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Dez anos antes
Baleia era uma cadelinha que Lorena tivera quando era pequena, na chácara que morou quando nova. A encontrou num dia quando voltava da escola e a cadela passou a segui-la.
Tinha uma carinha de pidona e um olhar doce que encantaram a jovem.— E agora? O que eu faço? — Lorena afagou a cabeça da cachorra, que logo se colocou de barriguinha para cima, balançando as patas — Olha só como você é barrigudinha. Parece uma baleia.
E foi aí que a criança sentiu que não havia mais volta. Se afeiçoou imediatamente ao animal, que passara a chamar de Baleia. E aquele serzinho irracional fazia Lorena sentir-se bem, amada.
Dentro da própria casa era o contrário: o padrasto a repudiava — Lorena ainda não era Lorena, mas já dava indícios — o que fazia o padrasto tratá-la mal. A mãe era um tanto omissa e Fabiana tinha pouca idade para se manifestar.
Talvez Baleia aliviasse sua dor, sua solidão.
O único problema seria mantê-la, já que Francisco nunca aceitaria o animal, ainda mais se fosse sob pedido de Lorena.
— Fique quieta, baleia. Se ele nos pega, estamos fritas. — Lorena entrou pelos fundos da chácara com a cadela no colo.
Baleia não parava de lamber o rosto dela.
— Eu já te amo também. Mas não faça barulho.
A ideia de Lorena foi deixar por um tempo Baleia no galinheiro desativado perto do estábulo. Poderia alimentá-la ali e caso latisse estaria longe demais para ser ouvida.
Ao colocá-la no chão e ir para a porta, a cachorrinha balançou o rabo e deixou o olhar cair, como se fosse capaz de se expressar, expressar humanamente. Aparentava não querer que Lorena se fosse.
— Eu já volto, Baleia. Preciso arranjar potes para colocar água e comida para você — Lorena agachou-se e afagou a cabeça do animalzinho.
Baleia eriçou-se toda e pulou no colo de Lorena outra vez, a derrubando no chão com lambidas úmidas.
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Havia um mês que Lorena vinha conseguindo manter seu animal de estimação seguro. Baleia até aumentara de peso naqueles dias.
Nas vezes em que o padrasto não estava em casa, Lorena aproveitava para passear com Baleia, usando um pedaço de corda improvisado.
Era o momento de alegria da pequena cadelinha, que tinha uma imensa força, capaz de arrastar sua dona pelo pasto ao tentar apanhar um passarinho que voava.
— Calma, Baleia. Eu vou cair!!! — Ria Lorena toda animada.
O que os olhos de Lorena não enxergavam era seu padrasto no outro lado do pasto, atrás de uma árvore a vendo com o cachorro.
— Que merd*a esse garoto está fazendo!? Onde arrumou esse cachorro!!?
O problema nem era o animal, mas sim o sorriso estampado no rosto de Lorena. Francisco não gostava da enteada — pelos modos delicados — e não permitiria que tivesse um animal de estimação.
— Vou acabar com isso de uma vez! — Dizia o homem a si mesmo.
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Ao terminar o passeio, Lorena retirou a coleira e retornou com Baleia para o galinheiro. A cadelinha ficara entretida com um pedaço de osso que Lorena trouxera do último jantar, permitindo que a menina varresse o galinheiro e deixasse o ambiente limpo para Baleia.
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Um marido por contrato
RomanceApós comprar o próprio marido, Lorena retorna do Rio de Janeiro para a pequena Jundiaí disposta a provar a todos de seu passado que estavam redondamente enganados. A vingança é um prato que se come frio e Lorena não tem pressa alguma em degustar sua...