Capitulo 20

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O escritório estava com um falatório que incomodava Bruno. Ele Ajeitou o nó da gravata e jogou a sua mala sobre a cadeira que mais parecia uma poltrona.

O ar condicionado devia estar com defeito, pois já sentia calor, o que o fez tirar o paletó e ajeitá-lo num cabide pendurado no armário ao lado da mesa. Já deixava o cabide lá porque odiava amarrotar suas roupas.

— E aê? Posso entrar?

Bruno não estava nem um pouco com paciência para os papos furados de Eduardo.

— Acho que já entrou, não é?

— Caramba, que mau humor!

— Só não dormi bem, cara. Preciso de um café pra ver se desperto de vez. Vários processos para analisar.

Na verdade, Bruno passou boa parte da madrugada rolando de um lado para o outro na cama pensando no que acontecera entre Lorena e ele em seu quarto enquanto tentava recuperar o frasco com o p*ó de mico. Sua agonia era por se questionar se havia sentido algum tipo de desejo por sua esposa. O corpo dela tão próximo ao seu fez despertar pensamentos que ele não imaginava poder ter com relação a Lorena.

Essa era a razão do mau humor. Havia um conflito em suas ideias: Lorena era muito bonita e charmosa, mas ao mesmo tempo era trans. Um dilema que o jovem advogado não conseguiria resolver tão cedo e que, pelo contrário, parecia ficar mais complexo a cada hora que passava.

— Ultimamente tenho dormido mal. Peguei alguns processos trabalhistas e estou muito arrependido. Mas enfim, não quero desapontar a chefia. — Eduardo deu uma tosse forçada e pigarreou — Bom, Brunão, não sei se lembra que ainda estamos na aposta...

— Claro, ainda estamos. Não me esqueci. O que tem?

— Bom, vai ter a festa do peão em Cajamar e vou levar Lorena. Digo, convida-la.

Uma sensação tomou conta de Bruno. O coração disparou e os dentes se apertavam uns contra os outros. Seria estranho dar um murro em seu amigo?

— Não acho que Lorena vá aceitar. Mas pouco me importa. Nem sei porque está me contando isso.

— Ela é sua esposinha. Não seria de bom tom levá-la pra passear sem comunicar ao marido! — Estava demorando para Eduardo soltar alguma ironia e deboche.

— Vai se ferrar, mané! — Bruno sentou-se em sua cadeira e abriu um jornal colocando os pés esticados sobre a mesa.

Fez isso para não transparecer a raiva. E já não parecia mais ser porque Eduardo ironizava o fato dele ser casado com Lorena. Naquele instante o advogado se ressentia por imaginar a esposa aceitando o convite de Eduardo para o tal rodeio.

— Creio então que não se importa. Hoje devo ir à sua casa para fazer o convite pessoalmente. Me dá uma carona?

— Claro. Vou sair às seis — Bruno não tirou os olhos do jornal, ainda tentando disfarçar o sentimento horrível que havia dentro de si.

— Ótimo. Cinco para as seis bato aqui de novo. Até mais, garanhão! — Eduardo bateu continência como sempre fazia e foi para a própria sala.

Um marido por contrato Onde as histórias ganham vida. Descobre agora