~*~
— Castor, onde estão todos dessa casa? Ninguém mais virá ao jantar? — Soraya limpava a boca com um guardanapo após terminar sua refeição.
— Senhor Bruno e doutora Lorena foram para a festa do peão, madame!
— Que doutora? Doutora é quem tem doutorado, Castor! Lorena é só uma qualquer! — Desdenhava Soraya tomando um pouco do vinho de sua taça.
Apesar da ruína financeira, a megera não abria mão de suas mordomias. Até mesmo as economias que mantinha escondidas do marido estavam se esvaindo. O problema é que desviara tanto dinheiro da empresa, que não havia mais o que roubar.
— Que bobagem, Soraya. Todo mundo costuma se referir a um médico como doutor ou doutora. Talvez devesse encontrar uma outra maneira de desmerecer a moça!
Castor permanecia em pé ao lado da mesa esperando ser dispensado. Porém, queria muito assistir a discussão entre o casal que estava prestes a se iniciar.
— Que moça, Balthazar? Você também vai se render aquele ser pecaminoso? Vai abrir mão de seus valores morais?
— Ah, meu docinho, isso de moralidade já se foi há muito tempo. Quando vendemos nosso sobrinho por dinheiro. Agora é só deixar que Bruno e a esposa se entendam!
Irritada com a defesa que o marido fazia de sua mais nova inimiga, Soraya elevou o tom de voz:
— A cada momento isso piora. Ela jamais será esposa do nosso sobrinho. Ela é um homem, se esqueceu? Seria algo abominável aos olhos de Deus!
O mordomo ainda permanecia parado feito uma estátua, olhando com canto dos olhos, ora para Soraya, ora para Balthazar. Castor não se contentava em apensas ouvir a briga, queria ver as expressões. Isso tornaria tudo mais verossímil quando fosse fofocar com os outros empregados na cozinha.
— Eu não entendo, Soraya! Todo domingo aprendemos nos cultos que o amor ao próximo deve vir em primeiro lugar! As vezes acho que você odeia a pobre garota. Não sei o que ela fez ou deixa de fazer da vida, mas se decidiu ser uma mulher, que seja respeitada. E outra, temos problemas maiores que esses para perdermos tempo decidindo se Lorena é ou não uma moça!
Soraya não acreditava nas palavras que ouvia do marido. Geralmente ela conseguia domá-lo e vencê-lo nas discussões. Porém, daquela vez, Balthazar não se intimidava e defendia Lorena. Além disso, o falso moralismo que Soaraya propagava sobre si, não estava surtindo efeito como antes fazia. Tanto que, Em alguns momentos, até mesmo a própria megera acreditava nas palavras vazias de moralismo que proferia.
— Pecado sempre será pecado, meu marido! Por isso que esse mundo está completamente perdido. Por pessoas como você que se deixam corromper com as vaidades desse mundo!
— Disse a mulher que está vestindo Prada num jantar domiciliar e bebendo vinho chileno de uma safra de sabe-se lá quando! — O homem girou o líquido na taça, o observando se
Mover, e tragou um gole satisfatório da bebida saborosa.— Safra de 2003, senhor! — Completou Castor todo sorridente.
Nisso o mordomo fora finalmente percebido. Soraya o olhou com fogo nos olhos, fuzilando o rapaz.
Castor pigarreou.
— Se precisarem de mim, estou na cozinha! — E saiu da sala de jantar.
— Olha, sinceramente, Balthazar, eu vou me deitar. Essa conversa absurda que estamos tendo atacou minha enxaqueca.
Balthazar não iria correr atrás dela como a megera esperava. Pelo contrário, permaneceu sentado na mesa e espetou mais um pedaço de ravioli.
— Segunda pela manhã estará ocupada, Soraya?
ESTÁ A LER
Um marido por contrato
RomanceApós comprar o próprio marido, Lorena retorna do Rio de Janeiro para a pequena Jundiaí disposta a provar a todos de seu passado que estavam redondamente enganados. A vingança é um prato que se come frio e Lorena não tem pressa alguma em degustar sua...