Inocente

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"De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar".

Platão

– Aê, galera! Tem duas garotas se pegando no estacionamento!

Em segundos Yasmin e Leona, que rolavam e se estapeavam no chão, foram cercadas pelos estudantes que saiam do colégio, nenhum se prontificou em separa-las, somente observavam, assobiavam e faziam apostas de quem sairia vencedora da batalha de arranca cabelo, tapas e unhadas.

Cássio e Júlio, que viram a briga desde o começo, faziam parte da multidão a observar, o primeiro por achar divertido e não ter a menor vontade de enfrentar a ira da Ortiz, o segundo por considerar que Leona merecia uma lição pelo que fizera, como ele não podia dá-la não impediria outra pessoa, que possuía razões muito mais fortes que as dele.

– Entrar no meio delas é pedir pra apanhar junto – Cássio disse e riu quando viu Leona receber outro tapa. — Aposto toda a minha mesada que a loira ganha.

Por fim dois rapazes apareceram para separa-las.

– Que problemático! – Mauro resmungou puxando a amiga enfurecida de cima da ruiva.

Leona teria aproveitado a oportunidade para revidar o ataque que sofrera, no entanto Leonardo a segurou por trás, mantendo-a firmemente presa com os braços atrás das costas.

– ME SOLTA! – Yasmin exigia aos berros, tentando se libertar dos braços que envolviam sua cintura.

– Calma Yasmin! – Mauro fez uma careta ao ter o braço arranhado, mas não a soltou. — Não é assim que se resolve um problema.

– Quem disse que quero resolver alguma coisa? Quero acabar com a vida dessa cretina venenosa – refutou, antes de direcionar sua ira para o outro rapaz. – Vai protegê-la? Foi ela que feriu a Sophia.

Como não conseguia interpretar alguém de expressão impassível, não sabia que efeito sua acusação causará no Moreira. Teve de se contentar em observa-lo se afastar com Leona.

– Estará encrencada se a diretora souber o que fez – Mauro disse escoltando a amiga para longe da confusão. – Teve sorte de não terem ido busca-la.

– Foi a Leona que envenenou a Sophia.

– Essa desculpa não faria diferença para ela.

– Preciso provar que dessa sou inocente.

Parando em frente ao carro da família Ortiz, Mauro a soltou.

– Preste atenção – pediu segurando a face da colega entre as mãos. – Não é batendo na Leona que provará sua inocência. Seria sempre a sua palavra contra a dela e, convenhamos, os fatos estão contra você.

– Então como? – A voz confiante se dissolveu, estava angustiada com a percepção de que Mauro tinha razão.

Mauro pensou rapidamente antes de responder:

– O colégio é repleto de câmeras. Existe uma chance de uma delas ter gravado o que causou a crise da Sophia – comentou, frisando que a possibilidade era pequena para não dar falsa esperança.

– Você é um gênio, Mau! – Exultou ao pular no pescoço do amigo e distribuir vários beijinhos em sua face. – Obrigada! Obrigada! Vou falar com a diretora...

Mauro segurou sua mão para impedi-la de correr para o colégio.

– Melhor procura-la amanhã – propôs temeroso de que Patrícia já soubesse a última de Yasmin e, em vez de escuta-la, lhe desse uma suspensão.

– Certo, amanhã – Yasmin concordou, lendo no rosto do amigo os motivos de ter de aguardar.

– Se cuida Yasmin, e vê se fica longe de novos problemas – recomendou acariciando rapidamente o topo da cabeleira dourada antes de se afastar.

Abriu a porta do passageiro para entrar no carro, onde o motorista a aguardava pacientemente, mas foi impedida ao ter o braço segurado.

*S2*

Espumando de raiva, Leona entrou em seu quarto e foi até o espelho para analisar o estrago que Yasmin fizera em seu rosto. Arranhões estragaram a perfeição de sua pele, porém nada que uma boa maquilagem não pudesse ocultar. Deslizando um dedo em um arranhão mais profundo, não pode deixar de agradecer sua sorte por Marina não ter se juntado a Yasmin, sabia por experiência que a Limeira não era adepta de tapas e unhadas, e sim de punhos cerrados que deixavam marcas roxas e dolorosas por semanas.

Respirou profundamente e deitou devagar o corpo dolorido na cama. Não bastasse a agressão, ainda tivera de escutar o sermão do garoto mais estranho de sua turma, além de uma ameaça que não lhe passara despercebida e, tinha certeza, não tivera a menor intenção de ser.

Sorriu. De qualquer forma, ela conseguira o que queria e ninguém estragaria sua vitória.

*S2*

Deitado de barriga para cima e com o celular junto à orelha, Miguel não conseguiu evitar o alívio após ouvir André dizer que, ele aprovando ou não, continuaria a namorar Marina.

Não quero perder sua amizade, mas, como disse para a Soph, Marina é a única garota pra mim.

– Hum...

Cara, faça as pazes com a Sophia.

– Cuide da sua vida André.

André ignorou o tom rude.

Ela tá mal, qualquer um percebe isso. E você também não tá bem, assuma.

– Vou desligar, tenho algumas coisas pra fazer...

Tipo, ficar pensando na Sophia?

Apertando o celular com força, Miguel se perguntava o que o impedia de desligar o aparelho na cara do colega.

André, fala pra ele não desistir dela.

Eu tô tentando, mas você conhece a teimosia dele.

Diz que ela o ama.

Tá ouvindo isso? Sophia te ama cara. Você tem que pedir desculpas, explicar que você é um idiota insensível e... Aiii!

Ouviu um baque do outro lado da linha, e não pode evitar sentir certa satisfação ao imaginar o que acontecera.

Marina...?!

Assim o máximo que vai conseguir é irrita-lo, e o que queremos é que ele volte para a Sophia.

Mas ele é muito cabeça dura, prefere ficar sofrendo calado...

Miguel respirou fundo. Já era péssimo ter André lhe dando conselhos amorosos, ouvi-lo comentar isso com Marina era ainda pior.

– Vai namorar André.

– Cara, coloca um pouco de juízo na sua cabeça, senão vai perder a garota que ama para outro.

Mesmo ciente que André tinha razão, estava farto daquela conversa, por isso, encerrou a ligação sem se despedir.

Fechou os olhos, e logo a imagem de Sophia se tornava nítida a sua frente, o sorriso doce que sempre estava presentes nos lábios rosados... Tinha saudades dos sorrisos dela, se fosse bem honesto confessaria que sentia falta principalmente daqueles lábios rosados, que com um simples roçar o atiçava de uma forma que nenhuma outra conseguia.

Sentou na cama e retirou a foto deles do bolso da camisa, deslizando o polegar pela face dela, desejando poder retornar aquele momento. Talvez quando se formassem, quando não houvesse mais fanáticas entre eles, pudesse recupera-la... Se até lá ela permanecesse sozinha... O que Davi Guerra e Nathan Almeida pareciam ansiosos em evitar...

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now