Capítulo 20 - Leonardo

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Estar acostumado a acordar cedo me faz não precisar de despertador, mas acordar e sentir o calor do garoto com quem dividi a cama me faz cogitar muito continuar deitado. Assim como me faz querer ignorar todas as tarefas que preciso e que me acostumei a fazer no dia-a-dia.

Comigo ainda deitado sobre ele, sinto seu peito encher e esvaziar lentamente conforme o ar sai por sua boca entreaberta. Até que, depois de um pouco de esforço e cuidado, consigo me erguer e me afastar dele, devagar, esperando que não o desperte como da última vez.

Bruno não se move, nem mesmo quando ajusto o lençol até seu pescoço, e vê-lo com esse sono pesado me faz saber que estava tão cansado quanto eu. De todo modo, a forma carinhosa que ele me fez dormir, acho, a melhor noite de sono que tive em semanas, mesmo excitado devido nossos beijos, me faz constatar que estou cada vez mais apaixonado por ele. Me faz ignorar que foram poucas as vezes que ficamos e também me faz ignorar o mínimo tempo que nos conhecemos. Talvez, pensar nessas coisas só me estimula a querer ficar com ele por mais tempo. E, por mais que eu já tenha cogitado pedi-lo em namoro em algum momento, penso que talvez seja cedo demais para ele, então prefiro não estragar isso que temos, me parece bom assim.

Ainda não há muita luz vindo de fora, pela vidraça da janela, e por mais que eu precise começar com a minha rotina diária, consigo demorar alguns minutos à porta para observá-lo. Vejo-o engasgar ao ressonar e se virar um pouco, fazendo com que o lençol volte a descobrir um pouco seu peito pálido, o que me arranca um sorriso contido. Então olho em volta, só agora notando detalhes novos no quarto que antes era meu.

A cama de casal, comprada para que se sentisse confortável na casa nova, continua no mesmo lugar que antes ficava a minha, no canto da parede, assim como a mesa de cabeceira combinando, logo abaixo da janela. Há um pequeno caderno sobre o móvel, com uma caneta marcando o meio, e por alguns segundos fico curioso para saber o que ele escreve ali, mas afasto o pensamento ao notar o quadro novo na parede oposta, onde antes ficava minha estante de livros. Na moldura, há as duas páginas completas com os jogadores da seleção brasileira de futebol no último álbum de figurinhas oficial da Copa do Mundo. Ele anotou de caneta no rodapé, aparentemente, o nome dos outros jogadores convocados que não aparecem nas miniaturas.

Mesmo que mais vazio, com o seu guarda-roupas um tanto menor que o meu também colocado aos pés da cama, o quarto está tão organizado quanto o meu já foi algum dia. Sua mochila está sobre uma cadeira velha, recostada na mesma parede com o único quadro. Ao chão, mais próximo à porta, está o par de tênis que costuma usar para trabalhar. Tudo parece limpo, livre de qualquer sinal de poeira e, percebo, com um cheiro bom. Porra, preciso mesmo organizar e limpar meu próprio quarto de vez em quando.

Desço para o meu quarto ao perceber que parei para vê-lo dormir novamente. Tento não me demorar no banho, mas ao fechar os olhos para tirar o shampoo, com os toques de minhas mãos se demorando nos peitos, camuflados pela água quente ligada ao máximo, é impossível não lembrar do calor dele. Das sensações que me faz sentir.

— Caralho... — consigo sentir suas mãos em mim, me massageando, então sinto a sensação de sua boca envolvendo a cabeça e por pouco não explodo.

Abro os olhos de repente, minhas mãos apoiadas na parede fria, minhas pernas abertas, mas não há ninguém comigo. Por um instante sorrio, me sentindo um idiota por cogitar que ele estava ali, ao mesmo tempo que anseio pelo momento em que poderemos dividir o chuveiro, "brincar" enquanto a água nos molha e transar enquanto o queda da água do chuveiro esconde nossos gemidos.

Vou à cozinha assim que me visto, colocando água no fogo para ferver. Enquanto isso, verifico se ainda temos pães trazidos do mercado e, ao encontrá-los, preparo alguns ovos. Ao terminar de coar o café e lavar a louça que utilizei, não demoro para comer, mesmo que costume mastigar bem a comida e que costume tomar o líquido devagar pela temperatura.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now