Pombinhos

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"O que o ser humano mais deseja é ser desejado por outro ser humano."

Jacques Lacan

Olhando Miguel e Sophia lado a lado, Yasmin se amaldiçoou mentalmente. Até o momento todos os seus planos falharam.

Sua ideia ao declarar gelo total a Almeida era para constrangê-la, faze-la se sentir péssima por ser desprezada pelas colegas, para que se afastasse pelo menos um pouco de Miguel, mas em vez disso causara uma maior aproximação. Porque Miguel saíra de seu lugar no fundo da sala para fazer dupla com a Almeida? Nunca agira assim com as outras garotas com que ficara. Nunca se importara que fossem hostilizadas pelas colegas. O que Sophia Almeida tinha de especial para que fosse tratada de modo diferente?

— Se eu fosse você desistia.

Encarou o colega, Mauro, com quem fazia dupla, com raiva.

— Não preciso da sua opinião Mau, eu sei o que faço.

— Se soubesse mesmo não pediria ajuda da Leona. Aquela moça é estranha, problemática.

— Pra você qualquer mulher é problemática — Yasmin resmungou revirando os olhos.

O Ruiz não disse mais nada. Sabia que Yasmin não mudava de ideia facilmente e preferia esquecer o que vira antes da entrada do colégio, não contaria a amiga por que tinha certeza que Yasmin espalharia por todo o colégio, e tinha pavor de fofocas. Sempre geravam problemas.

~*S2*~

Arrastando André pela mão pelo pátio do colégio, Marina encontrou seu alvo sentada em uma mesa ao lado de Miguel. Não pareciam muito animados e até se encontravam um pouco afastados um do outro.

— Podemos sentar com vocês?

Antes que respondessem empurrou André para uma cadeira e se sentou rápida ao lado do namorado.

— As aulas até agora foram muito chatas, não acha Soph?

Sophia encarou Marina surpresa. A colega falava muito pouco com ela, normalmente só na sala de aula, mas gostou de pelo menos uma garota no colégio lhe dirigir a palavra.

— Gostei da aula da professora Kátia — respondeu sorrindo.

— Eu vi você e o Miguel praticando pra quando se casarem — brincou André rindo e fazendo Sophia ficar vermelha de vergonha.

— Você só fala asneira, seu idiota.

— Porque você sempre me insulta, Miguel? Devia estar feliz por ter alguém que sabe cozinhar como dupla, enquanto eu...

— ANDRÉ?! O QUE TÁ TENTANDO INSINUAR? — gritou Marina se voltando furiosa na direção do namorado.

— Calma, Marina... Espera eu completar a frase... Enquanto eu... — Colocou as mãos na frente do corpo se protegendo da fúria no olhar da namorada e pensando rápido numa maneira de não levar uns sopapos dela. — ...Fazia dupla com a garota mais linda de todo o mundo.

— Bom mesmo ser isso que iria dizer — Marina ameaçou voltando a se sentar.

— Claro que era isso — afirmou André com um sorriso enorme e forçado no rosto. — Você sabe que é a garota mais linda do universo pra mim.

Sorrindo encantada, Sophia não conseguiu evitar admirar o rapaz bem a sua frente, ele era tão lindo, seus cabelos loiros pareciam tão macios e seus olhos azulados eram tão vibrantes. Não havia no mundo alguém que transmitisse tanta alegria só com o olhar, nem que tivesse tanto carisma. Marina era tão sortuda, queria receber o olhar caloroso e amoroso dele, ouvir que era a garota mais linda do universo para ele.

Pulou de susto ao sentir a mão de Miguel entrar embaixo de seu casaco e sem pudor se infiltrar por debaixo de sua blusa, tocando sua pele. O encarou vermelha e ficou ainda mais, se é que era possível, ao receber um sorriso de canto sedutor, enquanto a mão dele percorria a lateral de sua cintura até as costas, tocando sua pele e causando arrepios por todo seu corpo.

Miguel, por sua vez, estava adorando tocar à pele macia da namorada e ainda mais em ver a reação dela. Pelo menos algum efeito causava na jovem que até alguns momentos atrás suspirava, e alto, para a besta do André, que novamente era o único que não percebera. Marina notara, até sorrira para ele com cinismo como se dissesse: "Sophia ainda é doidinha pelo André". Isso o irritava as raias da loucura, mas agora vendo a Almeida encara-lo com o olhar meio perdido, as faces rosadas e parecendo confusa pelo que ele lhe fazia sentir, esqueceu toda a irritação e desejou estarem a sós em outro lugar.

Miguel puxou Sophia para mais perto, beijou-a na curva do pescoço, mordiscou-lhe a orelha e sussurrou em seu ouvido:

— Te quero de uma forma que ele nunca vai querer.

Os olhos âmbares fitaram os ônix, a face em brasa, tanto pelas palavras que foram ditas de modo provocante, quanto pela mão que continuava acariciando sua pele nua. Naquele breve instante se perdeu na escuridão presente no olhar de Miguel, esquecendo por alguns segundos onde estavam.

— Hey, imbecil, aqui é um local público, lembra?

André riu com a cena. Até para ele estava ficando claro que aqueles dois eram loucos um pelo outro. Ia comentar isso com Marina, mas ao olha-la notou que estava pálida demais, os olhos vidrados.

— Você está bem, Marina? — quis saber balançando a mão na frente do rosto dela até fazê-la olha-lo.

— Sim, estou — declarou com um sorriso forçado, pensando internamente: "Não, não estou".

A ideia de Yasmin de se aproximar do casal se tornara uma tortura para Marina. No começo até achara bom atrapalhar os "pombinhos", principalmente quando notou que Sophia ainda sentia algo por André e que isso incomodava Miguel. Então, de repente, Sophia deu um pulo do nada, olhou para Miguel carmim, recebendo um sorriso que nunca vira antes na face gélida do rapaz, então se seguiu sussurros, carinhos e olhares... Combinação que lhe dava embrulho no estomago.

— André, vamos pra algum lugar pra ficarmos sozinhos? — "De preferência bem longe desses dois?".

— Claro! — André se levantou depressa. — Até, Miguel, Sophia.

— Até!

Respondeu Miguel sem olhar para os amigos, seus olhos fixos nos de Sophia, que não notou os colegas partirem de tão hipnotizada pelos orbes negros do namorado. Só despertou quando Miguel se afastou. Era impressão sua ou esfriara de repente?

— Deveria se controlar mais — ele resmungou desviando o olhar.

— Con-controlar?

— André não notou seus olhares apaixonados pra ele, mas Marina com certeza notou.

Sophia abaixou a cabeça e encarou as próprias mãos.

— De-desculpe... — Deu um sorriso triste — Sabe, por ele me tornei uma pessoa melhor, ele me motivou a ser melhor. — Uma lágrima desceu solitária por seu belo rosto. — Passei tanto tempo observando a determinação dele, tentando copia-lo e o amando, que é difícil não desejar estar no lugar da Marina.

Três coisas passaram pela cabeça de Miguel. Primeiro: Deveria ter mantido a boca fechada e evitado aquela conversa; Segundo: Namorar Sophia agora se tornara uma péssima ideia; Terceiro: Tinha uma vontade enorme de beija-la até que ela esquecesse André definitivamente.

Era tarde demais para evitar a primeira, não conseguia se arrepender totalmente da segunda e a terceira... Acariciou o rosto de Sophia com ambas as mãos, voltou a se aproximar dela e reivindicou os lábios de Sophia num beijo caloroso.  

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now