Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)

Capítulo 16 - Leonardo

Bruno balança a cabeça quando não o respondo, rindo ironicamente. Sua pergunta foi inesperada e um pouco confusa para mim, não entendo o que quer dizer e não entendo o porquê de perguntar isso agora.

— O que quer dizer com isso? — minha pergunta é baixa, não sei exatamente a razão de minha voz soar assim.

— Você não é tão inocente... — ele leva a mão à trava da porta ao seu lado, mas imediatamente se volta para mim, inquieto — Qual é a de você e do Mica?

— O que o Mica... - só então consigo ligar os pontos, é isso — você tá com ciúmes? Meu Deus, não tem nada entre nós, somos só amigos.

— Claro... — Bruno olha para a frente, vejo seu peito encher e esvaziar rápido, então volta a me olhar — quer saber, que se fôda — seus olhos parecem intensos e raivosos, preciso me segurar para não deixar de encará-lo — você diz que gosta de mim, depois fica com raiva, me ignorando porque não te respondi de imediato e, agora, logo depois da gente passar a noite juntos, fica com gracinha com outro cara na minha frente?

— De gracinha? - a forma com que me acusa me irrita um pouco - era você quem estava fechado pro meu lado a noite inteira, eu só precisava fumar a porra de um cigarro pra relaxar e tentar te entender.

— Claro, tentar me entender... — ele vira o rosto, olhando pra fora, ainda nervoso — eu vi o jeito que ele te olha, Leonardo.

— E daí?

— E daí? - ele repete, balançando a cabeça mais uma vez — E daí que você não faz nada! Você diz gostar de mim, me abraça... me beija, me chama pra sair, mas quando ele fica flertando com você, você simplesmente permite. E ele nitidamente gosta disso!

— Não tô nem aí se ele gosta disso, ele sabe que eu tô afim de você e ele sabe que não quero nada com ele!

— É, para mim está bem claro que ele sabe disso — ele olha diretamente em meus olhos e, dessa vez, desvio o olhar mais uma vez — ele sabe e faz questão de deixar claro que vocês já tiveram algo.

— Você não sabe disso — o fito de lado, ainda sem conseguir olhá-lo diretamente.

— Então você vai negar que nunca ficaram? Você não consegue nem olhar pra mim pra responder, Leonardo.

— A gente se envolveu no ano passado — respondo de uma vez, voltando a olhar para ele, não consigo saber porquê é difícil dizer isso para ele nesse momento — e nós ficamos quando eu estava confuso com o que sentia por você.

Bruno não fala mais nada, seu olhar desvia para o casarão a nossa frente por um tempo, até que se volta para mim, provavelmente constatando que não está aqui a muito tempo e que o que aconteceu entre Mica e eu foi recente. Tenho vergonha de contar tudo para ele, afinal não foi certo ter usado o outro garoto para tentar esquecê-lo, mas sei que preciso contar agora.

— Eu não queria trazer mais problemas pra sua cabeça, não queria que qualquer sentimento meu te deixasse confuso, então procurei Mica por algo fácil. Eu não me orgulho disso... — hesito, mas só por tempo o suficiente para respirar e continuar — principalmente quando não parava de pensar em você enquanto estava com ele. É de você que eu gosto, Bruno, não sei explicar como aconteceu tão rápido, mas gosto muito de você, e quero ficar com você, não com ele.

Miro seus olhos e vejo o brilho que os toma, como se banhado em lágrimas raivosas que não chegaram a escorrer pelo rosto. Se escorressem, eu as enxugaria e faria de tudo para não voltarem a molhá-lo. Quero protegê-lo, quero protegê-lo de tudo o que possa o machucar, mesmo que seja eu quem esteja fazendo isso.

— Acho melhor a gente entrar — ele quebra o contato visual, puxando a trava e concluindo, antes de abrir a porta — preciso dormir um pouco.

Deixo que saia da caminhonete, fechando a porta sem tanta força. Ao chegar a escadinha para a varanda, o alcanço e aguardo que abra a porta. Assim que passa, fecho-a devagar, a sala é iluminada pela pouca luz que passa pelo vidro da porta da frente. Como se seus passos fossem automáticos, ele parte em direção a escada e, ao conseguir alcançá-lo, o impeço de subir para o quarto ao segurar seu ombro.