20. Guiados para os seus destinos

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I was looking for a breath of life (Eu procurava por um sopro de vida)

For a little touch of heavenly light (Por um pequeno toque de luz celestial)

But all the choirs in my head sang no (Mas todos os coros da minha cabeça cantaram "não")

Breath of life – Florence and the machine


Aneya sentiu calor e leveza de uma forma que nunca havia desfrutado antes. Não conseguia abrir os olhos, mas nem precisava também. Estava flutuando. Não sabia onde e sinceramente, não tinha medo algum.

A cada inspiração seu peito se preenchia daquela força arrebatadora, porém estranhamente delicada. Era morno como mergulhar nos recifes. Um abraço etéreo e protetor, um fôlego novo, a cura para as moléstias.

Era tudo de bom que o mundo tinha a oferecer.

Não tinha palavras para explicar, por isso, deixou-se flutuar, gravitar em torno de algo que seus olhos jamais alcançariam. Suas orelhas captavam apenas um som ameno de folhas farfalhando, energéticas. Poderia ficar ali pra sempre. Não tinha dor, preocupação... na verdade, não tinha nada além do eterno abraço.

Contudo, como se fosse necessário recordá-lo de algo, suas orelhas foram além, absorvendo um som que parecia distante, não apenas fisicamente, mas no tempo. Como se pertencesse a uma outra vida. 

Havia um certo grau de familiaridade, mas não passava disso. Não lhe despertou interesse momentâneo, mas conforme as notas lhe rodeavam, uma pequena centelha gritou em seus pensamentos, urgente.

Tai'Ren. Sua voz.

A cantoria distante havia lhe trazido a primeira imagem para sua mente entregue ao vazio. Porém, assim que a visão do rosto do garoto sorridente, cercado de tranças e ornado de brincos de penas coloridas se fez presente, tudo mudou.

Aneya se viu de repente obrigado a se reconectar com aquela outra parte de si, esquecida. Seu corpo. Os males físicos. A dor que banhava o mundo real. O sangue que escorria pela terra onde seus ancestrais jaziam.

Tudo estava de volta. O calor do abraço etéreo desapareceu quando ele escolheu se agarrar ao rosto do menino que cantava. Quis chorar quando a presença amena e que preenchia seus pulmões desapareceu e ele começou a cair, deixando de gravitar aquele astro que o tinha nas mãos. Expulso de sua proteção e entregue novamente às mazelas.

No momento em que os olhos se abriram, chorou. Não se recordava do outro plano ou do cuidado ao qual estava envolvido, mas sua alma sentia falta daquilo. E essa sensação de perda se converteu em lágrimas grossas.

Aneya tinha retornado.

****

Kaya suspirou, empurrando o jovem pupilo outra vez para os cuidados da líder espiritual Tawkami.

— Me solta! – Gritou o Metkayina, ensandecido. O corpo moído pelas perfurações em nada diminuíam sua vontade lutar. – Eu vou trazê-lo de volta!

— Já chega. – Ela tentou soar autoritária, mas como imaginou, ele não perdeu o semblante franzido. – Obedeça a tsahik.

— Aneya, você precisa melhorar se quiser salvar o Tai'Ren. – A líder Tawkami tentou convencê-lo, em um tom mais gentil.

— Já faz dias! Estamos perdendo tempo demais! – Cuspiu ele. – O que estão esperando!? Eles virem até aqui com o arsenal completo?

— O que pretende conseguir saindo daqui se mal consegue andar? – Inquiriu Kaya.

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Where stories live. Discover now