Capítulo 06 - Leonardo

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Olhar para esse garoto enquanto dorme é extremamente estranho e ao mesmo tempo tranquilizador. É mais fácil mirar seu rosto quando aqueles olhos misteriosos e um tanto pesados não estão sobre mim. Ele parece um Bruno diferente, inocente, um que está livre de tudo o que pode ter lhe machucado para que bebesse tanto na noite passada.

Mesmo que não nos conheçamos a muito tempo, e talvez eu sequer saiba nada a seu respeito, algo dentro de mim me faz querer protegê-lo. Não só pelo fato de ele provavelmente estar com a cabeça cheia com tudo o que deixou escapar ontem a noite - rejeição à faculdade, depois a mudança e, agora, o término do namoro - mas principalmente por isso.

Bruno com certeza desperta algum tipo de desejo em mim, eu tive certeza disso quando seus toques inocentes e todos aqueles elogios no caminho para casa ontem a noite me incomodaram, mas não posso deixar que isso seja mais um problema para ele, principalmente quando estou ciente de que acabou de sair de um relacionamento com uma garota.

Ainda assim não quero me distanciar, por isso além de um analgésico com um copo de água, deixei uma caneca com chá de gengibre sobre a mesa de cabeceira, tomei cuidado para deixar doce o suficiente para o toque apimentado da raiz passasse despercebido.

Minha mãe provavelmente dormiria até mais tarde hoje, isso geralmente acontece quando passa até tarde nos sábados vendo filmes com Xande. Então, antes de vir para o celeiro tentar colocar a minha cabeça no lugar, deixo o café da manhã pronto para quando levantarem.

Penso em pegar o violão e tocar algo, talvez somente algumas notas avulsas que ajudem a me distrair, mas me parece cedo demais para isso. Então decido por fumar um cigarro, ainda tenho alguns no porta-luvas. Quando o acendo, trago bastante e logo solto a fumaça para dentro do carro, decido por ligar o rádio em um volume baixo e, claro, abrir as janelas para não morrer sufocado.

Daqui consigo ouvir quando o chuveiro do banheiro de cima é ligado e é inevitável não imaginar a água caindo na pele branca, quase que pálida se contrastada com os cabelos bem pretos, de Bruno. Talvez nem seja ele que esteja tomando banho agora, afinal o quarto de minha mãe também fica no andar de cima, mas eu apostava que era.

Começo a imaginá-lo de frente ao espelho, só de toalha, tirando de seu rosto bonito aqueles poucos pelos curtos que começavam a aparecer enquanto as gotas de água ainda estavam sobre a pele nua de suas costas. Até que me imagino tirando-lhe a toalha, tocando seu corpo por trás, apalpando sua bunda macia e o sentindo arrepiar com meu toque. Enquanto isso, deixo que minha mão entrar pelo elástico da cueca, dentro do meu short, e sinto o quão duro estou. Parece errado imaginá-lo assim, parece mais errado ainda desejá-lo depois de ter certeza de que não quero mais uma confusão para a vida dele.

Então sinto o ar ficar pesado e com certeza culparia o cigarro se não tivesse acabado com ele há algum tempo. Não percebi que o chuveiro havia sido desligado e também não havia percebido quando ele entrou ali, mas assim que o noto, me endireito no banco, talvez um pouco sem jeito, para que não perceba que ainda há um volume em meu short.

— E aí...

— Oi — ele parece hesitar para continuar, então eu abro a porta da caminhonete e me afasto, ele não entra, mas se inclina, apoiado no capô com um braço enquanto o outro segura na porta — eu só queria... te agradecer.

Gosto de como sua voz parece mais rouca pela manhã, mesmo que falada de forma tão baixa. Ele parece buscar meus olhos, mas ainda não estou tão seguro ao encará-lo, não quando eles me afetam de forma tão intensa. Me pergunto se é perceptível como evito o seu olhar e me pergunto também como ele pode interpretar tal atitude.

— Quero te agradecer por ter cuidado para que eu chegasse em segurança e também pelo remédio e pelo chá — Bruno fala um pouco mais rápido, talvez não estivesse acostumado a agradecer ou talvez não estivesse acostumado a beber tanto e estivesse com vergonha, não consigo ter certeza — e quero pedir desculpas por...

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now