Unhas

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"A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal".

Machado de Assis

Miguel já estava arrependido, pelo menos de incentivar André a namorar Sophia. Grande amigo ele era, custava esperar uma semana antes de agarra-la na frente de todos? E, pelo jeito, Sophia ainda era apaixonado por André, pois estava muito a vontade ao lado dele.

Balançou a cabeça. Não tinha direito de reclamar, ele jogara Sophia nos braços de André e, mesmo que doesse, tinha que lembrar que a felicidade dela era o que importava.

– Rápida a Almeida, não é? — Leona postou-se a frente do Rodrigues sorrindo, as mãos pousando sobre o tórax dele, que observou o gesto com indiferença. – E ainda por cima te trocou pelo seu melhor amigo. Ai, ai, ai, que atitude baixa a dela. – Umedeceu os lábios com a ponta da língua. – Que tal sair comigo hoje, para espairecer após as aulas? Um passeio lhe fará bem. – Aproximou o corpo com o olhar faminto.

Miguel colocou as mãos em seus ombros e a afastou.

– Não quero nada com você e com nenhuma garota desse colégio – pronunciou alto o bastante para que os curiosos de plantão ouvissem.

Foi embora com passos largos, farto dos avanços de seu fã clube dispensável, da "amizade" de André e do amor passageiro de Sophia.

*S2*

– Uau! Rejeitada de novo. Somando todas dá quanto? Mil?

Leona encarou Cássio com a raiva luzindo em seus olhos.

– Me deixe em paz! – ordenou desviando do rapaz, furiosa com o comentário dele e com o que Miguel lhe dissera.

Após observar o requebrado de Leona ao distanciar-se dele, Cássio foi até Linete.

– Oi gata! – Cumprimentou pousando o braço sobre os ombros estreitos dela.

Ela lhe lançou um olhar atravessado e lhe deu uma cotovelada.

– Fique longe! Quero distancia de um sujeito que tem um caso com a própria irmã.

– Adotiva. Leona é minha irmã adotiva, sem qualquer laço de sangue – explicou.

– Isso deveria me tranquilizar? – questionou cruzando os braços.

– Não tive essa intenção, mas se quer encarar assim... – Deu de ombros.

– É impressionante que goste dessa louca desvairada, que quase matou uma colega... Deveria contar tudo para a diretora.

– Conte então.

Abismada, Linete encarou Cássio.

– Quer que revele para a diretora o que vi e ouvi na sua casa?

– Se deseja contar, não serei eu a impedi-la. – Esticou os lábios deixando os dentes a mostra em um sorriso sádico. – Mas, em minha opinião, será mais divertido contar para as garotas que a Leona incriminou.

*S2*

Observando suas mãos pousadas nas pernas, Marina remoía a cena que vira minutos antes: André todo alegre com a Almeida e, pior, a abraçando e beijando. Afinal, Sophia não iria ajuda-la? Talvez houvesse decidido dar o troco por tudo que a fizera passar. Embora essa atitude não combinasse com Sophia, naquele dia nada estava no seu normal e a tímida, doce e retraída Almeida era a mais fora de sua personalidade. Tomara a frente do primo na reunião na diretoria, ignorara as tentativas de reaproximação de algumas garotas do fã clube e até gritara e quase agredira Davi. Não seria surpresa se também se tornasse vingativa.

Mordeu o lábio inferior, incerta do que deveria fazer e se deveria fazer algo. Suspirou vencida. Dessa vez só podia esperar para saber exatamente o que estava acontecendo, não queria cometer um novo erro, pagava muito caro pelo anterior.

"E se André decidir ficar com a Sophia?". Sairia com o coração em frangalhos, mas teria de aceitar. Aprendera a lição, não podia obriga-lo a continuar com ela, tampouco buscaria revanche.

– Marina!

Ergueu a face e se surpreendeu ao ver Sophia e André de mãos dadas. Engoliu a seco. Até onde Sophia pretendia ir com sua desforra?

– Ah...! Vejo que decidiram ficar juntos... – disse com a voz embargada. Levantou e desviou a atenção das mãos unidas. – Eu tenho que ir...

– Marina, não acredito que tirou conclusões precipitadas de novo – reclamou Sophia.

– E eu não acredito que está me entregando de bandeja para outra – inteirou André. – Caramba, Marina, isso magoa!

– Eu vi você a beijando.

– No rosto, como amigo.

Marina se viu alvo de dois pares de olhos claros chateados.

– Vocês não estão juntos?

– Não! – responderam.

– Então por que...? – Apontou para as mãos que continuavam entrelaçadas.

Envergonhada, Sophia soltou a mão de André e desculpou-se.

– Queria trazê-lo até você, só isso. André te ama e a mais ninguém. – E concluiu com um sorriso triste: — Pelo menos uma de nós terá quem ama de volta.

A alegria de Marina foi eclipsada pela infelicidade de Sophia, sem pensar muito a abraçou para transmitir conforto.

– Calma Soph! Vamos convencer o Miguel a desistir da ideia ridícula de separação.

– Vamos mesmo! – reiterou André espremendo Sophia entre ele e Marina em um abraço empolgado.

*S2*

Transbordando júbilo, para Leona aquele dia era o mais ensolarado do ano e os pássaros cantavam com maior sintonia, porque, embora Miguel ainda não fosse seu, pelo menos não havia mais nenhum empecilho entre eles. Agora era só questão de tempo e insistência.

Seus pés flutuavam enquanto seguia para a vaga que o motorista de sua família ocupava no estacionamento próximo ao colégio, quando teve o cabelo puxado com brutalidade, ficando cara a cara com uma loira furiosa.

– Pensou que iria se safar?

Antes que tivesse tempo de defesa, Yasmin a empurrou em uma parede próxima sem soltar seu cabelo.

– Enlouqueceu? – murmurou com as costas doloridas contra a parede fria.

– Pode apostar que sim, pilantra descarada – ela respondeu com as feições transtornadas. — Por sua culpa vou virar faxineira no colégio.

– Eu não fiz nada... – defendeu-se tentando soltar os fios dos dedos de aço da Ortiz.

– Não tente me enganar – retrucou Yasmin chacoalhando-a. — Sei que você causou a alergia da Sophia e armou contra mim. Reconheci seu quarto naquele vídeo sem vergonha que fez.

– Tem provas? – Riu do silêncio da colega. – Imagino que a resposta é: Não.

– Minha resposta é: Ainda tenho unhas.

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now