Capítulo 07 - Bruno

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Desde quando cheguei na zona urbana da cidade pude notar o quão pequena e singela ela é. As ruas são com calçamento de pedra, semelhante a algumas praças com que estou acostumado e as casas e estabelecimentos comerciais por pouco não podem ser confundidos. Quase todas as construções são do mesmo tamanho exceto pela igreja que consigo ver logo na entrada da cidade e, provavelmente, alguma escola que tenha por aqui. Tenho quase certeza que não há hospital por perto, mas me contenho para não perguntar e acabar parecendo presunçoso.

Leo ficou quieto durante todo o percurso até aqui, mesmo comigo o olhando do mesmo modo que o fiz na noite anterior. Notei como isso o incomodava e, de alguma forma, me pareceu uma boa alternativa para fazê-lo falar algo, afinal sempre fui ruim para iniciar conversas.

De início eu havia decidido revidar qualquer tipo de provocação ou tentativa de se sobressair comigo e, mesmo que sua forma descontraída e galanteadora de agir me deixe um pouco sem jeito, a verdade é que a presença dele me faz bem. Por isso tento me manter quieto pelo menos até que consiga falar algo que não estrague ainda mais o que pode estar sentindo para comigo.

Sei que falou que eu não precisava me desculpar, mas a forma como me trata desde cedo demonstra o contrário. Eu posso tê-lo impedido de ficar com alguém em específico e me lembro bem que agi de forma que o incomodou.

Pensar na possibilidade de que ele poderia vir à cidade somente para terminar o que teria combinado de fazer na noite anterior com Micael me faz querer impedi-lo mais uma vez. Por isso perguntei de prontidão se perderia vir com ele para a cidade e, ao chegarmos, perguntei se não queria me acompanhar enquanto estivéssemos por aqui. Eu não podia exigir que o fizesse, não quando não tenho total certeza do que pareço sentir ou quando talvez não possa lhe dar o que o outro garoto pode. E é por essa razão que eu me afasto de sua caminhonete e vou na direção da porta da casa dos fundos do mercado.

A rua lateral ao mercado de Isabel é limpa e contém alguns outros estabelecimentos, como dois frigoríficos, um ao lado do outro, e uma loja de eletrônicos, todos bem diferentes do que estou acostumado a ver, mas ainda assim fáceis de se distinguir.

— E aí, Bruno? — eu estava procurando as chaves para abrir a porta, mas me viro rápido quando ouço a voz feminina, que reconheço da noite passada — Você parece muito bem agora.

— Oi, Paulinha, tudo bem? — ela me abraça e eu congelo, não estou tão acostumado com isso - É... — coço a garganta — estou bem melhor que ontem.

— O quê tá fazendo na cidade num domingo?

— Eu vim com o Leo, achei que como eu não ia fazer nada... — noto quando ela coloca uma mão na cintura de forma casual, mas que me contenho para não falar que parece típico do interior — podia ser bom conhecer o lugar, dar uma volta, não sei.

— Ih, aqui não tem nada interessante — ela sorri e começa a andar, passando por mim — vem, tô indo lá no restaurante do seu Antônio comer uma panelada¹ com Bahia e Lari.

Larissa e Bahia, em determinado momento da noite passada, acabaram se restringindo um ao outro enquanto Paulinha estava sempre ao meu lado, muitas vezes iniciando conversas casuais e divertidas comigo. Talvez ela estivesse fazendo isso para agradar o melhor amigo ou simplesmente não querendo se mostrar uma pessoa ruim, mas talvez essa fosse simplesmente ela.

Por um breve instante, volto a pensar em Leo e, antes que eu possa imaginar o que ele está fazendo, decido que caminhar ao lado de alguém que conhece o lugar parece a melhor alternativa. Principalmente se isso me ajudar a esquecer o rosto bonito de Léo por um instante que for. Bonito.

— Merda...

— O que foi?

— Hum... nada! — um pouco sem jeito, eu a acompanhei.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now