51. Não deixes de gostar de mim

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Jake reagiu de imediato quando a viu abrir os olhos. O alívio tornou-se evidente na sua expressão quando percebeu que a rapariga acordara. Ele considerava-se um homem prático, costumava ser fácil lidar com pessoas feridas e inconscientes e a sua resposta era imediata quando se tratava de ajudar a salvar uma vida. Costumava, até a vida ser a dela.

Kim mantivera-se desmaiada durante demasiado tempo e ele contou cada segundo angustiante e interminável. O moreno limpara-lhe o sangue encrustado na pele magoada e as feridas com cuidado, acariciara-lhe os traços que já conhecia de olhos fechados, provavelmente dissera coisas que não diria na presença de ninguém, e pediu para que ela acordasse.

Ele não iria admitir que ainda tremia ao recordar o momento breve em que a viu sob Alana e pensou que a perdera. Ele pensou-o, mesmo que tivesse sido numa fração de segundo, e então o seu instinto mais básico tomou o controlo e agiu da única forma que poderia. Ele prometera a si mesmo que nunca mais perderia ninguém por sua culpa. Prometera a Kim que não permitiria que ninguém lhe fizesse mal, e já falhara tantas vezes...

– Jake! – o tom ansioso forçou-o a despertar do estado de apatia crescente e avançar para a morena de novo. – Eu... E-eu lembrei-me – ela disse, respirando com dificuldade, encolhendo-se sobre o colchão.

– Hey... Está tudo bem – apaziguou ele, puxando-a para um abraço mais para o sossegar do que a ela. Jake apertou-a contra o peito e alisou-lhe os cabelos sujos e embaraçados num misto de sangue coagulado e suor.

Kim permitiu-se ser abraçada, agarrando-se sôfrega à cintura dele com força, puxando o tecido da t-shirt com as mãos trémulas, enquanto tentava controlar a respiração desenfreada. Acabou por fechar os olhos ao sentir o ardor aquecer-lhe a pele do rosto e nem isso a demoveu. Roçou o nariz pelo pescoço masculino, ignorando a sensação abrasiva, e inspirou o aroma que era o seu favorito no mundo.

O que Jake pensaria quando ela lhe contasse a verdade? Voltaria a abraçá-la daquela forma, entrelaçando os cabelos desgrenhados e sujos com os dedos, numa longa carícia na sua nuca dorida, tocando repetidamente a sua testa transpirada com os lábios?

– Kim... – Ela fechou os olhos com força quando sentiu as cordas vocais dele vibrarem contra a sua têmpora. Não, ainda não, pediu mentalmente. Ainda não.

Ela não queria ter que lhe contar, não queria que ninguém soubesse. Tudo o que ela sentia se refletia na sua postura, na forma como puxava Jake para si com uma sofreguidão quase desesperada. Nem mesmo quando ele tentou afastar-se, para procurar o rosto dela, o conseguiu largar.

Ele acabou por suspirar, num misto de alívio e impotência, e apoiou o queixo nos cabelos dela, sem saber como fazê-la voltar a si. Kim revelara-lhe os seus maiores medos naquela mesma cama, horas antes, e nem nesse momento ele a viu reagir daquela forma.

– Estás tão tensa que não sei o que fazer para que te sintas melhor. Às vezes seria mais fácil se chorasses.

Kim finalmente abriu os olhos ao ouvi-lo, e o seu olhar era vítreo, limpo de qualquer emoção, de qualquer indício de lágrimas. Talvez ela não as soubesse produzir, já que o nó na garganta era constante. Talvez ele tivesse razão e chorar fosse mais libertador e saudável do que depender do abraço dele daquela forma.

– Eu não quero chorar, só quero que me abraces – admitiu, escorregando pelo peito duro e sentindo o rosto colar-se ao tecido da t-shirt dele, pelas feridas mal cicatrizadas.

– Não tens que ser sempre forte – ele disse, num murmúrio rouco, enquanto as mãos vagueavam pela pele sã dela. – Não comigo.

– Eu não sou nada forte, Jake... Eu na verdade sou a coisa mais fraca de sempre. – ela murmurou contra ele, a voz demasiado abafada para ele perceber com clareza. 

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