Minha

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"Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...".

Mario Quintana

Ouvindo Sophia enumerar todos os motivos que fora estúpido terminar com ela, Miguel perguntava-se o motivo dos colegas ficarem de espreita e por qual razão não interrompia o monologa da Almeida. Ela, mesmo que indiretamente, o insultara pelo menos umas doze vezes enquanto falava, no começo gaguejando, depois com segurança e até um pouco de fúria. Não conhecia esse lado dela, um lado que conseguia a proeza de deixa-la mais linda. Talvez por isso continuasse em silêncio, só por perceber que isso a irritava ainda mais.

Sorriu de canto quando ela disse com todas as letras que o considerava um cretino arrogante por terminar a relação deles sem conversar com ela corretamente. Antes daquela conversa, tivera certa desconfiança de que Leona exagerara no ocorrido no banheiro feminino, mas agora começava a acreditar na palavra da ruiva. E ficava feliz por isso.

Sophia parou de falar respirando com dificuldade. Nunca falara tanto em sua vida. Contara sobre a desolação que tivera desde que romperam; Disse como ele a fizera se sentir imprestável por considera-la fraca demais para se proteger sozinha; Explicara que as garotas do fã clube tinham pedido desculpas e dito que a deixariam namora-lo em paz; Que Leona não era mais um obstáculo, pois tinha dito que iria para um internato; Desatara a falar e nem tinha muita certeza do que falara, simplesmente colocara tudo que tinha entalado na garganta para fora.

— E-eu fui ao médico – contou sentindo a garganta seca. Esperou alguma reação do Rodrigues e alegrou-se quando ele a observou curioso. Cansara de falar para um perfil de mármore. – Recebi várias recomendações, terei acompanhamento e sempre irei carregar o remédio para o caso da minha alergia atacar novamente. – Puxou para frente do corpo a pequena bolsa de pano em que guardara o remédio. – Esse problema não existe mais, tomarei cuidado redobrado de hoje em diante. – O encarou e concluiu: — Se persistir em não ser mais meu namorado é porque não me ama. Qual é a sua decisão?

O silêncio dele fez com que tivesse vontade de chorar, mas aguentou firme e levantou-se, seu movimento sendo seguido pelo olhar de Miguel, que continuou no mesmo lugar. Ótimo, aquela posição lhe parecia perfeita, pois quem tinha de olhar para cima era ele.

— Essa não sou eu – murmurou com a voz embargada, ao que ele estreitou o olhar, confuso com o que dissera, então explicou: — Essas roupas podem atrair a atenção masculina, mas não são minhas...

— Reparei – ele a interrompeu com tom crítico, mas se calou novamente dando a ela a oportunidade de continuar.

— E essa maquiagem não combina comigo. Essa não sou eu – repetiu. – Eu não desejo ser assim.

Miguel anuiu. Preferia a Sophia de antes, não que ela não pudesse usar roupas curtas, mas aquela blusa estourando os botões era um insulto à palavra roupa. E ela era linda, com ou sem maquiagem. Tivera vontade de degolar os colegas que não paravam de elogiar o novo visual dela apenas por desejarem seu corpo, quando ela merecia que alguém a amasse pelo que era por dentro. Quando ele queria ser esse "alguém".

— Amanhã serei Eu novamente, uma pessoa que pode até olhar de longe quem ama, mas não fica implorando por algo que não pode alcançar. – Abriu o blazer na altura do peito e retirou da blusa o broche que ganhara de Miguel. Umedeceu os lábios para finalizar com algo que Yasmin lhe recomendará, algo que também não era "ela", afinal, naquele dia tinha dado um descanso para a antiga Sophia: — Talvez até aceite namorar o Davi.

Estendeu a pequena peça para Miguel.

Ele olhou para o amuleto pousado na mão pequena de Sophia. Toda simbologia do presente rodopiando em sua mente. Sentia como se ela lhe devolvesse o coração. Além disso, algo dentro de si se contorcia, fervilhava. Supôs ser a raiva por imaginar Sophia com Davi, se acariciando, beijando e amando, enquanto ele era esquecido aos poucos.

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now