Meu Coração quer Amar e ser Amado

Abelha

"Dizem que a vingança é doce; à abelha custa-lhe a vida."

Carmen Sylva

Depois de um dia voltado para se embelezar, com hora no cabeleireiro, manicure, pedicure, algumas compras básicas e tudo que uma garota podia desejar, Yasmin se olhava no espelho de corpo em seu quarto, apreciando sua belíssima imagem trajando um vestido tomara que caia amarelo justo na cintura e com saia rodada que terminava acima de suas coxas, quando uma das empregadas a chamou.

— Senhorita Yasmin, tem um rapaz a sua procura na sala.

— Mauro ou Carlos? — quis saber citando seus melhores amigos que sempre iam visita-la.

— Se chama Leonardo e disse que é seu colega de escola — informou a empregada.

Espantada porque nunca recebera a visita de Leonardo antes, Yasmin ficou indecisa se falava ou não com o estranho colega, mas sua curiosidade venceu e decidiu descobrir o que o Moreira fazia em sua casa.

Aproximou-se do garoto e antes que abrisse a boca para falar qualquer coisa ele estendeu o braço chamando a atenção de Yasmin para um pequeno objeto na palma de sua mão. Percebeu que se tratava do cartão de memória que ele roubara de Leona.

— Apaguei as fotos e vim te devolver, por quê? Porque creio que é seu.

— Não sei do que está falando — declarou encarando os óculos grossos do rapaz. — Esse negócio não é meu.

Leonardo pegou sua mão e colocou o objeto nela.

— Talvez não seja, mas decidi devolve-lo a rainha da colmeia em vez da operária.

"Ele tá me comparando com uma abelha?", pensou insultada por um momento, antes de se sentir um pouco lisonjeada por ser considerada uma abelha rainha pelo menos.

— Olha, realmente não sei do que está falando, mas gostei da comparação — declarou esfregando as mãos no peito de Leonardo.

Não sabia o que se passava por detrás daqueles óculos, mas ninguém resistia ao seu charme e sua beleza.

— Ótimo que goste da comparação. — Leonardo segurou suas mãos e as afastou. — Porque quero que diga a suas operárias que parem de perseguir a Sophia, de tentar estragar o relacionamento dela com Miguel e de envolver Davi no meio de suas armações. — Pelo tom de voz deixou evidente de que se tratava de uma ordem, não um pedido.

Observou irada Leonardo se retirar com jeito de dever cumprido, como se ela fosse obedecer um esquisito metido a defensor dos pobres e oprimidos. Sorriu enigmática, uma ideia se formando, pois podia entender muito pouco sobre abelhas, mas tinha certeza que a rainha sempre terminava matando os zangões. Leonardo era um zangão bem atrevido.

* S2 *

Fazia algum tempo que Sophia chegara e correra para seu quarto, seu pai não apareceu para esbravejar sobre a hora que retornara o que significava, para seu alívio, que ele ainda não chegara em casa. Ouviu batidinhas na porta de seu quarto e ao ouvir a voz de Olívia pediu para que entrasse, mas antes que a irmã a enchesse de perguntas seu celular, que permanecia esquecido no apoio sobre o criado mudo, começou a tocar. Adorou ouvir a voz de Miguel.

— Queria saber se chegou em segurança?

— Sim.

Estranhou que ele lhe telefonasse, jamais fizera isso antes.

— Que bom... — Miguel disse antes de mudar de assunto. — André nos convidou para ir ao cinema amanhã...

Sophia pensou ter notado insegurança na voz de Miguel, mas logo descartou a ideia. Ele jamais mostrava insegurança. Com certeza tivera essa impressão porque ela estava insegura, aquele seria o primeiro encontro deles como namorados fora do ambiente escolar ou de suas casas.

— Você quer ir? — ele perguntou após um breve silêncio na linha.

— Si-sim.

— Então nos vemos amanhã.

— Sim.

O ouviu rir divertido.

— Soph, preciso só de mais um sim seu.

Agradeceu que ele não pudesse vê-la, seu rosto queimava por ter reparado que até o momento tinha falado em monossílabas e todas tinham sido sim.

— Sonhe comigo.

Um leve sorriso iluminou seu rosto diante do pedido inesperado e não teve dúvidas ao dizer "sim" antes da ligação ser encerrada.

— Quem era? — quis saber Olívia curiosa.

— Miguel...

— Pela sua cara de boba alegre fizeram as pazes, né?

— Sim e vamos ao cinema amanhã.

— Sozinhos?

Algo presente na voz de Olívia fez Sophia se sentir encabulada, dava a impressão que iria se agarrar ao namorado no escurinho do cinema.

— Marina e André estarão conosco.

Olívia torceu o nariz descontente, não simpatizava com André, odiava pessoas tapadas como ele, e não ia muito com a cara de Marina. Mesmo a irmã dizendo que a jovem era sua amiga, havia algo no olhar de Marina que não a agradava, parecia que a ela buscava uma falha no comportamento de Sophia o tempo todo, sempre avaliando, fazendo perguntas sem sentido. Não confiava na jovem de jeito nenhum, mas se a irmã confiava, fazer o que? Devia estar imaginando coisas, culpa dos seriados de investigação criminal... Voltou sua atenção para a irmã e com ar de reprovação perguntou:

— E como vão dar uns amassos assim?

— Olívia!

— Ah, Sophia, se o Miguel fosse meu namorado... — Suspirou alto com expressão sapeca.

Sophia não conseguiu evitar rir e abraçou sua adorada irmã.