Fera

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"A maldade é como a gravidade, basta um empurrãozinho."

Coringa

Tédio. Essa única palavra resumia os dois últimos dias. Era tedioso observar as cores do céu mudarem gradativamente através da janela, amanhecer, entardecer, anoitecer e assim sucessivamente, sem sequer uma novidade do namorado. Em alguns momentos, quando discava o número do celular do Rodrigues e não era contestada, o tédio dava lugar à preocupação. Algo estava tremendamente errado para que Miguel houvesse sumido após o incidente na sexta.

Deveria ter anotado o número do telefone residencial dele.

Girou o corpo na cama, ficando de barriga para baixo, o braço caindo preguiçoso sobre a cabeça de Migue, acariciando-o distraída enquanto ele brincava com um osso de plástico.

– Talvez esteja chateado por não ter ido encontra-lo após as aulas como combinei. — Supôs, recebendo um olhar rápido do cachorro. — A culpa não foi minha. Nathan que me escoltou pra casa — justificou atraindo toda a atenção do filhote. — Mas ele deveria, pelo menos, ficar ao meu lado no hospital, não acha?

O cachorro inclinou a cabeça encarando-a fixamente. Sophia decidiu que isso significava concordância.

– E se estiver doente? — questionou preocupada, acariciando com o polegar o broche dourado no alto de sua camisa lilás. – Mas não custava atender o celular... A menos que esteja desligado ou quebrado... Já sei! Vou levar um lanche para ele — anunciou empolgada com a ideia de visita-lo. — Que acha? — Considerou o aparente sorriso canino com língua de fora um sinal positivo.

Pulou da cama, colocou as sandálias e saiu apressada do quarto com Migue acompanhando-a.

Entrou na cozinha e abriu o armário e a geladeira em busca de ingredientes para os sanduíches, além de pegar frutas.

A cozinheira, habituada com a presença da Almeida, a ajudou a arrumar tudo em uma cesta de vime, enquanto a ouvia cantarolar baixinho, feliz com a alegria dela.

~*S2*~

Após alguns dias frequentando-a, a casa dos Moreira não parecia ameaçadora e Yasmin até gostava do lugar, mas, a aura sombria que emanava de Leonardo, que estava parado em frente à porta barrando sua passagem, reavivava sua primeira impressão. Mesmo com a expressão neutra dificultando saber ao certo o que se passava com Leonardo, sabia por intuição que estava furioso e era melhor não insistir em entrar. Lógico que, sabendo o quanto ele gostava da Almeida, esperava aquela atitude, porém tivera esperança que acreditasse em sua inocência.

– Juro que dessa vez não tenho culpa — repetiu e levou a mão em direção ao jovem com a intenção de toca-lo, porém a vibração carregada que emanava dele a fez desistir. — Você sempre diz que sou inteligente, como pode acreditar que seria estúpida para fazer algo assim?

– Por quê? — Leonardo cruzou os braços em frente ao peito. — Porque todas do seu fã clube são capazes de qualquer idiotice por causa dessa paixão obsessiva pelo Miguel.

– Só que eu não — afirmou nervosa. — Sequer cheguei perto dela nos últimos dias.

Leonardo voltou à face para dentro da casa, uma mão agarrando a maçaneta da porta.

– O que preciso fazer para que acredite em mim? — perguntou ao notar que ele estava prestes a colocar um fim na conversa.

– Nada. — Foi à resposta que deu sem se voltar para ela. — Não me deve satisfação. Porque não tenta com a pessoa certa?

Desanimada, se virou para ir embora. Seria tão fácil se tudo que precisasse para provar sua inocência fosse pedir desculpas para Sophia.

~*S2*~

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now