CAPITULO 10

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~*2019*~

As memórias iam e voltavam num loop eterno dentro das ideias de Lorena. Estava ali, dentro do carro estacionado, de frente para casa que passou tempos difíceis. Como seria rever sua mãe? A saudade era uma definição singela para descrever o que a médica sentia após todos aqueles anos sem ver a irmã e a mãe.

— Certeza de que não quer que eu acompanhe, doutora?

— Fique tranquilo, Lúcio. Serei breve. E eu já me certifiquei de que meu padrasto está fora. Voltará apenas para o almoço. Qualquer coisa grito por sua ajuda.

A grama, o morro com suas árvores, a pintura da casa, tudo era o mesmo. Porém com mais do impacto causado pelos anos que se passaram.
Tudo servia como uma máquina do tempo.

Lorena podia ver Ariel correndo com sua irmã por aquele vasto espaço de grama nos poucos momentos em que Francisco não estava.

— Mana! — Fabiana colocou a cabeça para fora da janela e abriu um sorriso largo! — Você não mentiu! Veio mesmo! Não estou acreditando!

— Fabiana, meu amor! Que saudades!

As lágrimas foram atropelando os sentimentos explosivos de Lorena. Era uma emoção indescritível.

— Se você chorar assim, eu vou chorar também

Entretanto,  Fabiana não conseguia conter as lágrimas ao rever a irmã após todo aquele tempo.

— Como está linda, Lorena! E elegante. Melhor que nas fotos!

— Obrigada. Você também já está uma moça! Meu Deus!

Ela se olhavam com admiração.

— E a mamãe? Como está?

Fabiana e engoliu em seco, deveria comunicar algo não tão agradável.

— Venha, vamos vê-la . Ela sofreu um AVC recentemente...

Lorena desesperou-se.

— Como assim??? Porque não me avisou?

— Meu pai tomou o celular quando desconfiou que nos comunicávamos . Foi horrível para mim ver a mamãe nesse estado e não ter como fazer muita coisa. Mas ela já está bem!

— Bem como Fabiana? Ficou com sequelas?

O quarto não era muito grande. Regina estava em pé de frente para o espelho. Virou-se com dificuldade quando apareceu sentir a presença de Lorena. Ela tinha os mesmos olhos dopados de quando Lorena ainda vivia ali. Sorriu como pôde para filha. O AVC havia deixado sequelas, como um importante desvio da rima labial e alguma dificuldade para falar.

De emoção, Lorena passou a chorar ao ver a mãe no estado pior do que imaginava.

— Mãe, mãe, eu estou aqui! Deixa eu te abraçar e não te largar nunca mais. A senhora é tudo pra mim! Tudo.

Regina sorria ingenuamente estendendo o braço como pode, o esquerdo com mais dificuldade por causa das sequelas

— Eu ... Te... Amo — disse a mãe a sua filha com certa dificuldade na fala.

Apesar de tudo, o coração de Lorena se aquecia  ao poder rever sua mãe após todos aqueles anos. Ninguém mais poderia separa-la de sua mãe.

~*~

Reunir-se no bar com os amigos após sair do escritório serviu como uma válvula de escape para Bruno. A perda de sua fortuna e o casamento maluco e sem pé nem cabeça com Lorena estavam ao ponto de fazê-lo enlouquecer.

Eduardo e Luiz faziam-lhe companhia a mesa. O chope gelado e com espuma cremosa tornava a conversa prolongada.

— Você está dizendo que ela cortou o... "Jubileu" — Eduardo estava perplexo.

— Ahã. Ela estava. Ela estava de toalha e quando me viu com a garota se assustou e deixou a toalha cair — Bruno ora gostava de rememorar o incidente ora sentia-se desconfortável.

— E " parece " com a de uma mulher de verdade?

A curiosidade de Eduardo pelas partes íntimas de Lorena soava demasiada.

— Ah, cara, não reparei muito — e não por que não quis e sim pela falta de tempo até Lorena cobrir a sua nudez como pode — Mas acho que sim. O corpo de uma mulher — o tom desconfortável na fala de Bruno era uma constante enquanto comentava o tal episódio.

— Não era necessário vê-la nua para saber que Lorena tem um corpo feminino — salientava Luiz dando um gole seu chope — bastava ver o modo com que o vestido preto lhe caía muito bem desenhando suas curvas.

— Aff, Luiz , sério mesmo que têm interesse por Lorena? — Eduardo disse isso com desdém.

—Ué, ela é bonita! E agora que sei que ela mudou lá embaixo, passou a me interessar mais ainda. Nada contra, mas não curto muito... Vocês sabem ... e o fato dela ter operado facilita muito.

— Ela é um homem!! — Bruno afirmava isso mais para saber qual seria a reação dos
Colegas . Ele estava confuso e não conseguia admitir que assim como seu amigo Luiz, passava enxergar Lorena como uma mulher qualquer.

— E daí — Luiz foi enfático e seguro — Lorena pra mim é uma mulher, linda! E digo mais: seria mais fácil ela rejeitar qualquer um de nós três do que o contrário acontecer. A moça é bonita, aceitem.

— Fale por si, Luiz. Eu continuo sendo fiel a minha masculinidade.

— Eu também — Bruno acompanhava Eduardo.

— Ah é? Pois eu aposto R$5000 que nenhum dos dois conseguiria convencê-la a sair — Luiz adorava desafios e tinha certeza do que dizia.

— 5000? Se for 10 eu topo!

Eduardo não pestanejou ao dizer isso.
Bruno jurava que Eduardo recusaria aquela ideia maluca, pelo discurso que fazia até o momento. Bruno estranhou a sensação confortável de ter a ideia de chamar Lorena para sair por meio de uma aposta. Não sofreria qualquer tipo de retaliação.

— Bom se até o Eduardo topou, eu topo também. R$10.000 parece razoável.

Não estava sendo um sacrifício para Bruno aceitar aquela ideia. Mas ao mesmo tempo ele não gostava de admitir para si mesmo que havia certa empolgação no desafio.

— Mas e se perdermos? — Eduardo não acreditava que poderia perder. Se considerava bonito e dificilmente receberia um não de alguma garota. Bruno pensava o mesmo.

— Bom, se perderem, eu a chamarei para sair e nenhum dos dois poderá ficar com ciúmes!

— Ah, cara. Isso? Vai ser mole! Ela seria toda sua se não fosse R$10.000. Quanto tempo temos?

Eduardo empolgou-se. Amava desafios.

— Bom uma semana para cada. — Respondeu Luiz tragando outro gole do seu shopping.

— Acho um bom tempo — Bruno disse .

— Sim. Eu tenho certeza que ainda assim será difícil para os dois.

— Bom, eu começo, então - Eduardo tinha certeza que conseguiria na primeira semana — Espero que não fique com ciúmes por eu levar sua namorada para sair,Bruno.

— Pode até levar para sua casa, se você quiser!— o tom de Bruno beirava o desaforo — aquela coisa tem sido uma pedra imensa no meu sapato.Não faz nem 48 horas que ela apareceu e eu já sinto que vou ficar louco.

— Está reclamando de barriga cheia. Lorena não permitiu que sua família ficasse na miséria.

— Sim, Luiz. Mas quase que fui obrigado pela minha tia a aceitar esse casamento. Rolou ate chantagem emocional por parte dela.

— E por falar nela, já voltou de Paris? — Perguntou Eduardo com o mínimo de interesse.

— Sim e hoje ela quis planejar um jantar com todos reunidos. Tô até imaginando o circo que vai ser. Titia e Lorena sentadas na mesma mesa!

Um marido por contrato Onde as histórias ganham vida. Descobre agora