Princípio

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"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem".

Antoine de Saint-Exupéry

Do lado de fora, Cássio, que vira a ruiva entrar no banheiro e acompanhara com os olhos André e Miguel correrem para dentro do recinto para garotas pouco depois, ao ver Leona escorada, se aproximou e trocou de lugar com a garota que a ajudava a se manter erguida. Ao envolver a cintura da ruiva ela gemeu de dor, então a fez passar um braço sobre seus ombros e a segurou de leve pelas costas.

— O que houve?

Com os olhos úmidos, Leona contou o que acontecera, omitindo que ela que avançara primeiro e que Miguel nem mesmo se importara ao vê-la machucada por culpa da Almeida.

— Aquela coisinha pequena e com cara de anjo te fez isso?

— Ela é um demônio com mão de ferro – choramingou sentindo o tronco dolorido.

— Aqui está você, te procurei por toda parte... – Leona e Cássio acompanharam Saulo se aproximar e olhar desconfiado para os dois.

— Ela caiu no banheiro – mentiu Cássio para evitar que a ruiva ficasse ainda mais encrencada com os pais. Se a Almeida realmente ferira Leona era porque fora provocada.

Leona reclamou da dor e Saulo a pegou no colo.

— Volte para sua aula – ordenou para Cássio, informando ao reparar na expressão preocupada do filho. — Levarei Leona comigo ao hospital para que seja examinada.

Andando com a filha reclamona nos braços, Saulo respirou profundamente. E Antônio desejava adotar mais uma criança...

*S2*

Como tudo no colégio, o ocorrido no banheiro feminino não ficou em segredo e logo se espalhou pelos ouvidos e lábios dos alunos do Flores, porém, todos achavam que fora uma fantasia da Leona, mas uma trama ardilosa para prejudicar Sophia.

Sophia agradeceu sua fama de frágil, ninguém acreditava que ela tocara em um só fio de cabelo de Leona, nem mesmo a garota que saíra do banheiro a procura de Miguel quando escutara Leona ameaça-la e, ao retornar, vira a ruiva rolando de dor no piso de azulejo. Segundo a menina, Leona fizera drama para atrair a atenção do Rodrigues.

O sinal dando fim às aulas daquele dia soou, começou a gritaria no corredor e Sophia arrumou seu material na mochila, levantou ao se virar corou ao ver Miguel parado a sua frente.

Tivera outro avanço naquele dia, na volta do intervalo ele voltara a ocupar o lugar ao seu lado. Tudo indicava que a acompanharia até a saída. E foi o que aconteceu, seguiu para a saída com ele ao seu lado, uma mão pousada de leve em suas costas. Ao ultrapassar os portões ficaram um de frente para o outro, Sophia corada até a alma, Miguel com uma expressão que não denunciava o que se passava em sua mente. Então, sem dizer uma única palavra, ele lhe deu as costas e começou a se afastar.

Sophia engoliu em seco, andou decidida até ele e o segurou pela camisa, o coração palpitante lhe dando a impressão que sairia pela boca.

— Po-podemos... Co-conversar...?

Ouviu o som da expiração forte, os ombros do Rodrigues abaixaram de leve e ele se virou, os olhos negros inexpressíveis caindo sobre sua figura, pateticamente rubra e usando o blazer dele por cima do uniforme danificado.

Ele assentiu com a cabeça e Sophia sorriu aliviada. Pelo menos dessa vez ele a escutaria.

Seguiram para a praça em frente ao colégio e sentaram em um dos bancos. De imediato a lembrança do primeiro beijo deles dominou a mente da Almeida, despertando a esperança de que Miguel também sentia a sensação boa daquela recordação e abrisse o coração para ele poder entrar novamente em sua vida.

De volta ao princípio no que podia ser sua última oportunidade de reatar o namoro, a última e decisiva.

*S2*

Observando tudo de uma distância segura, Yasmin, Leonardo, Marina e André conseguiam só ver as costas do casal e que a única a falar era a Almeida, pois ela se voltava para o perfil do Rodrigues a todo o momento, dando a eles a visão de seus lábios se movendo.

— Isso é bom? – Marina perguntou para André.

— Pode ser – respondeu recordando em seguida: — O Miguel não é muito de falar.

— Parece uma estátua de tão rígido, nem olha pra ela – comentou Yasmin, temendo pela primeira vez que seu plano não desse certo.

— Talvez esteja com vergonha – disse André.

— Miguel com vergonha? Só um cabeça oca como você pra pensar isso.

— Só eu posso falar assim do meu namorado.

— Isso não é uma defesa, Marina – objetou André chateado. Pelo jeito nunca teria o respeito dos amigos e nem o da namorada.

— Calma, querido, você é o cabeça oca mais lindo do mundo – Marina disse antes de lhe dar um selinho.

André não se ofendeu. Enquanto ela lhe desse beijos amorosos, a namorada podia chama-lo do que fosse.

— Ah, o amor aceita qualquer coisa – provocou Yasmin, recebendo um olhar irado da Limeira.

— Verdade, só assim pra você arranjar alguém.

— O que tá insinuando.

— O que acha?

— Querem parar com a discussão infantil? – pediu Leonardo assustando André, que olhou para o lado e perguntou surpreso:

— Cara, você tá ai há quanto tempo?

Leonardo respirou profundamente. Pelo menos um deles quatro conseguia passar despercebido. As três matracas sequer perceberam que o Rodrigues virara o rosto uma única vez e fora para verificar de onde vinha o som das vozes exaltadas.


Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now