Prólogo - Uma parte de mim vai, outra fica com você

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"Always somewhere (sempre em algum lugar)

Miss you where I've been (sinto sua falta onde eu estiver)

I'll be back to love you again" (Eu voltarei para amar você de novo)


Os olhos lacrimejados de Ao'nung causavam quase uma dor física em Neteyam, fazendo com que ele levasse sua mão esquerda ao próprio peito, somente para se certificar de que não era sua ferida que estava piorando.

Não, a cicatrização parecia normal. A dor era realmente pela tristeza de seu companheiro.

— Isso não deveria estar acontecendo. – Ao'nung desviou os olhos, disfarçando as lágrimas teimosas que se acumulavam. Neteyam o fitou tristonho. Ele queria dizer que tudo ficaria bem, mas sinceramente, ele não estava com tanto otimismo. Estar diante da morte era terrivelmente assustador e jamais gostaria que Ao'nung passasse por uma experiência parecida, por isso, partir era de longe a melhor opção. – Nós vencemos, não foi? Por que vocês precisam ir embora?

Com um suspiro, Neteyam levou as mãos ao rosto do garoto de pele azul turquesa. Fitou seu amado nos olhos, com cuidado. Ele também estava com dor e angústia. Sua própria visão estava embaçada.

Seria tudo tão simples se seu pai tivesse nascido como um Na'vi.

— Meu Ao'nung. – Disse Neteyam, o mais suavemente que pôde. As orelhas de Ao'nung se animaram com a maneira que foi chamado. O vento salgado do oceano os acolhia na praia vazia, que nos últimos meses tinha virado o esconderijo deles. – O Povo do Céu não vai esquecer o que aconteceu aqui. Eles nunca esquecem. Minha família vai levar a guerra aonde for e eu não posso arriscar a sua vida e nem a do seu povo outra vez.

Ao'nung fechou os olhos com força e levou as mãos a cintura fina de Neteyam puxando-o para mais perto, o que fez as bochechas do Omatikaya assumirem um tom ainda mais escuro de azul. O Metkayina depositou beijos suaves na mandíbula do companheiro, subindo para as bochechas e finalmente se encaminhando para os lábios.

Neteyam ainda não conseguia definir ao certo o que sentia quando se beijavam. Seu corpo tremia levemente e uma sensação de energia lhe preenchia, junto com um carinho imenso. Ele quase riu em meio ao beijo ao pensar que, meses atrás, mal podia encarar o garoto que agora lhe beijava sem gerar brigas idiotas. Mesmo que a maior parte dos conflitos fossem entre Lo'ak e Ao'nung, Neteyam sequer pensava duas vezes antes de ficar ao lado do seu irmãozinho. Mesmo que isso significasse dar um soco no herdeiro Metkayina, sabendo que no fim do dia estariam trocando elogios que iam sempre além de uma amizade.

Ainda assim, demoraram para admitir seus sentimentos. Olhares constantes, toques gentis durante as aulas de mergulho e as boas provocações das brigas. Cada aspecto da relação ajudou a construir algo que por um tempo não causou nada além de angústia nos garotos. Afinal, sendo ambos filhos de grandes líderes, com destinos já escritos, como poderiam se apaixonar?

Neteyam enlaçou os braços em torno do pescoço esguio de Ao'nung, deixando-se levar pelo beijo gentil. Seu coração pulou no peito quando Ao'nung apertou mais sua cintura.

Quando se beijaram pela primeira vez, tudo o que sentiram foi medo. Apesar de ainda poderem ter uma linhagem, o relacionamento entre dois homens era raro e ainda visto com estranheza pelos Metkayina e os Omatikaya. Isso levou os rapazes a se afastarem por um tempo a fim de não nutrirem essa relação, mas obviamente, tudo isso não passou despercebido pelo grupo de adolescentes mais jovens. Tsireya, Rotxo, Kiri e Lo'ak uniram seus esforços para aproximá-los outra vez. Lo'ak torcia o nariz para a escolha do irmão, mas vê-lo sozinho e sem conseguir expor sua tristeza a ninguém lhe machucava muito mais. Por isso, aceitou o pedido de Tsireya para bolar um plano de reconciliação.

