23. Vamos embora

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Jake Brody achava que sabia guardar segredos. Nunca tivera problemas em deixar escapar detalhes irrelevantes da vida de um amigo, por puro acaso. Nunca tivera problemas em partilhar coisas apenas com a família, apenas com o irmão. Poderiam ter centenas de segredos que pertenciam um ao outro, mas com Kim era diferente. Para a proteger, poderia ter de sacrificar alguém.

Aquilo era uma questão de vida ou morte, não de esconder intenções amorosas de um amigo ou o facto de alguém não conseguir manter uma ereção. Se alguém soubesse o poder que ela detinha naquele momento, arriscaria tudo. Os cuidados seriam menores, comportar-se-iam com irresponsabilidade e reduziriam tudo o que Kim era a pó.

Ele não era egoísta e interesseiro o suficiente para a colocar em perigo para que os outros se sentissem confortáveis com a situação que se vivia pelo mundo inteiro. Ele não se sentiria menos confortável por carregar a responsabilidade de que ninguém atentaria contra a vida dela, nem mesmo as pessoas mais importantes para ele. Ele não sabia como esconder a David como a namorada tinha sido salva, mas teria de arranjar a melhor forma de se conter. Uma das melhores formas de esquecer o peso que carregava nos ombros era aliviar a mente com alguém mais descomplicado do que ele.

Ele não ficou surpreendido quando viu Aidan deitado no quintal da pequena moradia, a aproveitar o intenso sol de verão californiano. Os últimos dias tinham sido tão penosos e difíceis para ele que o merecia. Mais do que ninguém.

– Boa vida – comentou Jake, sentando-se na espreguiçadeira vaga.

– Não me chateies – murmurou o loiro, com a voz arrastada e sonolenta.

– Longe de mim querer interromper a tua sessão de bronze, pó de talco – brincou Jake, tentando uma reaproximação daquilo que sempre tinha sido, antes dos últimos dias. – Já sabes da Rachel?

– Sim, e juro que não percebo como ela melhorou tanto da noite para o dia. – Apesar do esforço, não conseguiu evitar sorrir. – O teu irmão está mais paranoico do que eu, e os meus pais quase tiveram um orgasmo ao telefone, mas sabes que quando os genes são bons, não há nada a fazer.

Jake também sorriu, embora tenso. Aidan continuaria na ignorância, pensando numa cura milagrosa, sem associá-la a Kim. Teria de ser.

– Onde é que ela está? – O moreno tentou mostrar-se curioso, quando na verdade queria dizer que sabia por que a Rachel estava viva.

– O David obrigou-a a voltar para a cama. Ele é o médico mais chato que já conheci.

– E tu és o irmão mais despreocupado que já vi.

– Se o achas, então estes vinte anos passaram por ti sem que desses por eles. Sei que me acham um congelador com pernas que só diz asneiras, e sou, mas a Rach é a minha irmã mais nova. Preocupar-me com ela é pouco.

– Eu sei, puto.

Aidan podia ser muita coisa, mas não despreocupado. Talvez se mostrasse indiferente a tudo e a todos, mas Jake ofendia-o por não demonstrar que o conhecia, depois de tantos anos. Tentou manter um tom cordial e amigável, o seu, quando se tentou justificar:

– Oh, Jake! – Kim interveio na altura certa, pois Jake poderia dizer algo de que se arrependesse mais tarde. – Onde é que se desliga o filme? Por algum motivo, carregar no botão vermelho não faz rigorosamente nada.

A rapariga parecia tão aflita que Aidan não conseguiu conter uma risada sarcástica que, felizmente, ela não percebeu. Jake deu um beliscão rápido no braço do amigo e contorceu-se na cadeira para conseguir olhar para a rapariga. Com o seu melhor sorriso, ao vê-la continuar a carregar incessantemente no suposto botão do comando, ofereceu:

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