26. A melhor pessoa que eu conheço

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Falar com Rachel ajudara a que o pequeno emaranhado de sentimentos confusos que sentia por Kim se enleasse mais. Já não os sabia diferenciar e o facto de a querer proteger sem razão desconcertava-o mais do que aquilo que era suposto. 

Kim não era a rapariga mais interessante que alguma vez conhecera. Conhecera bastantes, dormira com algumas e poucas, possíveis de contar pelos dedos, mereceram a sua amizade. Conseguira amar e fora feliz enquanto as suas relações duraram. No entanto, nunca ganhara uma afeição tão rápida por uma rapariga enigmática que parecia um papel em branco e ele ficara incumbido de escrever nele, dando-lhe uma razão de existir.

Ela podia ser bonita e atraente, como concluíra naquela manhã, podia ser divertida e doce, podia reunir um conjunto de características que o cativavam, mas era alguém por quem ele nunca se interessaria, noutras circunstâncias.

Mas estava interessado. Talvez por ter vivido com intensidade os últimos dias e ela ter estado sempre lá, talvez pela dependência que ela tinha por ele, talvez a inocência. Não sabia o porquê, mas queria-a por perto. Era por isso que a tinha que convencer a ir, refletiu, ao entrar no quarto. Sabia a dificuldade que ela teria em sobreviver naquela cidade sozinha e só lhe restava ajudá-la da melhor forma. Um pouco egoísta, mas a melhor opção.

Pela dimensão dos seus pensamentos, o assombro foi a dobrar quando notou outra presença no quarto. Acendeu a luz rapidamente e sobressaltou-se ao ver Kim sentada na sua cama, inerte, esperando-o.

– Tu devias mesmo parar de fazer isso – sussurrou ainda assustado e fechou a porta para não incomodar quem dormia. – O que é que estás aqui a fazer? Já é tarde.

– Não consigo dormir – respondeu, como fizera nas últimas noites. Jake suspirou e revirou os olhos. Não podia simplesmente convidá-la a dormir ali, na sua cama. Teria de arranjar outra solução para as insónias.

– Mas há quem queira dormir – retorquiu, contrariamente àquilo que pensava. – Devias tentar fazer o mesmo. – O seu tom indiferente não passou despercebido, o que só colocou Kim mais nervosa. Ela parecia agitada e o à-vontade habitual com ele desaparecera, tornando-a na rapariga reservada que vira injetar-se pela primeira vez. Resignado, sentou-se ao lado dela.

– O que foi?

– Estás zangado comigo, não estás? – perguntou rapidamente, como se só estivesse à espera da luz verde de Jake para avançar com as questões que a atormentavam.

O moreno não respondeu de imediato.

– Não falaste mais comigo desde que mergulhei no lago e já não sorris – justificou a rapariga, esperando uma reação da parte dele.

– Eu não estou zangado – murmurou ele. Já não estava zangado. Talvez tivesse ficado zangado por dois segundos, quando a tirara da água, mas não lhe podia explicar que o porquê de se ter afastado dela durante o dia tivera um propósito totalmente diferente e físico.

– Estás sim – insistiu. – Como no primeiro dia. Queres mandar-me embora, Jake?

– Não... – Jake precisava explicar o porquê da sua reação, mas ela não deixou.

– Porque desculpa. Eu não volto a mergulhar em lado nenhum. Prometo. – Ela parecia tão angustiada que ele sorriu, embora contrariado. Ela não conseguia mesmo perceber...

– Eu fiquei zangado porque tu podias ter morrido se não estivesse ninguém contigo – disse, omitindo o facto de se ter despido à sua frente e ter-se aninhado nele como se fossem amantes há algum tempo o ter perturbado. – Percebes isso? Se eu não te conseguisse tirar da água, a brincadeira impulsiva não acabava bem.

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