55. Plano B

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Kim não conhecia definições genéricas dos sentimentos. Para ela tudo se resumia a sentir e sempre fora o bastante. Jake declarara-se apaixonado por si e ela reconheceu o carinho romântico que lhe dedicava como positivo, como algo que ela gostaria de retribuir. Contando que ele nunca mais a desprezasse, que a abraçasse com força e pudesse sentir-se protegida nos braços da melhor pessoa que conhecia; que ele a beijasse com meiguice, que a beijasse como se quisesse fundir-se nela a qualquer momento. Ela gostava de tudo o que sentia perto de Jake e sempre seria o bastante. Tê-lo por perto.

Ela não soube quanto tempo ele a manteve contra o corpo dele, uma mão irrequieta sobre a cintura fina e a outra num carinho constante pelos traços do rosto feminino, enquanto os lábios se moviam suaves e cândidos, num beijo morno que só terminou quando ele se apercebeu de que fora para o bosque com um propósito e que Kim não estava incluída nele.

A morena ainda protestou quando ele a soltou, insistindo que deveriam ficar para sempre na calmaria da floresta, onde ela poderia ser apenas ela e ele apenas ele. Jake depressa a demoveu das suas lamúrias infantis e concentrou-se em procurar alguns galhos prontos para serem queimados. Kim ajudou-o, verdadeiramente feliz com a tarefa que ele lhe incumbira e com a novidade.

A rapariga apanhou todas as pequenas pinhas caídas dos abetos frondosos e aceitou o desafio de colocá-las a todas no colo do seu vestido, dobrando o tecido contra o peito, numa clara competição acriançada para reter o máximo de volume mais rapidamente do que Jake.

Ele acabou por rir, dizendo-lhe que não poderia levar todas as pinhas, a não ser que quisesse criar uma fogueira para assar um animal inteiro, e que não podia simplesmente expôr o seu corpo daquela forma para o grupo. Apenas a ele, acrescentou toda a parte possessiva do seu cérebro. A parte que muito a queria.

Ela anuiu e concordou apenas em levar as suficientes e que conseguia segurar contra o peito. Durante o caminho de volta a rapariga questionou-o várias vezes acerca da ética inerente à queima dos órgãos mais puros daquelas árvores resistentes. Ela sabia que cada um daqueles recetáculos rugosos e empoeirados continha sementes que dariam origem a novas árvores, e não lhe parecia bem interromper uma vida para aquecer latas de comida.

Jake apenas sorriu, embevecido, ao deparar-se uma vez mais com a autenticidade da rapariga que tinha ao seu lado e a bondade que lhe fluía do coração.

Kim rapidamente esqueceu o destino das pinhas quando chegaram ao parque de merendas e todos os olhos se fixaram no casal. Kim abrandou o passo, incerta da reação do grupo e da razão real para os perscrutarem daquela forma. Teria feito alguma coisa de mal? Além de ter escapado de perto deles antes, para acompanhar Jake?

Jake notou os olhares atentos e o silêncio repentino que se formou entre o grupo, mais ainda a apreensão de Kim. Num movimento impensado, a sua mão livre voltou à cintura da rapariga e as expressões de todos eles se modificou. Rachel sorriu abertamente para ambos, demonstrando uma felicidade verdadeira pelos amigos, no entanto Jake apenas se surpreendeu com o irmão, que partilhava um meio sorriso com a namorada. Que ostentava uma expressão de aprovação quando o mais velho não a esperava nem a queria. Ele não a queria, mas aceitou-a com agrado, por mais que não o expressasse.

O almoço fora tardio e o céu encoberto pelo arvoredo encorpado revelava tons alaranjados que anunciavam a tarde de final de Verão. O Outono começaria na próxima semana e os tons estivais já tomavam conta de algumas espécies vegetais rodeadas pelas demais, perenes.

Tudo parecia perfeito enquanto eles desfrutavam de uma refeição simples e sensaborona num parque de merendas rodeado pelo maior esplendor da natureza, a brisa a acariciar-lhes os rostos fechados e receosos com o que aquela noite traria. 

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