Capítulo 34 - Leonardo

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Após deixar a estreita estrada de terra e entrar numa rodovia pouco movimentada, não demoramos a encontrar a pequena pousada que vi no mapa enquanto nos escondíamos. Na verdade, mais parece um motel barato e acabado se visto de fora e, se for tão discreto quanto um, não me importo de passar a noite no lugar.

Bruno não discutiu ou falou nenhuma palavra sequer comigo desde que viu o carro que nos seguia passar em alta velocidade pelo conjunto de casas em que nos escondemos. Isso me deixou um pouco mais tranquilo, não por não aguentar ouvir sua voz ou já não gostar de conversar com ele, mas por enfim poder me concentrar e colocar meus pensamentos em ordem.

Entendo que ele estivesse confuso quanto ao que estava acontecendo ao mesmo tempo que estava preocupado com sua mãe, mas esperei que acreditasse em mim quando eu lhe disse que estávamos correndo perigo. Não estou com raiva dele, sei que não, não de verdade, mas precisei ser firme e um tanto grosso para fazer com que entendesse que não estava brincando, que eu falava a verdade e, acima de tudo, que eu não deixaria que nada acontecesse com ele.

A verdade é que não sei como me sinto agora, mas ainda espero que meu namorado teimoso acabe tendo noção do que nos aconteceu. De todo modo, não tentarei convencê-lo de nada, minha cabeça dói um pouco e ainda preciso encontrar, de alguma forma, um posto de gasolina para abastecer a caminhonete e, principalmente, uma rota pela qual possamos chegar em casa sem nenhum outro contratempo.

O homem na portaria não se parecia em nada com o jovem branco e de pele impecável que vi entrar no carro para nos seguir mais cedo, por isso não hesitei em pedir um quarto no mínimo confortável para nós. Aparentemente eles não têm muitos quartos e, mesmo para um lugar isolado do restante da sociedade, ainda assim é, ao seu modo, aconchegante.

Há uma cama grande de casal no centro da parede em frente à porta de entrada, com uma mesa de cabeceira de cada lado, um banheiro que aposto não ser grande coisa e nenhuma janela. Assim que fecho a porta atrás de mim, noto quando Bruno caminha até o lado mais próximo do banheiro e deixa sua mochila na mesa.

Ele está quieto, mas não como quando estávamos indo encontrar com sua mãe. Dessa vez sua quietude é por minha causa, sei disso. Meu namorado não falou comigo nem mesmo quando me viu checar o estacionamento lateral do lugar, onde deixei meu carro o mais escondido possível depois de constatar que não havia nenhum outro veículo parecido com o que nos seguiu mais cedo. Sei, pelo que conheço do garoto pelo qual me apaixonei, que não falará nada a menos que eu o faça primeiro. Na verdade, talvez até cogite, mas deve pensar que o melhor seja tomar um banho, dormir e deixar que eu faça o mesmo, esperar que esfriemos a cabeça.

Caminho até o lado oposto ao seu e deixo minha mochila no chão. Observo seus passos quando ele vai em direção ao banheiro com uma roupa limpa na mão, então aviso que vou descer para perguntar ao recepcionista se há algum posto de combustível nos arredores. Bruno apenas murmura algo em concordância e, merda, isso me deixa mal.

Me sinto como antes, há não muito tempo, quando nossas inseguranças não nos permitia ter certeza se nosso sentimento era recíproco, quando não conversávamos sobre nossos medos, sobre vergonha ou nem mesmo sobre o quanto queríamos beijar um ao outro. Nesse momento quis deixar qualquer sentimento de lado para voltar a abraçá-lo e beijar sua boca, mas ele logo se trancou no banheiro e eu soube que era a minha deixa para sair do quarto.

O posto não era longe e, ao chegar, decidi encher o tanque para que no dia seguinte partíssemos logo cedo. Lá, ainda que pisando em ovos para não dizer para um estranho para onde eu pretendia ir, descobri com um frentista que a rodovia em que estávamos era ligada à "principal". Aparentemente algumas pessoas usam a que estamos como desvio para fugir da Polícia Rodoviária, então ficou fácil deduzir que seja esse o motivo de não haver tanto movimento, ao menos não em um fim de tarde de um dia útil.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora