ÚLTIMO CAPITULO - FINAL

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~*~

As turbinas de aviões decolando e aterrissando no aeroporto levavam a mente de Lorena para longe, bem mais longe que o Rio de Janeiro. Fazia com que fosse para o passado, distante. Um filme passava em sua cabeça, lembrando da escola, do ambiente tóxico de convivência com o padrasto, do diversos bullyings que sofrera ao longo da vida. Até o dia em que fora expulsa de casa por Francisco e partiu para o Rio de Janeiro com ajuda da pastora Joana.

Ela estava voltando para terras cariocas, como há dez anos, rica, dona de múltiplas
Clínicas pela cidade maravilhosa. Todavia,
Com um vazio no coração, pois nada disso seria capaz de tirar a tristeza de seu peito, dinheiro algum a livraria da angústia de partir sem poder ser feliz com o grande amor de sua vida.

"Pastora, me responde. Há dias que tento falar com vc. Entendo que esteja em um retiro, mas dê algum sinal de vida, por favor! Estou indo embora da cidade e tudo que queria seria um conselho e um abraço seu. Bjs"

Nenhuma resposta fora recebida. A mensagem pareceu não ter chegado até o celular da pastora Joana.

Lorena sentou-se de frente para seu portão de embarque e olhou para o QR Code de sua passagem na tela do celular. Tanta gente a sua volta naquele saguão de aeroporto e ela se sentia completamente só, com um vazio inexplicável. Será que a felicidade nunca chegaria até ela?

Lorena pensava que fora uma pessoa tão boa, lutou por anos, chegou aonde muitos não chegariam e tudo que desejava era ser amada como a mulher que acreditava ser. Mas parecia um sonho distante. Ser trans num país como o Brasil não tornaria esse desejo uma realidade muito fácil.

— Atenção senhores passageiro, voo com destino ao aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro está com embarque liberado. Tenham documentos em mãos. A todos uma boa viagem! — Anunciava um mulher ao microfone .

~*~

— Aonde vai, Castor? — Celeste esbarrou com o mordomo na cozinha.

— Oras, vou ao bar com Georgetti. Serei um homem desempregado assim que senhorita Soraya sair daquele quarto! Então não terei que levantar cedo amanhã...— Castor não perdia a pompa.

Celeste ainda ria lembrando-se do que fizeram com Soraya. Da música com baixaria que puseram para tocar.

— Olha, tudo foi divertido, peste! Nunca achei que diria isso, mas, obrigada por tudo!!! Acho que sentirei a sua falta!

Era um clima de despedida. Os dois empregados — Apesar das discordâncias constantes — acostumaram-se um ao outro. No final tudo sempre funcionava.

— Devo dizer o mesmo... Velha coroca!

Celeste franziu o cenho forçando uma indignação

— Bicha má! — Ela aproximou-se dele — E caso não tenha emprego, saiba que senhorita Lorena ficaria grata em tê-lo no Rio de Janeiro conosco!

Castor revirou os olhos.

— Eu não me daria bem na sua cidade. Eu jamais falaria biscoito em vez de bolacha! Não é para mim!

A empregada gargalhou.

E então, com um sentimento saudosista, os dois se abraçaram em frente a copa.

~*~

A fila de carros em frente ao setor de embarque de acesso ao aeroporto de Viracopos era gigantesca. Bruno já estava com a mão na maçaneta para abrir a porta.

— Calma, meu filho. Vai sair com o carro em movimento??? — Balthazar esticava o pescoço procurando um lugar para parar.

— Ela vai partir, tio. Partir! Que drog*a!!!

Um marido por contrato Onde as histórias ganham vida. Descobre agora