Capítulo 38 - Leonardo

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Saio do quarto e sequer tento segurar o sorriso quando vejo meu namorado rabugento descendo as escadas preguiçosamente. Sei que não conversamos durante ou depois da minha festa de aniversário e sei que eu e minha irmã temos uma boa parcela de culpa para isso, mas não me importo com isso agora. Sinto a sua falta e tudo o que mais quero é abraçá-lo.

Por isso, assim que ele ignora a minha presença e se vira na direção da cozinha, o abraço por trás, o apertando com força. Ele não reclama, tampouco faz menção a me afastar e, por mais que eu queira ceder à minha versão provocante que sabe que ele queria isso tanto quanto eu, que queria comentar a respeito e o arrastar para o meu quarto mesmo com a casa inteira acordada, apenas relaxo e me afago em seu corpo quente e macio.

— Bom dia — ele grunhe quando me aconchego em seu ombro, sentindo o cheiro de seu pescoço.

— Bom dia... — Me sinto bem, e acho que nós estamos bem.

Logo depois de todos tomarmos café da manhã juntos em clima de despedida para a minha irmã, deixei que ela abraçasse cada um deles à entrada do casarão enquanto esperava na caminhonete. Estranhamente, ela também abraça Bruno e, após ele sorrir para ela, o que já deixava tudo mais estranho ainda, vejo-a piscar para ele.

Não sei em que momento minha irmã e meu namorado passaram a se dar bem e não tenho certeza se deveria perguntar a respeito para algum deles, mas o simples fato de saber que ao menos os dois estavam amigáveis um com o outro já me tranquilizava. Afinal, eles são duas das pessoas que mais amo na vida e me parece bom ter as pessoas que amo sem implicar uma com a outra.

Deixo Clara na rodoviária e não demora muito para seu ônibus chegar. Minha não tem tempo de retomar a conversa que tivemos na noite passada a respeito dela pagar faculdade para mim, mas volta a dizer que eu poderia pensar melhor até o final do semestre e lhe dar uma resposta concreta. E eu decido não falar muito também e apenas confirmar que o farei em algum momento. Acho que já conversamos o suficiente.

Então me despeço dela pedindo para que se cuide e minha irmã faz o mesmo comigo. Não pergunto nada a respeito de Bruno, mas de alguma forma sei que ela não pensa mais nele como a simples solução para que eu possa me ver livre do mercado e da vida na cidade.

Também não perguntei a ele se havia acontecido algo quando o busquei para irmos ao mercado, deixei que continuasse quieto e ainda um tanto rabugento como em todas as manhãs comuns. Contudo, não pude me segurar nem mesmo até a hora do almoço, principalmente porque Bruno parece perceber meu riso e meus olhares em sua direção.

— Você vai dizer o motivo de ficar com essa risadinha? — ele está sério, sentado do outro lado do caixa enquanto eu o observo recostado no freezer do outro lado do mercado.

— É só que eu percebi que você e minha irmã não se bicaram hoje cedo... — ele revira os olhos, balançando a cabeça em negação — qual é, você até sorriu pra ela, e você nunca sorri de manhã, a não ser que eu te faça sorrir... — ele ignora meu comentário, ao mesmo tempo que parece estar um pouco irritado.

— É claro que eu me dar bem com a sua irmã é mais importante que o seu futuro.

— O que tem o meu futuro? — ele respira fundo e, se não bastasse o seu comentário, a forma incisiva que me olha me deixa um tanto inflamado.

— Eu acho que você deveria aceitar que a sua irmã pagasse uma graduação para você, é uma oportunidade e...

— É sério? — fico de pé e cruzo os braços, não quero me chatear com esse assunto novamente — Por isso vocês estão amiguinhos agora? Clara não aceitou o meu não e resolveu pedir pra você me convencer? Caralho, Bruno...

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant