7. Caminhos traçados pela razão e pelo coração

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Esperamos pela vida vivendo só de guerra

Biquini - Múmias


O dia chegava ao seu final quando Ao'nung suspirou, exausto. Tinha acabado de ir verificar se os peixes que haviam pescado seriam suficientes para alimentar todos os ilus e se aliviou ao saber que sim. Infelizmente, sem os grandes peixes, o povo Metkayina agora precisava sobreviver dos peixes menores, que até então eram especialmente dos ilus e dos tsurak. Portanto, agora precisavam dividir comida com seus companheiros marinhos.

Além disso, ele passou a manhã ajudando alguns membros mais velhos do clã, que não tinham ido na missão com Tonowari, a coletar madeira. O trabalho era árduo, mas necessário. Mesmo que tivesse cochilado a tarde depois de reencontrar Neteyam, houve muito o que fazer antes do pôr do sol. Checou as novas redes de pesca, ajudou na manutenção de alguns maruís mais antigos e finalmente verificou se havia comida para os ilus. Agora, caminhava cansado com uma pequena cesta de frutas na mão, que havia ganhado de uma senhora Metkayina por ter restaurado sua casa. As pequenas frutas amarelas eram muito doces e saborosas. Neteyam tinha se apaixonado por elas.

Os pensamentos, no entanto, foram quebrados quando viu Onali sentada na areia sozinha, com os olhos grandes focados no oceano a frente. Ela tinha ombros caídos e um semblante preocupado. Agora com 7 anos, estava bem maior do que no dia que se uniu a Neteyam.

- Está tudo bem, Onali?

Ela deu de ombros, ainda cabisbaixa.

- Você acha que meu pai vai voltar bem, tio?

Ao'nung se sentou ao lado dela, com um sorriso leve. O fato de Rotxo ser seu melhor amigo, fez com que ela se acostumasse não só com a sua presença durante seu crescimento, mas com a de Neteyam também, o que a fez começar a chamá-los de "tio Ao'nung" e "tio Neteyam".

Ambos achavam uma graça e nunca reclamaram.

- Ele vai sim. Eu cresci com Rotxo, seu pai é um cara durão.

- Mas ouvi todos dizerem que essas missões são muito perigosas. - Onali se encolheu. - E se meu pai morrer? Eu não sei se consigo proteger minha mãe e meus avós, ainda sou criança!

- Não pense nessas coisas. Ele não vai morrer. - Respondeu, gentil. - Sabe por quê?

Onali negou com a cabeça.

- Porque nessa missão só foram os mais corajosos e fortes guerreiros Metkayina.

- Então por que você e o tio Neteyam estão aqui? - O rostinho dela estava franzido. - Vocês também são fortes e corajosos.

Ao'nung riu.

- Sim, nós somos. Mas alguém precisa ficar e proteger as crianças e os mais velhos, não acha?

Obviamente, não era apenas por isso. Ao'nung estava com o coração apertado por não ter ido, mas era arriscado demais mandar o atual Olo'eyktan e seu sucessor, afinal, se ambos morressem durante a missão, Yu'tan seria o próximo da linhagem, já que Tsireya agora era uma Omatikaya, mas com apenas 13 anos, ele jamais poderia governar. O que resultaria em um grande problema para o povo, por isso, era essencial preservar a linhagem.

Onali assentiu e depois de alguns segundos em silêncio, falou:

- Tio, você acha que um dia eu também vou ser corajosa e forte para poder ir além do recife?

Ele sorriu ao ver os olhinhos azuis brilhantes esperando uma resposta.

- Corajosa você já é. Mas ainda precisa crescer, pra poder treinar e se tornar uma caçadora. É isso que você quer?

Always Somewhere (Aonung x Neteyam)Where stories live. Discover now