Proteção

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"Existem pessoas fortes e pessoas que ainda não descobriram sua força."

Andando sem rumo por vários minutos, Miguel sorriu com tristeza ao notar que seus pés o levaram ao local em que dera o primeiro beijo em Sophia.

A praça em frente o colégio estava deserta, o vento balançava a copa das arvores fazendo algumas folhas se soltarem e darem piruetas no ar antes de caírem sobre a grama, algumas sendo lançadas para muito longe de sua origem. Uma caiu no banco em que sentou. Pegou a folha e a girou devagar, observando um lado depois o outro com olhos opacos, sem realmente enxergar a folha. Revivia cada momento que passara ao lado da Almeida.

O primeiro beijo...

~*S2*~

Seus olhos se encontraram com os dela, fazendo-o notar a dúvida que dominava os dela junto com um brilho atrativo que o chamava.

– Miguel...

– Feche os olhos — ordenou num murmúrio e sorriu de lado quando ela obedeceu sem pestanejar, totalmente entregue.

Desejoso, fitou a boca rosada da Almeida e, por fim, o roçou a sua na dela em uma carícia leve, sentindo uma corrente elétrica percorre-lo ao ouvi-la suspirar quando contornou com a língua a pele macia. Sophia entreabrira os lábios permitindo sua exploração avida, as mãos pequenas deslizando suavemente por tórax.

Miguel a estreitou, necessitando sentir o corpo dela mais perto do seu, e ela parecia desejar o mesmo, pois contornou seu pescoço com os braços e acariciou seus cabelos com timidez.

Encerrou o beijo quando estava quase sem ar, à respiração quente e apressada dela colidindo com a sua em igual estado. Abriu os olhos e fitou os inocentes olhos de mel. Queria beija-la novamente, sendo honesto, queria possui-la, dominar seus pensamentos e fazê-la esquecer do amor que nutria por André. Nunca se sentira daquela forma antes. Naquele momento decidiu que ela lhe pertenceria.

~*S2*~

A primeira vez que ela o abraçara e beijara por iniciativa própria, mesmo que na ocasião fosse só um selinho. A briga que tiveram porque ele bateu - e com razão - em Davi, e a reconciliação...

~*S2*~

Puxou Sophia de forma que caísse em seu colo, envolvendo a cintura fina com seus braços.

Queria saber o que faz aqui afinal? Pensei que não queria mais me ver. – Notou o tom frio que utilizara sem querer e, para amenizar o clima, beijou carinhosamente o canto da boca dela.

– Você estava certo sobre Davi... — ela declarou sem graça, desviando o olhar para as mãos que batiam os indicadores. — Depois que você foi embora... Ele contou que me ama e... Me pediu em namoro... Mas eu recusei...

Com esforço Miguel evitou emitir um comentário desagradável, contente pela Almeida recusar a proposta de Davi.

– Mesmo assim, não se pode resolver nada com violência — reclamou o que o fez bufar. — Bem... Eu vim aqui pedir desculpas e dizer que se... Quiser terminar comigo depois do que te disse... Eu entendo...

Ela entendia se decidisse terminar? Passara as últimas horas censurando seu descontrole e ciúmes, chegando ao cúmulo de pedir a ajuda do amigo cabeça oca e ela lhe oferecia uma alternativa para terminarem? Não estava louco, não dessa forma.

Com um sorriso de canto, segurou o queixo delicado e o moveu de forma que seus olhos encontrassem os da Almeida. Ela parecia ter medo do que diria, até descer o olhar para seus lábios e reparar que sorria, então os olhos claros brilharam e ele desejou beija-la em vez de conversar.

– Não quero terminar — declarou acariciando sua face.

Foi com surpresa que após ver um enorme sorriso adornar a boca pequena e jovem, teve seus lábios selados ao dela rapidamente, embora não rápido o bastante para evitar que o desejo se alastrasse por seu corpo. Puxou-a pela nuca e a beijou.

