Cachorro

44 8 0
                                    

"Nossas vidas são definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de surpresa."

Bob Marley

O fim de semana chegou e, habituado devido o horário escolar, Miguel acordou cedo, se sentou na cama e pensou que teria um longo fim de semana sem nada para fazer pela frente. Desejava ir até a casa de Sophia, mas não queria demonstrar que já sentia falta da presença dela e não tinha nenhuma desculpa inteligente para procura-la. Dizer que sentia saudades em tão pouco tempo separados estava fora de questão.

Consternado se trocou, escovou os dentes e desceu as escadas devagar em direção à cozinha para tomar seu café da manhã, mas Lucas barrou sua passagem com um sorriso enorme no rosto e uma caixa de papelão na mão.

— Bom dia, maninho! Olha o que trouxe para você. — Estendeu a caixa para Miguel.

Olhando desconfiado para a caixa, Miguel teve dúvidas se deveria ou não pegar o objeto. Boa coisa nunca acontecia quando seu irmão decidia presentear sem motivo. Não que achasse que Lucas seria capaz de lhe dar uma bomba, por exemplo, mas nunca se sabe vindo do irmão mais velho...

Decidiu pegar a caixa, mas do nada a caixa se mexeu sozinha e espantou o Rodrigues mais novo.

— Me mostra primeiro o que tem ai dentro — mandou mantendo distância.

Lucas riu.

— A garota com quem estou saindo tem um cachorro que se multiplicou. — Abriu a caixa e tirou um cachorro preto com manchas brancas nas patas e no peito. — Quando vi esse achei a sua cara e decidi pedir ele pra você.

Sério, sem achar a menor graça nas palavras do irmão, Miguel se aproximou e olhou o cachorro com desdém.

— O que vou fazer com um cachorro?

— Não sei... — Lucas sorriu, indicando: — O use como desculpa para encontrar a Sophia.

Franziu o cenho. Lucas agora lia pensamentos?

— Que tal dar ele para ela? Para que quando ela olhe a carinha de cachorro molhado do Migue se lembre de você.

— Você deu o nome de Migue para o cachorro? — perguntou com uma veia pulsando na testa.

— Sim para combinar com o seu. — Foi a resposta acompanhada de um sorriso cheio de dentes.

Só não deu uma resposta mal criada porque a ideia de dar o cachorro a Sophia era boa.

— E, então, quando vai trazer a Soph aqui, hein? — quis saber Lucas colocando o braço em volta dos ombros do irmão caçula. — Quero trocar umas ideias com a minha bela cunhadinha.

Não gostou do modo com que Lucas dissera "trocar umas ideias". Conhecia o irmão bem o suficiente para saber que assim que Sophia pisasse os pés dentro daquela casa seria paquerada por ele, então haveria um Rodrigues a menos no mundo. Porque confessara ao seu irmão idiota, que tinha a mania de ficar de olho nas garotas com que se relacionava, que estava namorando? Ah, sim, porque fora o único jeito de convencê-lo a pagar a moto. Lucas sabia que métodos usar para obter o que queria. Mas era bom que Sophia não estivesse nos planos dele.

Afastou-se do irmão e se apressou em tomar o café. Logo já estava sobre sua moto, com o cachorro dentro de sua jaqueta preta, ansioso em encontrar Sophia. Ela se surpreenderia em vê-lo e ainda mais com o cachorro, pensou enquanto se aproximava da residência dos Almeida. Porém, quem se surpreendeu foi Miguel ao ver Sophia em frente ao portão abraçada a Davi Guerra.

Espumando de raiva, decidiu que daquele dia em diante teria um rival a menos.

~*S2*~

O sino de vento preso na janela balançava ao sabor da leve brisa, o tilintar que produzia acordou aos poucos Sophia que adorava despertar com aquele som. Espreguiçou-se devagar, abriu os olhos ambares e se sentou na cama apreciando o efeito que alguns feixes de luz solar davam as paredes brancas de seu quarto. Queria poder dormir mais um pouco, ficar mergulhada nos mundos dos sonhos onde tudo era perfeito, onde seus problemas eram quase nulos e onde certo namorado de orbes ônix se tornara cada vez mais presente. A cada dia se apegava mais ao namorado e isso a preocupava um pouco, afinal, a ideia dele fora afastar seu fã clube e não ter mais uma adepta.

Respirando fundo, Sophia se levantou e foi até o banheiro escovar os dentes, lavar o rosto e pentear o longo cabelo, depois voltou pra o quarto e trocou o pijama lilás de algodão por calça capri de jeans, camisa branca e um casaco lilás, antes de descer para tomar o café da manhã com a família, porém só encontrou Olívia na sala de jantar, comendo bolachas com leite.

— Onde estão o Nathan e o papai?

— O Nathan saiu pra fazer um trabalho da faculdade e o papai tá na empresa, como sempre. — Olívia olhou pra irmã mais velha com atenção. — Acordou tarde... tava sonhando com o Miguel, né?

Olívia riu quando a face da irmã ruborizou. Adorava provoca-la.

— Ah, você tem tanta sorte, queria poder ter um namorado tão sexy e...

Foi interrompida pela chegada de Iara, uma mulher baixinha, de cabelos castanhos presos em um severo coque, olhos negros e expressão sempre séria, contratada há alguns anos para ser a governanta da residência.

— Sophia, seu amigo Davi Guerra deseja lhe falar.

— Pode pedir que entre.

— O senhor Guerra venho com seu cão — comunicou Iara com desprazer.

Olívia soltou uma risada baixa, mas não o suficiente pra Iara deixar de ouvir e fechar ainda mais a expressão. Sophia entendia Iara, da última vez que Bob entrara na casa foi uma verdadeira tragédia, com direito a perseguição ao cachorro descontrolado, móveis com forte odor de urina, prataria danificada e, por fim, mas não menos importante, o rosto de Iara ficou lotado de baba canina, pois Bob lhe deu uma super lambida quando a governanta finalmente conseguiu segura-lo. Por tudo isso, Bob estava proibido de passar das portas da entrada. Sophia adorava o cão de pelugem branca e olhos negros que Davi levava a todo lugar por considerar ser seu melhor amigo, por isso sentia muito por essa proibição, mesmo que tivesse sido justa.

Levantou-se e seguiu até o lado de fora da casa acompanhada por Olívia para encontrar o amigo. Assim que passou pela porta foi recebida com um abraço entusiasmado de Davi e um latido de alegria de Bob.

Foi nesse exato momento, enquanto era envolvida em um abraço apertado de Davi, que ouviu o som de uma moto freando bruscamente a suas costas. Com esforço conseguiu se afastar um pouco dos braços de Davi, embora ele mantivesse um dos braços em sua cintura, para virar-se e dar de frente com Miguel descendo da moto, os olhos vidrados em Davi com a expressão ainda mais emburrada ou zangada que o normal, na verdade, tinha certeza que eram as duas coisas que bailavam no rosto do Rodrigues.

Meu Coração quer Amar e ser AmadoDove le storie prendono vita. Scoprilo ora