Capítulo 32 - Leonardo

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Não tenho certeza se Bruno chegou a ouvir quando seu pai contou que Marta havia pedido dinheiro emprestado a alguém perigoso, ou que as ameaças que recebera por não pagar o que devia no tempo estipulado passaram a ser físicas há alguns dias. Tampouco deve ter ouvido que ela estava bem, apesar de alguns machucados e extrema preocupação com o filho, antes de correr para as escadas e bater a porta do quarto. Sequer tivemos tempo de nos mover para impedi-lo.

Olho para minha mãe à procura de alguma explicação, talvez esperando que ela desmentisse Xande e dissesse que Marta estava realmente bem, que não havia problema algum com ela, mas eu sei que não é mentira. Assim como sei que não foi apenas para estudar ou trabalhar no mercado que a mãe de meu namorado o trouxe às pressas para a fazenda e, dias depois, passou a ignorar suas mensagens.

Não posso ter certeza de todos os pensamentos que passam pela cabeça de Bruno agora, também não consigo imaginar o quão conflitantes podem ser seus sentimentos, mas sei que ele irá querer ver sua mãe, mesmo com o perigo que possa correr o fazendo. Saber disso é o que preciso para sair dos meus próprios pensamentos.

— Ele vai... acho que ele vai demorar um pouco pra processar tudo e... eu vou com ele, tá bom? Só... fiquem de olho enquanto eu tomo banho, acho que tô precisando de um.

O homem sentado à mesa apenas suspira, talvez preocupado com a ex-esposa e com o filho, talvez apenas pensando e sentindo demais como a maioria de nós, mas minha mãe faz que sim e isso é o suficiente para que eu os deixe e me dirija até o banheiro de baixo.

***

Após sair do banho, o qual não tive tempo para pensar em muita coisa pois precisei ser rápido, preparo uma mochila com roupas e alguns lanches de emergência, afinal não sei exatamente quão longe é a cidade nem quanto tempo demoraremos lá. Então a deixo ao pé da escada e subo até o quarto de meu namorado.

Bruno já está com a mochila pronta sobre a cama e acabando de vestir uma camiseta quando bato e abro a porta logo em seguida. Ele apenas me olha de canto e somente isso já faz com que eu sinta um breve aperto no peito. Queria ter corrido atrás dele no momento em que deixou a cozinha, mas não quis arriscar uma discussão, sei que estamos diferentes um com o outro de quando nos conhecemos, mas ele ainda é o mesmo garoto teimoso e orgulhoso, e isso com certeza o faria me expulsar e dizer que queria ficar sozinho. Fico feliz por não ser o que acontece agora.

— Eu preciso ver como ela está — ainda sem me olhar diretamente, ele parece um tanto tenso ao se agachar e procurar algo nas gavetas.

— Eu sei...

— Eu preciso ver com meus próprios olhos como minha mãe está, Leonardo — ele fecha a gaveta e apoia a cabeça na porta do guarda-roupa, então eu me aproximo e me agacho ao seu lado. Sei que está chorando e isso me quebra um pouco mais — você... sabe que eu não gosto de pedir, mas... — ele engole em seco, mas vira o rosto para mim e, nesse momento, preciso de forças não só para manter os meus olhos nos seus, mas também para não chorar por ver as lágrimas que os tomam — você pode me emprestar seu carro? Não acho que meu pai vá...

— Eu vou com você, Bruno — tento ser firme, mesmo que minha voz teime em falhar — já estou pronto caso queira ir agora.

— Certo, eu... tudo bem — ele se levanta de supetão e eu faço o mesmo, então, após esperar que pegue sua mochila, o acompanho até embaixo. Ele não diz mais nada, mas sei que sua cabeça ainda está tomada de pensamentos.

Minha mãe está ao pé da escada quando descemos e ela me entrega minha mochila. Pelo seu olhar, sei que está preocupada e sei também que essa preocupação se espalha para todos os membros da família. Ainda assim, ela apenas mexe no colarinho de minha camisa e força um sorriso um tanto triste para mim.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now