Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)

Capítulo 04 - Leonardo

Antes mesmo de passar pela estrada estreita entre as árvores ao redor do grande lago e estacionar a caminhonete à clareira, eu consigo ver que meus amigos já acenderam a fogueira. Normalmente conseguimos ouvir o som dos sapos no outro lado da água e dos pássaros noturnos na escuridão ao nosso redor, mas hoje as suas risada estão mais altas que a própria natureza, provavelmente já beberam algo.

— Olha lá, Paulinha, parece que o nosso leãozinho trocou a juba pelo chapéu de palha... — eu noto o garoto ao meu lado tentando esconder o sorriso após o comentário de Bahia.

— Acho até que combinou com ele — Paula levanta de sua cadeirinha de montar e me abraça, continuando, baixo — cara não sei quanto mais eu ia aguentar sem você aqui, eles ficam bêbados muito rápido!

Paulinha está de com um conjunto de short e camiseta pretos, que contrasta bem com a pele branca dela, iluminada pelo luar e a luz da fogueira. Ela sempre trás uma cadeira pequena de montar enquanto os outros forram o chão com qualquer tecido ou lona. Vejo o casaco deixado na cadeira e também vejo um litro de vodca ao lado.

— Bruno — eu aponto para ele e ela sorri em cumprimento..

— Oi, ouvi falar muito de você — ela cruza os braços na frente do corpo e revira os olhos quando nota minha sobrancelha erguida — vem, vamos beber algo antes que você congele nesse frio.

Bruno provavelmente esteja com frio, mas não acho que ele faça o tipo que diz isso pra alguém. Principalmente quando ele não trouxe um casaco. Eu não falei para ele ainda, mas trouxe um extra quando pensei na possibilidade de ele não pensar nisso.

— E aí — Bruno cumprimenta os outros do círculo.

— O engraçadinho com o gorro horrível ali é Marcos, mas a gente chama ele de Bahia — eu sento no chão de um lado da cadeira de Paula enquanto apresenta a todos para Bruno que também está se sentando — Larissa, a loira, e esse negro maravilhoso que vai levantando pela segunda vez na noite pra ir no banheiro é Mica. Até onde eu sei, estamos todos solteiros, só pra constar...

— Pode chamar de Micael, se quiser — ele diz antes de nos dar as costas e andar alguns passos no escuro longe da fogueira, então grita — e eu só tô mijando de novo porque comi melancia no jantar.

Mica é o único de nós que tem dinheiro o suficiente para viajar o mundo, se quisesse, mas sempre diz que tem tudo o que quer por aqui. Ele é dono de uma loja de eletrônicos no Centro, o maior de três bairros da cidade a que a nossa fazenda pertence, e mora sozinho desde que a avó faleceu no ano passado.

— Você falando assim vai acabar convencendo Bruno de que somos mesmo caipiras — Mica se vira pra mim, ele gosta de se exibir, por isso faz questão de ajustar a calça antes de fechar o zíper enquanto me encara, exibindo os pelos que sobem de seu pau até o umbigo.

— Não comem melancia na sua cidade, Bruno? — o garoto simplesmente ri, sem jeito.

Bruno parece deslocado e eu me sinto um pouco mal por isso. No fundo eu quero que ele acabe se enturmando com meus amigos e, quem sabe, consiga se dar bem aqui. Quando olho para ele, sentado do outro lado de Paula e recebendo de sua mãe a garrafa de vodca, ele a levanta e mira meus olhos de um jeito provocante. Talvez já tenha noção do quanto seu olhar me afeta, mesmo em tão pouco tempo que nos conhecemos, mas talvez seja só minha cabeça me confundindo.

— Acho que o único que parece um caipira é o Leo — ele toma da garrafa, diretamente na boca sem sequer fazer careta — ele é o único com um chapéu aqui.

— Tá vendo, eu disse que ele era divertido — Paulinha pega a garrafa da mão dele e o imita ao levar o litro à boca.

A noite foi passando tranquilamente, com todos conversando e, geralmente, tentando manter o "garoto novo" enturmado. Às vezes lhe perguntavam sobre a sua vida na cidade grande e ele respondia vagamente que ou estava na escola ou jogando futebol com os amigos, às vezes ele arriscava perguntar sobre o que os outros faziam por aqui, e eles lhe davam histórias falsas sobre adultério ou tráfico de drogas, o que nos divertia.