64. Eles já não aguentam mais

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David e Brian encontravam-se no fim do túnel quando ouviram a voz feminina no dispositivo, entretanto esquecido dentro do bolso das calças, de onde esperavam resposta há longos e desesperantes minutos.

– David? Brian? Estamos... – No mesmo instante David apressou-se a aproximar o aparelho do ouvido quando a voz dela se deixou de ouvir. – Zona D. Estamos na zona D e precisamos de ajuda. O Jake precisa de ajuda.

– Kim? Tranca as portas de novo. – Brian adiantou-se, fitando David com intensidade e vendo o irlandês cerrar o maxilar tenso por perceber que o irmão precisava da sua ajuda e eles tinham poucos minutos para sair daquele buraco sem fundo.

A resposta de Kim nunca veio, e Brian insistiu nas indicações dadas à morena enquanto David avançava e corria para a zona dos elevadores, para as escadas férreas que davam acesso ao piso das restantes zonas do edifício.

– David, a arma – gritou o canadiano, tentando acompanhar o passo acelerado do mais novo, correndo pelos degraus instáveis.

David correu, cego, na direção que Kim dissera. Ele não notou o cadáver desfigurado na Incubadora, nem como alguns dos leitos gelatinosos estavam vazios, ou como todos os ecrãs que acompanhavam as camas emitiam luzes vermelhas em sinal de aviso. David não reparou nos olhares curiosos e confusos vindos de todos os cantos do armazém, que depressa voltaram às sombras, e apenas atentou nos obstáculos que o impediam de ir buscar Jake e levá-lo para casa.

O alarme estridente foi accionado no momento em que eles avançaram pela zona dos dormitórios das raparigas. Em todas as paredes imaculadamente brancas, assim como em todas as portas dos dormitórios, projetou-se uma rapariga loira de olhos elétricos que repetia um aviso incessante para os mais distraídos. David viu a postura de Brian modificar-se à medida que corriam pelo corredor imaculado, decorado pelas luzes vermelhas psicadélicas que acompanhavam a sirene e a voz da projeção. O canadiano protegia o centro do corpo enquanto empunhava a arma, de braços esticados, firmes, e ombros curvados que o sustentavam quando puxasse o gatilho. David imitou-o, atentando a qualquer movimento e perigo para que fosse bem sucedido. Jake era a prioridade e ele só queria sair dali.

A adrenalina começou a tornar-se demasiada à medida que os dormitórios iam ficando para trás e ele já conseguia ler Zona D no vidro fosco ao fundo do corredor. Ele sentiu como respirar se tornava difícil quando o coração bombeava sangue com endorfinas que o atrapalhavam mais do que o preparavam para agir.

– Hey, Kim. – Brian tornou a quebrar o silêncio, testando o sinal entre dispositivos de novo, e abrandando o passo enquanto David se adiantava. – Estamos aqui. Tens de abrir a porta agora – informou, ansioso, olhando em seu redor, sabendo que o alarme que soava não era um bom presságio para que conseguissem fazer o caminho de volta à superfície.

David testou o vidro resistente da porta diferente de todas as outras, cujo símbolo de ADN estilizado ele já notara pelo edifício, e a exasperação cobriu-lhe a expressão quando não conseguiu entrar. A dúvida do estado do irmão corroía-o, assim como o de Rachel, e ele sentia-se impotente pela ignorância.

– Porque é que ela não abre a porta? – questionou, retórico, batendo no vidro com o punho fechado. – Kim!

– O sinal foi-se – comentou o outro.

– Kim! Destranca as portas para irmos embora – gritou David, ansioso, que procurava algo na parede de vidro automática que fosse a lacuna que os deixaria entrar. – Merda!

– Não temos muito tempo, David – alertou Brian.

O irlandês olhou para o cronómetro que trouxera da centrifugadora explosiva e sentiu o sangue concentrar-se na cabeça desgovernada.

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