3. Diante das marés

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Oh - thinkin' about all our younger years (Pensando nos nossos tempos de juventude)

There was only you and me (Só existia eu e você)

We were young and wild and free (Éramos jovens, selvagens e livres)

Now nothin' can take you away from me (Agora nada pode lhe manter longe de mim)

Bryan Adams - Heaven


Era a quarta vez que Neteyam pausava sua viagem. Ele dizia ao seu ikran que era para descansar, mas ambos sabiam que aguentavam voos muito mais longos e difíceis. A verdade é que o rapaz estava com medo. Passara tanto anos imaginando o dia em que poderia voltar para os recifes, que nunca parou para pensar em como reagiriam com a sua volta. Tanta coisa havia acontecido desde a última vez que voou pelo oceano.

E Ao'nung, como reagiria?

Neteyam soltou um suspiro deprimido. A despedida da última vez que se viram não tinha sido boa. Deveria ter consertado as coisas quando teve a chance, agora estava inseguro com a possibilidade de seu companheiro não nutrir o mesmo amor de antes. Suas mãos tremeram levemente ao cogitar essa possibilidade.

Sabendo que não chegaria a lugar algum com esses pensamentos, Neteyam outra vez se posicionou para seguir seu caminho, tentando acalmar seu coração descompassado.

***

O dia de Ao'nung começava logo que a luz do dia adentrava o marui onde morava com seus pais e seu irmão mais novo, Yu'tan, que já tinha dez anos. Como o principal caçador e mergulhador do clã depois de seu pai, Ao'nung tinha uma série de tarefas que precisava cumprir diariamente, que iam desde treinar os jovens guerreiros até pescar e ajudar sua mãe com as ervas medicinais que precisavam ser colhidas em diversos cantos do arquipélago.

Apesar do cansaço, ele preferia assim. Dias turbulentos deixavam sua mente ocupada e evitavam que pensasse nas desavenças com os anciões e conselheiros do Clã. O fato dele continuar rejeitando cada uma das mulheres que lhe direcionavam gerou um grande descontentamento. Era incabível para os mais velhos a ideia de Ao'nung ter entregado seus sentimentos a outro homem que sequer era um Metkayina e pior, com sangue de demônio!

No início, estas discussões o estressavam profundamente. Agora, no entanto, Ao'nung apenas escutava o que quer que fosse e partia para continuar seu trabalho da melhor maneira possível. Às vezes sentia falta de sua adolescência, onde tudo o que lhe irritava podia ser resolvido em brigas idiotas. Quando se é adulto tudo fica mais complicado, cada decisão tomada parecia pesar o dobro, e suas consequências ainda mais.

Balançando sua cabeça para acabar com as reflexões, o herdeiro chamou seu ilu e montou no animal para iniciar a pescaria. O mar estava calmo como de costume. Os peixes de diversas cores e tamanhos seguiam caminhos opostos, espalhando-se entre os corais em uma sintonia orquestrada.

Ao'nung sorriu ao passar entre eles, assuntando alguns peixes menores. Ele seguiu mar adentro, mais fundo e onde sabia estar os peixes maiores e bons para pesca. Instruiu seu ilu a se esgueirar pelo mar, em busca dos alvos. Seu companheiro de mergulho passou agilmente pelas rochas submersas e plantas subaquáticas, girando e soltando um som que aparentemente era por estar feliz pela aventura.

Ao'nung pensou por um momento nos tempos em que nadava junto com Tsireya horas a fio, apostando corridas e fazendo acrobacias. Seu coração pesou um pouco de saudade. Embora soubesse o quanto ela estava feliz ao lado do homem que amava, era impossível não se sentir solitário com sua partida. Os pensamentos tristonhos cortaram seu foco e ele errou a mira diante do primeiro peixe, que nadou rapidamente para longe do perigo.

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon