Capítulo 22 - Leonardo

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Trabalhamos até o início da tarde para que pudéssemos ir em casa e preparar o que restava para a viagem, por sorte o fluxo de clientes não nos atrapalhou. Havíamos combinado que Larissa e Bahia cuidariam das compras, afinal a garota é a única a não trabalhar nos fins de semana e seu namorado poderia ajustar seu horário para ajudá-la com tudo, então nós somente passaríamos nossa parte do pagamento.

Notei o clima diferente assim que chegamos em casa e soube que haveria uma conversa "séria" antes mesmo de minha mãe acenar para que eu a acompanhasse para fora da cozinha após o lanche. Houve um silêncio por bastante tempo, provavelmente com Xande analisando as melhores formas de abordar o filho com seja lá com qual a sua preocupação, ou com Bruno ainda inseguro e buscando ao máximo ignorar o pai. A verdade é que eles são bem mais parecidos do que pensam. Torci à distância para que eles conseguissem conversar, não por me sentir no armário novamente ao ficar com Bruno escondido dele ou algo do tipo, mas por não gostar de ver nenhum deles cabisbaixo e remoendo seus sentimentos.

Minha mãe me distraiu quando abriu minha mochila e jogou duas das peças de roupas no chão, dizendo que elas eram velhas demais para sair de casa e que eu poderia "fazer muito melhor", principalmente se eu queria ficar bonito para alguém. Ela não disse mais nada, e eu soube que se referia ao garoto que em seguida flagramos confessar seus sentimentos por mim a seu pai, enquanto o abraçava. Senti meu rosto queimar ao ouvi-lo e tudo o que eu mais quis naquele momento foi abraçá-lo também, apertá-lo contra mim.

Vamos nos encontrar com os outros na cidade e, se atrasarmos, podemos acabar não conseguindo chegar à praia antes do pôr do sol. E Bruno está demorando muito. Enquanto o espero na caminhonete, ele provavelmente está penteando o cabelo ou passando alguma roupa para que não esteja tão amassada quando chegarmos. Gosto de como ele é organizado e pensa em detalhes assim, e constato isso quando o ouço bater a porta e o vejo sentar ao meu lado, usando uma camiseta branca nova e um short jeans apertado, além de óculos escuros cobrindo seus olhos. Seu perfume toma a cabine e, porra, isso é demais para mim.

— Você vai dirigir ou vai ficar me olhando com essa cara de quem nunca viu óculos escuros na vida? — seu comentário me faz dar risada, suas provocações agora só me fazem querer tirá-lo dessa roupa e fazê-lo sentar em meu colo aqui mesmo.

— É que você fica tão gostosinho vestido assim... — vejo-o corar antes de virar o rosto, então me inclino, puxo seus óculos e os coloco em mim. Ele reclama, me olhando um tanto envergonhado e eu mantenho a distância mínima entre nós ao continuar — isso fica comigo, você com esse shortinho já é distração o suficiente.

— É, você é um idiota por completo mesmo — sorrio ao ouvir seu comentário, segurando sua mão.

Bruno parece acanhado depois de eu tê-lo visto conversando com seu pai, talvez mamãe e eu pudéssemos mesmo voltar a deixá-los a sós naquele instante, mas acredito que não foram só os meus pés que me fizeram ficar ali e observar o momento dos dois. A verdade é que minha mãe foi quem sugeriu que conferíssemos se estava tudo bem, dizendo que eles estavam demorando demais e isso não podia ser um bom sinal, mas tenho certeza de que estava curiosa ou, no mínimo, querendo dar uma força para os dois. Ela faz isso às vezes. De todo modo, fiquei feliz de ouvi-lo dizer para outra pessoa que gosta de mim, e parte de mim gosta de como agora é ele a desviar o olhar quando meus olhos encontram os seus.

— Leonardo, a gente vai se atrasar — ele está de cabeça baixa, mas sua fala me tira dos pensamentos.

— É... tá, espera... — volto a me ajustar no banco, agora abrindo o porta-luvas para pegar o envelope com seu pagamento e entregá-lo — aqui, pela semana.

— O quê? — ele recebe o papel, mas me encara — isso seria... meu pagamento?

— É, eu não sabia se você tinha conta bancária... — vejo ele checando o conteúdo no envelope — mas de qualquer forma acho melhor gastar em dinheiro trocado no tipo de lugar que a gente vai.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now