~*S2*~

A emoção que aqueceu seu coração ao ouvi-la dizer que o amava e o orgulho que tivera ao prender o símbolo de sua famlília e do seu amor na roupa dela, tornando-a uma Rodrigues, uma parte de si.

"– Confio em você e desejo... Ser sua pra sempre".

Irritado jogou a folha para longe com violência ao lembrar a face vermelha, os lábios inchados e os olhos lagrimejantes e assustados de Sophia causados pela alergia, ficando frustrado ao observa-la balançar devagar até o chão.

Inclinou o corpo para frente, apoiando os cotovelos nas pernas e cobrindo o rosto com as mãos, angustiado com o eco do choro de Sophia que permanecia em seus ouvidos.

Saber que tomara a atitude certa não apagava de sua mente a expressão dela quando dissera que estava tudo acabado entre eles, que nunca a amara, ou dá sensação dolorosa ao sentir o corpo trêmulo junto ao seu, de causar o sofrimento da única pessoa que deixara entrar em sua vida e em seu coração após a morte de seus pais.

A desolação dela o machucara, porém não tanto quanto não poder consola-la.

~*S2*~

Sophia aceitou a carona que Lucas ofereceu e, quando foi deixada em frente ao portão de sua casa, se forçou a sorrir em agradecimento, embora seus olhos não conseguissem demonstrar a mesma alegria.

Com os ombros encurvados, entrou sentindo a cesta em suas mãos mais pesada do que quando saíra. Era irônico que planejara uma surpresa para Miguel e acabara sendo surpreendida.

Foi até a cozinha, deixou a cesta sobre a mesa e, diante da vontade de cozinheira em saber o que acontecera, mentiu que não encontrara o namorado. Ela não acreditara, mas não insistiu.

Subiu as escadas que levavam aos quartos e, após entrar no seu, jogou-se sobre a cama.

– É verdade que foi na casa do Rodrigues? — Nathan quis saber entrando em seu quarto sem bater.

– Sim... – Sentou disposta a desabafar com o primo, mas Nathan segurou seu braço com força e a levantou da cama.

– Não quero que volte a fazer isso. – Percebendo que a assustava, Nathan a soltou e enfatizou com voz controlada. – Afaste-se dele. — Retirou o celular do bolso, mexeu nele e o estendeu para a prima. — Não queria ter de mostrar isso, como não mostrei para o tio Tomás, mas você precisa perceber que esquecer o Rodrigues é o melhor a se fazer.

Sophia assistiu ao vídeo em silêncio, os olhos aumentando conforme as cenas se desenrolavam.

– Onde... Quem te enviou?

– Não sei. Recebi poucos minutos antes de saber que você tinha sido levada para o hospital.

Agora compreendia a atitude de Miguel. Ele queria protege-la.

– Preciso falar com Miguel...

Tentou sair do quarto, mas Nathan a segurou.

– Você está proibida de se encontrar com ele.

– Não pode fazer isso.

– Quando mostrar isso para o tio Tomás, ele vai concordar comigo — retrucou. — Droga Sophia! Você quase morreu por causa desse...

– Chega Nathan! – gritou para evitar que concluísse a ofensa. — Não preciso de proteção. Nem a sua, nem a do Miguel, nem a de ninguém.

– Sophia...

– Não quero ouvir — comunicou decidida. — Estou farta de todos me considerarem fraca e inútil, incapaz de decidir o que é melhor para mim por conta própria. Farta!

Empurrou o primo para fora do quarto, trancando a porta antes de cair sentada no piso.

Migue, que Sophia sequer percebera que entrara no quarto, subiu em seu colo para aconchegar o corpo peludo.

Afagou a pelugem negra, a raiva e o sofrimento diminuindo com o ato.

– Mostrarei que não preciso de proteção, juro que vou — prometeu com os olhos cobertos pelas lágrimas, não de tristeza, mas de determinação.


Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now