Capítulo 08 - Leonardo

88 16 70
                                    

Antes mesmo de Mica entrar de volta para casa e eu abrir a porta de minha caminhonete, consigo ver Bruno atravessar o cruzamento quase deserto ao fim da rua praticamente correndo. Ele está de cabeça baixa, com as mãos nos bolsos, e pensar que algo pode ter acontecido para que tenha ficado abalado me deixa preocupado. Na verdade, bastante preocupado.

Minha respiração está acelerada quando giro a chave na ignição e o carro velho parece querer testar minha paciência, tento não pensar muito, então desligo e tento novamente. Ele pode ter dado algum problema, mas estava tudo certo quando cheguei então prefiro pensar que o motor deve estar só frio.

— Precisa de uma mãozinha? — eu ignoro a pergunta de Mica, tentando ligar o veículo mais uma vez — posso dar um empurrãozinho atrás se precisar.

— Me deixe em paz, Mica.

— Calma, Leo, eu só quero ajudar com o carro.

— Eu... eu sei — tento respirar compassadamente, pensando que posso estar me estressando atoa e, além disso, sequer tenho o direito de tratá-lo mal depois do que fiz — me desculpa, e obrigado por se oferecer, mas não... — o carro liga após mais uma tentativa e eu solto o ar quando o olho pela janela — não precisa.

Mica acena para mim e eu o imito, com um sorriso sem graça no rosto, antes de arrancar na direção que vi Bruno seguir. Ele poderia estar perdido, mas caso soubesse exatamente a direção da nossa casa aqui na cidade, já estaria chegando lá com a velocidade que andava. Por isso acelero, grato ao fim de cada rua por ser quase meio-dia de domingo e não haver tantas pessoas ou veículos no meu caminho.

Quando estaciono na rua à frente do Mercado, ouço a batida forte na porta ecoar pela rua lateral e sei que foi Bruno que a causou. Então eu corro para a porta, batendo primeiro devagar antes de chamar por seu nome e aumentar a força das batidas. Não consigo ouvi-lo responder e imaginar que possa ter realmente acontecido algo faz com que eu comece a ficar um pouco mais nervoso.

— Bruno, por favor, abre essa porta — volto a bater, agora tão forte que receio que alguém possa acabar ouvindo — aconteceu alguma coisa? Eu tô ficando preocupado...

Sem obter resposta, eu tento me acalmar ao me afastar da porta. Sei que está ali dentro, mas não sei como ele está. Talvez tenha se machucado de alguma forma ou talvez esteja só passando mal depois do porre que tomou ontem a noite. Ainda assim, pensar em possibilidades diferentes não me faz sentir tranquilo. Por isso pego meu celular e após encontrar seu contato, ligo para ele. Ele chama algumas vezes, o que faz eu me perguntar se o garoto está ignorando ou simplesmente não vendo a ligação. Talvez ele tenha sido assaltado e essa pode ser a razão de estar se escondendo, mas quase não há assaltos por aqui, basicamente todo mundo se conhece.

— Bruno! — eu grito, dessa vez sem bater na porta — eu sei que está aí...

— Vai embora — ouço-o responder, um pouco baixo, e sinto um breve alívio ao ouvir sua voz - estou bem.

— Não acredito em você — volto a me aproximar, colocando as duas mãos no metal e me segurando para não voltar a bater — e também não vou embora sem você.

— Acho que vou passar o dia aqui... — sua voz é mais alta agora, por trás da porta — pode voltar sem mim.

— Bruno, preciso que abra a porta pra mim, ou... — eu tento acalmar meu nervosismo, não quero explodir com ele como fiz a pouco com Mica — se você não abrir eu vou arrombar.

Eu levanto o punho, cerrado, e me preparo para voltar a bater quando ele abre a porta e me encara com uma expressão séria. Seus olhos tímidos, escuros e extremamente apaixonantes tentam mais uma vez me fazer desviar o olhar, mas me mantenho firme ao também retribuir a seriedade, pelo menos até entender o que aconteceu para ele agido dessa forma.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now