8. Em direção ao destino inevitável

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Sea and the rock below (o mar e a rocha abaixo)

Cocked to the undertow (atacados à correnteza)

Bones, blood and teeth erode (ossos, sangue e dentes são corroídos)

They will be crashing low (logo desmoronarão)

Bon Iver - Roslyn


Neteyam não pregou os olhos aquela noite. Tinha optado por não dormir na rede junto com Ao'nung depois de chegar e vê-lo dormindo. Ainda sentia-se frustrado depois da conversa com Tonowari. Sabia que Ao'nung era protetor, ele sempre tinha sido. Mas interferir em suas funções como guerreiro estava levantando diversos boatos que lhe estressavam todos os dias. Por muito tempo, aguentou a frustração, mas agora parecia impossível.

Tentando não ser tomado pela raiva outra vez, Neteyam suspirou, deitado na entrada do marui. Os olhos pesados e o corpo mole indicavam seu cansaço, principalmente depois da missão além dos recifes, mas não queria dormir. Sabia que se o fizesse, acordaria por conta dos pesadelos e Ao'nung viria lhe acalmar como sempre.

Contudo, nada daquilo funcionava. Tinha plena certeza de que nunca conseguiria se livrar das memórias que o torturavam todas as noites, independente das palavras gentis de seu amado ou de conselhos da Tsahik. Estava emaranhado em suas entranhas, era sua sina.

Diante de seus dilemas silenciosos, o tempo passou e o dia apareceu finalmente. Checava os mantimentos pela terceira vez quando Ao'nung acordou. Se cumprimentaram a distancia e começaram os preparativos, podando suas armas, ajeitando os cabelos e colocando seus acessórios de batalha. Antes de empunharem as armas, caminharam juntos e em silencio até a casa de cura.

Muitos guerreiros seguiam inconscientes, repletos de uma pasta cheirosa que trabalhava em sua recuperação. Ronal já estava acordada e parecia concentrada na produção de mais da mistura medicinal, assim sendo, não reclamou ao ver os visitantes. As famílias dos feridos não estavam ali, provavelmente devido ao espaço do local, que era escasso diante de tantos que precisavam de atendimento.

Neteyam e Ao'nung foram até o local onde Rotxo permanecia. Toda a pele azul turquesa do busto estava coberta para tratar as perfurações e ele seguia sem acordar. Os olhos repletos de preocupação repousaram sobre o amigo, até que Ao'nung virou-se para sua mãe:

— Ele vai ficar bem?

— Está muito fraco. – Respondeu Ronal, aparentemente cansada. Neteyam se perguntou se ela também não havia conseguido dormir. – Vai precisar da ajuda de Eywa para passar por isso.

— Tem algo que possamos fazer? – Neteyam sussurrou, sem desviar os olhos do rosto pálido do amigo.

— Por ele? Não. Estou fazendo o possível. Mas se não querem ver mais ninguém nessa situação, precisam trazer os peixes de volta.

— Então faremos isso. – Concluiu Neteyam com seriedade antes de sair sozinho, cumprimentando Ronal e deixando Ao'nung.

O herdeiro suspirou, sabendo que não poderiam partir sem resolver a tensão que havia se colocado sobre ambos. Ele ainda se sentia culpado e enquanto essa sensação não saísse de seu peito, o foco não seria na missão, o que poderia complicar tudo.

— Não se preocupe, Rotxo. – Disse Ao'nung, com cuidado. – Vamos trazer os peixes de volta. Mas seja forte. Estaremos todos esperando você.

Antes de dar meia volta e sair, o Metkayina sentiu o coração quebrar ao ver ao lado de Rotxo, a pequena frutinha amarela que entregou a Onali na noite passada. Mesmo diante do medo da perda, a pequena separou uma para o pai, exatamente como tinha pedido a ela.

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Where stories live. Discover now