhar para o carro parado atrás dos dois turistas. – Bem, já vi que não vêm sozinhos. – Ela deu por si a acenar para Kim, que a olhava com curiosidade. – Não querem entrar? Talvez queiram comer qualquer coisa antes de continuarem a viagem – sugeriu com uma hospitalidade que lhes era negada há muito tempo. – De onde vêm?

– De Los Angeles – foi Rachel quem respondeu, subitamente entrelaçando os dedos nos do namorado. A rapariga percebeu o gesto como uma ameaça direta, mas acabou a sorrir para os dois casais e a dizer:

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