Infantilidade

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"A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos".

Erasmo de Roterdã

Desanimada, Sophia subiu as escadas devagar, como se suas pernas não aguentassem o peso de seu corpo, talvez não aguentassem mesmo, fazia um tempo que não se alimentava bem, especificamente desde que Miguel terminara com ela, que nem ao menos lhe dirigia o olhar. Era estranho após tantos meses tendo conversas animadas com Miguel, vê-lo sorrir e se habituar aos carinhos dele, ter que ficar calada ao lado dele, que voltara a ser frio, indiferente e distante.

Entrou em seu quarto, se jogou em sua cama e, não aguentando mais a dor em seu peito, deixou as lágrimas caírem livremente. Migue pulou na cama e aconchegou o corpo no seu, choramingando e lambendo seu braço, como se soubesse que ela estava quebrada por dentro e desejasse conforta-la. Porém, as últimas palavras de Yasmin giravam em sua mente, fazendo com que esquecesse a fofura do cachorrinho e seu estado de humor piorasse. A loira fora taxativa e até um pouco cruel. Seria tudo ou nada, se depois daquele plano de choque Miguel não voltasse atrás, significava que ele não se importava com ela.

— Soph...?

Entrando no quarto após alguns minutos, Nathan se espantou por ver Sophia tão desolada, não pensara que ela amasse tanto o Rodrigues.

Sentou-se ao lado dela e acariciou os cabelos da prima com carinho.

— Sophia, não chore. Era inevitável. Eu te disse que ele cansava fácil...

Sophia o encarou com raiva. Como, em um momento como aquele, em que seu coração estava em pedaços, Nathan podia ficar lembrando-a de que a avisara a não ter nada com Miguel?

— É. Você disse. — Sophia deu um sorriso triste. — Posso te pedir uma coisa?

— Claro. — Nathan passou os dedos sobre a face molhada com carinho. — Tudo o que você quiser.

Sophia se afastou do primo e virou na cama, ficando de costas para ele.

— Me deixe sofrer sozinha.

As palavras tinham sido duras aos ouvidos de Nathan, e tinha certeza que fora de propósito. Sophia estava claramente dispensando-o. Levantou-se se sentindo um verdadeiro idiota, percebia agora que Sophia nunca o veria como outra coisa que não um irmão.

— Como queira Sophia.

Saiu, fechou a porta e encostou o corpo nela, inspirando fortemente o ar para dentro dos pulmões e espirando devagar, derrotado. Era isso, assumia que perdera sem nem mesmo ter a oportunidade de lutar. Percebeu que, querendo ou não, a felicidade de Sophia estava com Miguel. Entendeu que nunca poderia mostrar o quanto a amava como mulher, pois Sophia sempre o veria como um irmão mais velho e nada mais.

Retirou o celular do bolso da calça jeans e procurou na lista de contatos um número que há muito não utilizava. Sem dar tempo para a pessoa do outro lado da linha falar, soltou:

— Você venceu!

Desligou e seguiu para o próprio quarto.

*S2*

Endireitando as costas na cadeira em frente à mesa de computador, encarou intrigado o celular em sua mão, tentando entender o significado do que ouvira antes da ligação encerrar bruscamente. O que Nathan queria dizer com: "Você venceu!". Estava em casa, amargurando a falta de Sophia, e o fato de que nenhuma garota lhe parecia boa o suficiente quando comparada a ex, e o Almeida aparecia com essa mensagem sem sentido. Não se sentia vencedor, era justamente o contrário.

Jogou a cabeça para trás e fitou o teto, o pensamento longe.

Tinha uma vida tranquila, dedicada aos estudos, aturar seu irmão, ter namoricos ocasionais e a amar a si mesmo acima de todas as coisas... Até beijar Sophia. Por que cometeu o erro de abrir o coração para ela?

Relanceou o olhar para o aparelho em sua mão. Podia ligar, nem precisava dizer nada, só ouvir a voz dela talvez suavizasse sua necessidade crescente. Não! Ela identificaria seu número e isso poderia lhe dar falsas esperanças. Além disso, não bancaria o idiota apaixonado... Mesmo que fosse um.

Frustrado, apertou os lábios e fechou os olhos. Precisava apaga-la de sua mente e de seu coração, caso contrário enlouqueceria antes do fim do ano letivo.

— Deixe-me adivinhar... Pensando na Almeida.

Continuou com os olhos cerrados, a expressão fechada.

— Não tem aula hoje?

— Falta uma hora para começar.

Ouviu passos se aproximando, mas só abriu os olhos quando teve o celular surrupiado pelo mais velho. Segurou a vontade de levantar e fazer o que o irmão desejava: Papel de idiota para resgatar seu celular.

— Qual é o número da Soph?

Trincou os dentes diante da intimidade de Lucas ao dizer o nome de Sophia.

— Não é da sua conta.

— Pelo menos me diga sua senha, assim procuro sozinho.

Olhou de esguelha para o irmão que apertava teclas aleatórias para desbloquear seu celular.

— Vai quebrar meu celular, imbecil.

— Vamos, seja gentil uma vez na vida e diga o telefone da Soph. Preciso muito marcar um encontro com ela... – Ele colocou a mão no queixo pensativo. – Sabe, me dei conta que uns beijinhos não podem ser crime e, bem, se passar um pouco disso...

Miguel levantou em um pulo, agarrou o celular, o guardou no bolso e encarou o irmão com a fúria flamejando em seus olhos.

— Saia do meu quarto, agora!

— Calma!

Rindo Lucas fitou o irmão atentamente, então cruzou os braços em frente o tórax e adquiriu uma expressão séria.

— Irmãozinho tolo, se fica assim só por causa de um comentário, imagina o que vai acontecer quando Sophia decidir namorar outro. – Observou a confusão cruzar a face do mais novo. – Você é a minha única família, te amo mais que tudo nessa vida e o desejo a sua felicidade, por isso lhe darei um conselho...

— Vai bancar o irmão preocupado? – interrompeu Miguel desviando o assunto. Preferia trilhar o caminho da animosidade, do que enveredar pelo da compaixão.

— Me preocupo com você, mais do que imagina. Só por isso gasto meu tempo tentando colocar nessa sua mente néscia que, se gosta da garota deveria lutar para ficar com ela, em vez de bancar o pobrezinho lambendo as feridas que se auto infligiu. – Ele esticou um braço e cutucou a testa do menor com o indicador. — Esse seu orgulho e teimosia infantis podem lhe custar muito caro. — Saiu, deixando o irmão mais novo irritado com seus comentários.

Perturbado pelas palavras do mais velho, que ecoavam em sua cabeça, afundou as dedos nos cabelos bagunçando-os. Se ficava alterado só de imaginar Sophia com outro, temia do que seria capaz se de fato ela se relacionasse com alguém.

Droga! Era infantilidade querer que ela o esperasse sem precisar pedir?

Meu Coração quer Amar e ser AmadoWhere stories live. Discover now