Capítulo 01 - Bruno

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Eu abro os olhos quando o carro para e, aparentemente, isso é o suficiente para minha mãe achar que estou bem para conversar depois que me obrigou a dirigir por horas. Pelo menos até entrarmos em uma estrada de terra, onde ela assumiu o volante.

Já faz muito tempo que meu pai foi nos visitar depois que casou novamente e, a não ser que ele tenha sofrido algum acidente com trator, cavalo ou seja lá com o quê trabalha, não vejo motivos para vir até aqui. Por isso tivemos uma discussão antes que eu fosse obrigado a preparar a mochila e por isso eu não quero falar com a minha mãe agora.

— Seu pai e eu conversamos e decidimos que você vai passar um tempo com ele e a Isabel na fazenda.

— O quê? — meus fones tocam uma música baixa, mas deve ter sido o suficiente para eu ter ouvido errado - O que você disse, dona Marta?

— As crianças de hoje em dia não respeitam mais os pais mesmo... — ela praticamente sussurrou, fechando os olhos lentamente e respirando fundo antes de girar a chave e desligar o motor do carro — eu disse, Bruno, que seu pai e eu conversamos e...

— Ok, agora vocês conversam?

— Não gosto que me responda assim, você pode fazer o favor de me deixar falar? — ela franze o cenho, se apoiando com uma mão no volante enquanto me encara.

Nós geralmente nos damos bem, afinal desde que meus pais se divorciaram, fomos só eu e a minha mãe por muito tempo. Ela trabalhava para nos alimentar, afinal desde os meus dezesseis anos não recebemos nada do meu pai, e eu estudava para conseguir um bom emprego e ter um bom salário.

A minha tarefa sempre foi a mais fácil, tecnicamente, e eu consegui mantê-la bem até decair um pouco no ensino médio e, no fim, acabar não conseguindo bolsa para nenhum dos cursos que optei para a faculdade. Esse inclusive foi o principal motivo para discutirmos e, aparentemente, me querer longe de casa.

— Você vai ficar com o seu pai e a Isabel por um tempo, aqui — fico quieto e desvio o olhar para fora do carro, esperando que ela continue, talvez com uma explicação convincente.

Se toda essa extensão de terra à lateral e aos fundos da casa forem de meu pai ou da Isabel, não vejo porque não posso cursar até mesmo uma faculdade particular. Há algumas cabeças de gado pastando, enquanto um homem montado em um cavalo circula as observando.

— Você está se livrando de mim porque eu não vou cursar faculdade, é isso?

— Não quero que pense que tem a ver com você ter ou não entrado na faculdade, nós só achamos que aqui você pode ter um ambiente mais calmo para estudar para os vestibulares do próximo semestre e pode ajudar na fazenda ou na loja da Isabel para ganhar dinheiro.

— Mãe, eu posso arrumar emprego na cidade em que moramos.

— Você acha que está tão fácil assim conseguir emprego? Ainda mais um garoto de dezessete anos sem experiência alguma?

— Eu já tenho quase dezoito, posso espalhar currículo pela cidade ou perguntar para o pai da Bia se ele não precisa de alguma ajuda.

— Você não vai descarregar caminhão de madrugada com o Joaquim, Deus sabe o que eles tiram daquelas caixas.

— Mas e a Bia? Você não pensou em mim e na minha namorada e em como a gente vai ter que enfrentar... — checo o horário no celular — duas horas e meia de viagem para conseguir se ver?

— Meu amor... vocês são muito jovens para pensar demais em relacionamento e, se for para dar certo, vocês darão um jeito. Tenho certeza que o Alexandre vai deixar a Beatriz passar os finais de semana com você.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now