Não foi muito difícil para eles unirem os dois. Mas quando Jake e Neytiri descobriram, Neteyam se viu em outra espiral caótica de insegurança. Ele era um guerreiro, filho de Toruk Makto e o filho mais velho que deveria cuidar dos seus irmãos. Sua vida inteira foi dedicada a dar orgulho aos pais. Sentiu um medo crescente ao ter seus sentimentos descobertos.

No entanto, o pavor daquele que poderia ser o pior dia de sua vida, desapareceu quando os braços de sua mãe o acolheram, trazendo lágrimas automaticamente ao seus olhos. Jake também o abraçou, apesar de não entender o que levou seu menino a desenvolver sentimentos pelo filho de Tonowari. Infelizmente, as coisas não correram tão bem com os pais do herdeiro Metkayina. Ronal cuspiu que essa união jamais seria abençoada por Eywa e se mostrou irredutível.

Ao'nung deixou de apertar a cintura de seu amado para envolvê-lo com os braços, em um abraço terno. Os lábios se afastaram. As orbes quase douradas de Neteyam se perderam nas azuis de Ao'nung.

— Eu vejo você. – Ao'nung sussurrou, roubando um sorriso leve do Omatikaya.

— Eu vejo você.

— Quero que um dia seja meu companheiro, Neteyam. Diante de Eywa.

Neteyam conteve o suspiro. Achava impressionante como Ao'nung, apesar da superfície ácida e imatura, era sensível e profundamente ligado aos seus sentimentos. Nos últimos meses, se aventurou diversas vezes em ir descobrindo estas camadas secretas do herdeiro do recife, e um sentimento feliz se apossou de seu coração pela possibilidade dele ser o único a desvendar tantas nuances dele.

— Eu serei. É uma promessa. – Respondeu seriamente. – Um dia, quando os mares se acalmarem e minha família estiver segura, eu vou voltar Ao'nung. Por você.

O sorriso de Ao'nung sempre deixava Neteyam com as pernas mais fracas. Não foi diferente desta vez, embora ele jamais fosse admitir isso. Ao'nung se afastou do abraço e ajeitou a postura, colocando uma das mãos no peito de Neteyam, tomando o cuidado de não pressionar o ferimento de bala.

O Omatikaya o encarou confuso.

— Você é um grande guerreiro, garoto da floresta. – Ele sorriu outra vez, mas ainda havia tristeza em seu semblante. Suas orelhas estavam ligeiramente mais baixas, tristonhas. – Não só um guerreiro Omatikaya, mas um guerreiro do recife também, então...

Ao'nung hesitou, com medo de sua voz falhar.

— Por favor, não morra. Vou te esperar, quanto tempo for preciso.

Neteyam tocou o antebraço de Ao'nung carinhosamente. Seus olhos umedeceram. Não podia ser pessimista. Ao'nung acreditava nele, acreditava na vitória de sua família, então acreditaria também.

— Eu vou sobreviver. Eu não tenho mais medo.

***

Horas depois, o clã Metkayina se reunia na praia para observarem os belos ikrans pousarem. Neteyam fitou Ao'nung uma última vez ao subir no seu ikran. Clamou internamente a Eywa para que pudesse cumprir a promessa que fizera ao seu amor.

Com a visão periférica, percebeu que Lo'ak estava encolhido no ikran, tristonho. Sabia que a despedida também tinha sido difícil para seu irmão, que estava cada dia mais próximo de Tsireya. A garota por sua vez, limpou algumas lágrimas que escorriam de seus olhos e teve seus ombros envolvidos pelo braço de seu irmão, confortando-a silenciosamente.

Rotxo gritou um "boa sorte" aos amigos antes de alçarem voo.

Os Sulli's então voaram novamente sobre o oceano, prontos para encararem as novas batalhas que viriam. Neteyam sabia que precisava ser forte, mas ao menos naquele momento, ele se permitiu olhar para trás, para a praia que agora se encontrava tão distante e deixou algumas lágrimas finalmente caírem por suas bochechas.

Precisava acreditar que Eywa permitiria seu retorno. Era sua única esperança.


******

Notas 

Um prólogo bem tristinho, mas fiquem tranquilo que logo teremos esses lindos juntinhos <3

Comentem o que acharam :D beijinhos

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Where stories live. Discover now