Epílogo

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Página atual do caderno de Bruno



Leonardo está do meu lado no ônibus e felizmente agora está dormindo. Meu namorado teve a brilhante ideia de trazer seu violão na viagem e, mais cedo, o pessoal que está viajando com a gente decidiu por unanimidade que queria ouvi-lo cantar algo. Ele faz amizade fácil, e gosto disso, afinal ele faz todo o trabalho social enquanto eu posso simplesmente existir ao seu lado.

Mesmo dormindo assim, cansado e todo torto num assento desconfortável, me faz pensar no fato de nós termos dormido juntos todas as noites desde que nossas vidas ficaram mais tranquilas, por assim dizer. E em quase todas essas noites fizemos muito mais do que dormir. Droga, não sei como vamos conseguir ficar dias pulando de ônibus em ônibus sem ao menos podermos nos tocar, sentir o corpo um do outro ou poder nos expressar, sem pudor nenhum, como gostamos de fazer.

Sei que meu namorado compartilha desse pensamento, afinal ele usou isso como desculpa antes de sairmos em viagem para me persuadir a fechar o mercado mais cedo e o acompanhar à casa na rua lateral para passarmos a noite inteira juntos.

Agora, assim como naquele momento, fico feliz por ele ter me convencido. Na verdade ele sempre consegue o que quer comigo, mesmo que na maioria das vezes eu faça jogo duro. Acho que não tem muita graça se eu me entregar de bandeja e acho também que em todas as vezes ele gosta desse jogo interno. De todo modo, sei que o olhar divertido e safado que ele me dirigiu mais cedo, enquanto cantava um trecho um tanto direto de uma música que pediram que cantasse, quer dizer que ele tem algo em mente. E eu mal posso esperar para saber do que se trata.

Agora, enquanto escrevo e o observo, ainda mais bonito depois que deixou seu cabelo crescer novamente e passou a cuidar dos cachos, não consigo deixar de pensar e destacar aqui o quanto o amo. E amo seu cabelo também, sobretudo quando ele me deixa segurá-lo, acariciá-lo ou puxá-lo sempre que eu quiser.

Não só pelo cabelo ou pelos olhos claros, muito menos pela forma como age comigo sempre que precisa, na cama, por exemplo, mas principalmente pelo rubor que lhe causa quando eu o provoco assim, também amo chamá-lo de Leãozinho. Meu leãozinho.

Acabei de vaguear um pouco quando notei como a lua lá fora parece mais brilhante que o normal. Talvez por a rodovia estar pouco iluminada, claro, mas não só por isso.

Enquanto olhava pela janela, me peguei imaginando e me perguntando se Larissa, Bahia e Paulinha se juntaram em volta da fogueira essa noite. Se estão conversando sobre como foram seus respectivos dias ou contando e rindo de qualquer história divertida e mentirosa.

Sinto falta deles, de Isabel, do meu pai e da fazenda, claro, mas também sinto falta de minha mãe, e de Mica. Por isso Leo e eu nos planejamos para visitá-los por alguns dias. Vai ser bom ver como se adaptaram e como estão levando suas vidas depois da mudança.

Já fazem alguns meses e eles nos disseram que estão muito bem, mas vai ser bom viajar ao lado do meu namorado gato, sociável e amoroso. No fim, quero muito voltar a abraçar minha mãe e lhe contar melhor tudo o que passei desde sua partida.

Estranhamente, quero lhe contar sobre uma música especial para Leonardo e eu.

Mais cedo, ele cantou essa música mais uma vez. Ninguém do ônibus pediu que o fizesse e nem mesmo desconfiaram do que ela é para nós, mas, para mim, ficou claro que canto para mim. Da mesma forma que cantava antes de darmos o nosso primeiro beijo. Segundo ele, ela o fazia pensar em mim, e mesmo que me conhecesse há pouco tempo, fazia ter esperanças de que poderia ficar comigo. Bom, fico feliz que aconteceu.

Desde que me contou a respeito do significado da música para ele, para nós, eu mesmo me pego cantando em sua presença. Não por querer fazer com que Leonardo se sinta sem jeito ou por me sentir esnobe por uma música lembrar os sentimentos dele por mim. Ok, talvez seja um pouquinho por esse motivos, mas não só por isso. A verdade é que eu também esbarrei no olhar dele, tropecei no seu beijo e, porra, como eu queimei a língua. Ele me acertou de jeito e, agora, estamos na vida um do outro. E se, por qualquer que seja o motivo que leve qualquer pessoa a perguntar ou nos fazer perguntar "como é que a gente fica?", não há resposta mais cabível e certa para nós do que: mais juntos e felizes do que nunca.

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Oi, amor ☻

Se um dia você for reler isso, saiba que peguei seu caderno no meio da madrugada quando você dormiu. É culpa sua por ter me deixado ler uma vez, agora eu fiquei curioso pra saber porque você ria tanto o dia inteiro, escrevendo nesse caderno enquanto eu tocava e cantava pro pessoal do ônibus. Eu tive que dar uma olhadinha de novo.

Bom, talvez você já saiba disso, mas eu tenho sim algumas formas em mente de "nos expressar, sem pudor nenhum, como gostamos de fazer" em uma das paradas que vamos fazer. Nossa, que saudade de estar dentro de você, cara!

Não vou comentar a respeito do meu cabelo, afinal você sabe bem como me sinto sobre isso. Beleza, vou só dizer para o caso de alguém que não seja eu ou você acabar lendo isso: gosto pra caralho quando você puxa meus cachos enquanto rebola em cima de mim. Porra, só de pensar eu já fico duro.

Também não vou comentar sobre a "nossa música", sempre fico sem jeito quando você canta ou usa ela pra me fazer corar de propósito. E não vou comentar também do quão fofo você foi ao escrever sobre ela e sobre como se sente. Te amo por isso.

Então, vou só dizer, e talvez seja torcendo para que nunca releia o que escreve, que eu sempre serei o seu leãozinho. Um que vai agir feroz sempre que me pedir ou sempre que VOCÊ me fizer perder o controle, mas completamente cheio de amor, e somente seu.

Ps.: Eu sei que sou gato, sociável e amoroso.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum