14. A Mãe

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Notas Iniciais

Depois de tanto sofrimento, merecemos uma centelha de esperança


***

Hold your breath for a while (Prenda a respiração por um tempo)

Always some hope in denial (Sempre há alguma esperança na negação)

What is lost might just come back (O que está perdido pode simplesmente voltar)

Near Town – The Amazing Broken Man



Tai'Ren estava pendurado em um galho alto.

Ele não sabia como tinha conseguido subir na árvore ao ponto de alcançar aquele lugar, mas aproveitou para se divertir, balançando as pernas para frente e para trás. Para ele, a sensação era de estar voando. Sua inocência não lhe permitia entender quais os perigos envolvidos naquilo. O som ameno da floresta embalava a brincadeira, acolhendo-o como um bebê.

No entanto, um choro alto e desolado o fez perder momentaneamente a concentração. Ele reconhecia aquela voz.

— Neteyam...?

A parada súbita do impulso o fez apoiar muito o peso em uma região mais frágil do galho. Imediatamente a fina madeira se partiu e o garoto caiu batendo e rolando na grama alta com um grito assustado. O corpo pequeno parou bruscamente em um arbusto e depois de alguns segundos assimilando a queda, vendo os joelhos e braços ralados e sangrando, ele chorou, coçando os olhos e balbuciando palavras irreconhecíveis por conta dos soluços.

O som do sofrimento de Neteyam já tinha desaparecido e o menino ficou focado na própria dor, sentindo o corpo todo protestando, querendo algum acolhimento ou colo. Longos segundos se passaram até que um cheiro gostoso lhe envolveu, com um frescor familiar, feito para aqueles momentos de tristeza.

Fungando, interessado pelo cheiro, Tai'Ren se levantou ainda soluçando baixinho. Só então ele percebeu que logo atrás do arbusto onde estava era a clareira, mas parecia vazia. Onde estava Ao'nung e Neteyam?

Com os joelhos ardendo e doloridos, Tai'Ren se voltou para a direção do cheiro, deixando a clareira vazia para trás. Conforme avançava naquela parte da floresta que conhecia tão bem, escutava o suave farfalhar das árvores, como se abrissem caminho para que ele passasse. De repente, ele sabia que não estava sozinho.

Passando os dedos sobre as bochechas molhadas, adentrou em uma pequena trilha cercada de arbustos espinhentos e coloridos. Não gostava daquelas plantas, porém, a trilha pareceu ficar maior conforme o vento ameno afastava o perigo dele, como se o chamasse para mostrar algo.

Os ombros magros ainda tinham leves espasmos pelo choro de antes, mas conforme se aproximava de uma árvore incrivelmente grande, o frescor no ar parecia lhe acalmar. Caminhou até ficar de frente para a árvore enorme, cujas folhas verdes pareciam balançar no céu.

O vento soprou cheiroso outra vez e uma figura feminina apareceu, sentando-se entre as raízes gigantes.

— Mãe! – Gritou, alegre.

Ela não respondeu, mas seu rosto carregava um semblante gentil quando acolheu o menino nos braços protetoramente. Tai'Ren fechou os olhos inchados de choro, sorrindo ao receber o carinho, mas logo ele se lembrou da queda:

— Olha. – Ele mostrou os joelhos e braços. Ver o sangue fez sua voz embargar outra vez, comprimindo os lábios em uma cara de choro. – Dodói.

Ainda muito suave, ela esticou um dos braços para dentro do espaço entre as raízes da árvore alta. A dimensão permitia até uma criança se enfiar ali. A brisa amena os embalou e quase no mesmo momento pétalas amareladas e de aspecto suado caíram em sua mão, que ainda estava dentro da árvore.

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Onde histórias criam vida. Descubra agora