Capítulo 18 - Leonardo

78 11 34
                                    

Bruno não me acompanhou até o casarão e eu não o forcei a fazer isso. Enquanto caminho para dentro, levando a xícara que ele trouxe, pude ver o momento em que se dirigiu até meu cavalo. Não faço a mínima ideia se ele gosta de animais e, por mais que eu queira muito saber disso ou ao menos parar para observá-lo, preciso mesmo de um banho antes de irmos para a cidade. De todo modo, provavelmente ele ainda precise pensar um pouco e talvez o melhor seja deixá-lo sozinho.

Deixo as botas sujas na entrada, fazendo uma nota mental para limpá-las assim que puder, e sigo para a cozinha. Consigo ver minha mãe e Alexandre sentados próximos um ao outro, distraídos em uma conversa baixa.

— Graças a Deus ela tá viva! — a voz de minha mãe era como um grito sussurrado, isso me ligou um certo alerta, por isso diminui os passos.

— É, mas só porque os caras não vão deixar de receber o que investiram... esse pessoal não dá ponto sem nó — Alexandre balança um pouco a cabeça.

— Do que vocês estão falando?

— O quê? — eles se assustam quando falo e me culpo um pouco por tê-lo feito, mesmo que me arrependa de não ter ficado ouvindo um pouco mais — a gente...

— Bom dia, filho — mamãe toma a palavra, sorrindo sem graça ao levantar rápido, recolhendo os copos em que bebiam — a gente tava comentando sobre um caso que vimos no jornal na noite passada, nada demais... vocês já tomaram café?

— Sim — caminho até ela, a cumprimentando com um beijo na bochecha e deixando a xícara na pia — tomei antes de levar as vacas pra pastar, vou tomar um banho agora pra gente ir pra cidade.

— É, tá precisando mesmo... — ela finge sentir o mal-cheiro, sacudindo um guardanapo e eu percebo, ao sair do cômodo, uma risada sem graça de Xande.

Estranho o fato de meu padrasto não falar mais nada e, mesmo que ambos estejam um tanto estranhos após eu ter ouvido sua conversa, prefiro não pensar muito nisso. Não faz muito sentido que estejam se referindo a alguém que conhecemos, afinal não há motivos para mentir a respeito de algo aparentemente sério.

Depois que saí do banho, não demorei no quarto tempo o suficiente para arrumar a bagunça que deixei acumular, nem mesmo os lençóis foram trocados, mas eu planejei fazê-lo assim que retornássemos. O dia tinha tudo para ser corrido, cheio de afazeres no mercado desde muito cedo, então eu não podia adiar mais a ida para a cidade.

No caminho, notei o garoto no banco ao meu lado distraído, às vezes olhando para o mato verde que cercava a estrada, às vezes virando seu rosto para mim e forçando um sorriso. Quero que se sinta bem consigo mesmo, que possa se sentir seguro para falar para as outras pessoas que está gostando e ficando com um garoto, ou simplesmente seguro o suficiente para não precisar falar, mas não sei o que mais posso falar para ele agora, por isso me limito a segurar sua mão e acariciá-la enquanto dirijo, às vezes arriscando olhá-lo, mas voltando a focar na estrada à frente quando retribui o olhar, me envergonhando por ainda me sentir intimidado por aqueles olhos escuros e, porra, lindos.

***

Consegui convencer Bruno de que eu poderia lidar com a descarga das caixas de mercadorias ao garantir que ele poderia me ajudar com a conferência delas, no depósito, contanto que não precisasse atender nenhum cliente. Mal abrimos o mercado quando o primeiro caminhão estacionou à frente do estabelecimento e tivemos com o que nos ocupar. Isso durou durante toda a manhã e teria nos ocupado a tarde inteira se uma das entregas não tivesse ficado presa no Posto Fiscal para selagem da nota.

O garoto continuou quieto enquanto trabalhávamos, especialmente na presença dos entregadores das distribuidoras, quando evitava ficar até mesmo perto o suficiente para que eu pudesse tocá-lo. Em alguns momentos, me perguntei se ele estava inseguro e ainda tinha vergonha de que soubessem sobre nós, mesmo que se tratando de desconhecidos, mas tentei me convencer que não se referia a isso, afinal ele garantiu mais cedo que ainda quer ficar comigo e que, principalmente, não quer me fazer um segredo seu.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now