Atrapalhado

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A diretora conseguira a proeza de marcar uma reunião de última hora com seus pais logo após o fim das aulas, com certeza devido à amizade que tinha com seu pai Antônio. Eles chegaram à diretoria com evidente preocupação pelo que ocorrera com seus filhos, mas, após Patrícia mostrar a xérox estampando três fotos deles aos beijos no colégio, logo o que tinham na face era surpresa.

— É o Cássio que vive me azucrinando e perseguindo – acusou, apontando para o rapaz sentado na outra ponta, ao lado de Saulo.

— Não foi à primeira vez – ele comentou dando de ombros, revelando com um sorriso malicioso. – E você nunca se importou que eu a beijasse, tanto aqui quanto em casa.

— Ora, seu abusado! – Esticou o corpo querendo esgana-lo, pouco ligando para o fato de que tinham os pais entre eles.

— Comportem-se! – pediu Antônio a forçando a voltar a sentar corretamente no lugar.

— Eu o odeio – choramingou.

— Paty, é comum nessa idade se deixar dominar pelos hormônios – comentou Antônio, considerando exagero a diretora tê-los retirado de seus respectivos trabalhos por causa daquilo. – Conversarei com ambos em casa e resolveremos essa situação – prometeu querendo encerrar o assunto.

— Não os chamei só por causa do comportamento inadequado de seus filhos. Conversei com eles e deixei claro que não admito que essa atitude se repita dentro do colégio – acrescentando ao direcionar o olhar para Cássio. — Cássio nem mesmo precisava ficar para essa reunião.

— Sabia que iriam falar sobre mim, então decidi ficar – explicou com pouco caso.

Leona o olhou atravessado. Apostava que ficara só para se divertir com sua eminente desgraça.

— De qualquer forma, fico satisfeita de ter a oportunidade de falar com vocês sobre esse assunto, e espero que o resolvam da melhor forma possível para seus filhos.

— Qual é o motivo dessa reunião afinal? – interrogou Saulo ajustando seus óculos, claramente ansioso em terminar a reunião e voltar ao trabalho.

Patrícia pegou o DVD Player que guardava na gaveta de sua escrivaninha, ligou e rodou a tela para que as pessoas a sua frente pudesse ver a breve filmagens do que Leona fizera.

Surpreso, Antônio encarou a filha ao perceber que ela utilizara seus materiais e o que aprendera com ele para prejudicar uma colega. Ficou dividido entre o desapontamento e o orgulho por ela ter aprendido algo consigo. Por fim, decidiu-se colocar o cientista de lado e assumiu a posição mais adequada para um pai.

— Filha, entende que o que fez é errado?

Cabisbaixa, ela assentiu.

— Garanto que esse episódio lamentável não irá se repetir – prometeu Saulo.

— Oh, não duvido, afinal Leona não fará mais parte da grade estudantil do colégio. – Antes que Saulo ou Antônio pudesse se manifestar, explicou: — A filha de vocês não só causou uma forte crise alérgica na aluna Almeida Sophia, como, ao que parece, contribuiu para incriminar duas outras colegas para sair ilesa. – Rapidamente contou o castigo dado a Yasmin e Marina, completando com o olhar severo direcionado a ruiva: — Tudo para afastar a aluna Almeida do rapaz por quem está apaixonada. E não me refiro ao filho de vocês e sim ao colega de turma dela: Miguel Rodrigues.

— Ah, ele realmente é lindo, assim como o irmão! – recordou Antônio deslumbrado com a lembrança da beleza morena dos irmãos Rodrigues.

— Não os acho grande coisa – comentou Saulo, ofendido pelo companheiro babar só de ouvir o sobrenome Rodrigues.

Divertido com o ciúme de Saulo, Antônio segurou a mão dele, acariciando-a de leve para reafirmar que o único que amava era ele.

Voltou-se para Patrícia.

— Em nome da nossa amizade, será que podemos chegar a um acordo? Não é bom ter a palavras expulsão no histórico.

— Leona não pode continuar no colégio, seu comportamento passou dos limites – explicou antes de sentenciar categórica. — A partir de hoje, Leona não é mais aluna do colégio Gilberto Flores.

— Entendemos – disse Saulo, antes de ajeitar os óculos e propor: — Mas, em vez de expulsão, poderia aprovar uma transferência.

Patrícia encostou as costas tensas no estofado de sua cadeira, pensando rapidamente antes de dizer:

— Tudo bem – concordou. – Amanhã passem na secretaria do colégio que todos os documentos estarão prontos.

— Virei pessoalmente buscar – prometeu Saulo.

Agradeceram e, aliviados, saíram com os filhos. Cada um seguindo para o próprio carro, Antônio sozinho e Saulo com Cássio e Leona.

— Entendem que estão encrencados e teremos uma longa conversa sobre a relação de vocês quando chegarmos em casa?

Cássio deu de ombros. A ameaça não lhe atingia, sabia que no máximo ouviria mil conselhos amorosos, alguns que já escutara, e exigiriam que respeitasse Leona, nada que se comparasse ao sermão que recebera ao repetir o ano. A bronca maior cairia sobre sua "irmã", que receberia o mesmo discurso que ele e uma bronca adicional por ter sido expulsa do colégio.

— Não temos uma relação – retrucou Leona. – Quero manter distância desse idiota.

— Seu desejo logo será uma realidade – disse Saulo enigmático.

Leona pressentiu que, seja lá o que passava pela mente do pai, odiaria o que lhe aconteceria.

Aproveitando que Patrícia a deixara descansar naquele dia, Marina aceitou o convite de André para assistirem um filme na casa dele.

Passou rapidamente em sua casa para pedir permissão à mãe, que, por alguma obra do destino, estava de bom humor e permitiu. Talvez fosse por, ao questionar o motivo de não estar no colégio, ouvira sobre a descoberta de que Leona que tramara contra Sophia. Isso aliviara a expressão zangada e decepcionada que sua mãe carregava nos últimos dias.

Correu para a casa do namorado para juntos alugar um filme. Voltaram com uma pilha enorme em mãos, fruto da ansiedade de ficar mais tempo juntos após tantos dias separados, tanto por causa dos serviços no colégio, quanto pelo mau humor da senhora Limeira, que proibira Marina de sair de casa e tratava André pior que um cachorro toda vez que ele aparecia.

Era comum assistirem filmes na sala, mas, dessa vez decidiram ficar no quarto de André.

Ele colocou o DVD no aparelho Blu-ray e deitou ao lado da namorada na cama de solteiro.

Marina apoiou a cabeça em seu peito, recebendo os carinhos do namorado em seus cabelos. Ergueu a face. Ele a olhou e sorriu, aquele sorriso enorme e caloroso que ela aprendera a amar desde que dera uma chance ao sentimento que ele nutria por ela.

Meu Coração quer Amar e ser AmadoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz