Capítulo 02 - Leonardo

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O garoto parecia calado quando o vi pelo vidro da porta. Estava com minha mãe, provavelmente olhando as fotografias de quando a gente era pequeno. Não consegui ver seu rosto até que tropecei na mochila idiota dele e por pouco não caí com a cara no chão. A pele de seu rosto é branca e limpa, destacada pelos cabelos pretos em um corte bonito e há pelos que não dá para chamar de barba crescendo em seu queixo também. Ele tem um olhar misterioso, mas ao mesmo tempo um tanto presunçoso.

Ele me encara como se estivesse me analisando e isso, somado ao fato de eu ter que sair do meu quarto para "que o menino se sinta confortável" me irrita um pouco mais. Por isso aperto sua mão com força, mas me surpreende ele ter feito o mesmo. Bruno levanta a cabeça quando diz seu nome e olhar em seus olhos escuros me faz arrepiar. Por alguns segundos eu esqueço que ele é o motivo de eu ter trabalhado mais que o normal nesse fim de semana ao ter me mudar para o meu antigo quarto - o menor, perto da cozinha.

— Que bom que chegou Leo, por que não ajuda Bruno a levar as malas lá pra cima?

— Acho que ele pode fazer isso sozinho, mãe.

Eu não soei grosseiro com a minha mãe, ao menos não na minha opinião. Ainda assim vou me desculpar com ela depois, pois os deixei na sala e voltei para fora. Acho melhor que o garoto tome meu quarto sozinho enquanto os adultos resolvem seja lá o que têm que resolver para a estadia dele com a gente.

Não entendi muito bem quando me falaram que o filho do meu padrasto viria morar com a gente. Aparentemente ele precisa de um emprego enquanto estuda para o vestibular e ajudar no Mercado da família foi a melhor opção. Também não me importa com como eles resolvem a vida dele, por mais que pareça grande demais para que decidam por ele o que vai fazer.

Volto para o celeiro que nos serve mais de garagem e depósito de velharias do que mesmo um celeiro. Gosto de ficar com minha caminhonete enquanto fumo um cigarro ou tomo uma cerveja. Às vezes os dois, às vezes nenhum. Como agora, algumas dessas vezes venho aqui e só fico sentado perdido em meus pensamentos, gosto de fazer isso quando estou sozinho.

Talvez eu tenha sido grosso demais com o garoto. Quem sabe ele possa estar se sentindo um pouco deslocado e eu agir como se ele estivesse me roubando fosse exagero de minha parte. Me sinto um pouco mal por tê-lo recebido assim, mas parte de mim gostou da forma como ele reagiu: como se não quisesse ser intimidado.

Talvez ele seja um típico garoto de cidade grande, presunçoso e esquentadinho, mas talvez ele seja só um garoto tímido e estudioso demais que acabou deixando algumas coisas para trás e, quem sabe, aproveitar para viver um pouco com o pai. Eu gostaria de fazer isso se tivesse essa opção.

— Merda...

Sequer cheguei a abrir a porta do carro. Quando voltei para dentro, a mochila e a mala que estavam na sala já não estavam mais. Pude ouvir as vozes de Alexandre, minha mãe e de outra mulher na cozinha. Penso em entrar no meu novo quarto, que fica entre a sala e a cozinha, mas subo as escadas ao lado da porta.

É estranho, mas me sinto nervoso quando chego à porta. Quero me desculpar por ter sido rude e perguntar se podemos começar de novo. Geralmente funciona nos filmes. Mas quando o vejo desabotoando a calça jeans esse pensamento sai da minha cabeça. Então eu tusso de uma forma um pouco forçada para que me olhe. Ele para o que estava prestes a fazer e se vira para a porta, erguendo as sobrancelhas e me encarando.

— Eu... — seus olhos parecem um pouco intimidantes, acabo perdendo a voz quando abro a boca.

— Não precisa ser legal comigo só porque sua mãe te pediu, Leonardo, eu consigo me virar aqui.

— Eu não... — seu tom de voz ao acreditar que vim ajudá-lo me irritou um pouco.

— Não preciso que goste de mim, afinal não vim fazer amizades, nem mesmo eu queria ter vindo — solto uma risada nasal e consigo notar um incômodo vindo dele — o que está achando engraçado?

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now