Capitulo 22

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— A senhora tem hora marcada? Não vejo seu nome da agenda do senhor Gutierre! — dizia uma mulher de mais se sessenta anos checando o computador atrás de sua mesa. Era provavelmente a secretaria do psiquiatra que Lorena procurava.

— Não. Não achei horário pois me disseram que a agenda estava cheia pelos próximos dois meses. Então, decidi vir aqui e tentar ver se há um encaixe.

— Pois a agenda do doutor está repleta e ele terá apenas tempo para o almoço. — disse a velha senhora muito a contragosto, com uma arrogância sucinta, agindo como se fosse o próprio médico.

— Pois eu ficarei aqui esperando. Sou medica assistente de uma das pacientes dele e preciso acessar o prontuário com urgência.

— Desculpe, senhora. Mas já devo adiantar que as informações em prontuário apenas são liberadas com autorização do próprio paciente ou o responsável legal!

Claro que Lorena sabia disso. Porém, ela precisava tentar. Sua mãe estava sob uma tutela legal concedida ao padrasto. Isso significava que ele jamais permitiria que Lorena acessasse as informações médicas da mãe.

— Certo! Vou conseguir a autorização e retornarei!

Lorena ajeitou a bolsa no ombro e saiu frustrada da pequena galeria onde ficava o consultório do doutor Gutierre. Precisava dar um jeito de conseguir as informações que queria, mas não sabia como. Não haveria tempo de entrar numa briga judicial com seu padrasto pela tutela da mãe.

Mas talvez , Fabiana, sua irmã, pudesse ajudá-la.

~*~

A escola onde Fabiana estudava era como qualquer outra escola pública estadual. Um prédio com pintura fosca e acizentada , abarrotada de alunos e com professores em falta.

Fabiana frequentava o terceiro ano do ensino médio e, apesar das dificuldades do sistema público de ensino, a jovem moça tentava seguir os passos da irmã e se tornar médica.

— E aí, esquisitona. Vai limpar a bund*a daquela sua mãe louca? — Disse Bernardo, um rapaz de sua turma que a importunava desde a oitava série. — Vocês sabiam que a mãe dela uma vez saiu pelada correndo no meio do bairro? Doida da cabeça!

Bernardo contava o ocorrido numa roda de amigos próxima a Fabiana, que estava sentada num banco no pátio durante o intervalo das aulas. Ela tentava comer seu sanduíche em paz,
Porém, o garoto falava alto o bastante para que Fabiana ouvisse e se sentisse atingida.

Ela não se importava por si. Porém, a forma com que Bernardo se referia a sua mãe e o modo como os demais riam do que ele dizia, feria a pobre menina no fundo da alma.

— Vai dizer nada, esquisitona?

Bernardo aproximou-se e ficou parado de frente para Fabiana, a observando. Os outros ficaram em volta, esperando o circo pegar fogo.

Acuada, a menina não ergueu os olhos para Bernardo. Apenas tentou mastigar seu lanche e não chorar na frente de todos no colégio.

— Deixa ela em paz, seu imbeci*l!

A voz suave e grave de Higor fez Fabiana sorrir por alguns instantes. Higor era seu amigo desde a quarta série e sempre foram muito grudados. Isso até Higor começar a namorar e Fabiana acabar ficando para escanteio.

Fabiana nutria um amor platônico pelo amigo, porém nunca se achou bonita o suficiente para um dia tomar coragem e dizer a Higor tudo o que sentia. Pior ainda foi quando sorridente, ele disse a ela sobre a nova namorada, uma garota alta e loira do segundo ano. Fabiana achou justo: Higor era alto e bonito, a outra garota também alta e bonita. O que Fabiana pensaria? Que Higor olharia para ela com um olhar para além da amizade?

Um marido por contrato Onde as histórias ganham vida. Descobre agora