Capítulo 03 - Bruno

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O garoto saiu do quarto de forma tão inesperada quanto quando chegou. Me senti um pouco tranquilo quando o fez, não por ter me sentido ameaçado no momento em que se aproximou e pareceu querer me bater, mas porque sua presença me incomoda. Não consigo entender direito como, mas me incomoda. Talvez seja o fato de ele ser um pouco mais forte e, talvez, dois centímetros mais alto.

— Não precisa ficar nervoso, Leo é um garoto muito bom, não vai deixar você ficar de canto quando saírem juntos — meu pai sentou-se na cama e deu batidinhas para que eu fizesse o mesmo.

— Eu não sou nenhuma criança, pai, muito menos um nerd que não conhece ninguém por não sair de casa. Eu tenho amigos na cidade e, se vocês não tiverem estragado tudo, uma namorada.

Não era totalmente mentira, mas tampouco era verdade, afinal eu não gosto de conhecer pessoas novas. Os únicos amigos que tive no ensino médio além de minha namorada, que estudou comigo nos últimos três anos, eram os garotos que jogavam comigo nas aulas de Educação Física e nos sábados à tarde.

— Tudo bem — ele dá de ombros, levantando da cama quando não sento ao seu lado e esboçando um sorriso discreto — gosto de você aqui, faz muito tempo que não nos vemos e acho que pode ser bom pra todo mundo.

— O que quer dizer? — eu o encaro, notando o nervosismo tomando conta do meu pai, como se a pergunta não tivesse sido simples.

— Quer dizer que todos podemos nos divertir com a mudança... — Minha mãe entra no quarto, colocando as mãos na cintura quando solta o ar, sorridente — eu não queria te contar, mas as meninas do salão me convenceram a fazer uma excursão pelo país e eu acabei aceitando. Você sabe, só garotas, então seu pai e eu achamos a ideia de você aqui perfeita.

— Eu... — minha cabeça parece se perder um pouco na história, mas a raiva por ser mais uma coisa planejada às minhas costas se sobressai — vocês só podem estar brincando comigo.

Se estivéssemos em casa, eu provavelmente respiraria fundo para controlar a raiva e pediria para que me deixassem sozinho. Depois fecharia a porta do quarto e ligaria para Beatriz ou escreveria no meu diário improvisado. Escrever muitas vezes me ajuda a tirar as coisas da cabeça. Mas eu não estou em casa e sequer posso me permitir ficar sozinho em um quarto que não é meu.

— Se vocês querem me tratar como uma criança, tudo bem, não discutiremos mais isso.

— Não leve as coisas para esse lado, meu filho...

— Não levar para esse lado, pai? — eu elevo o tom de voz, mesmo que não queira o fazer — Ela planeja uma viagem sem mim, até aí tudo bem, ok, então vocês decidem conversar, algo que não acontecia com muita frequência...

— Bruno, olha o tom...

— Aí decidem por mim que devo mudar de cidade, deixar meus amigos para trás, deixar minha namorada, deixar as coisas que conheço para viver no meio do nada? Como um caipira? Eu não sou mais criança!

— Então pare de agir como se fosse!

Quando escuto o grito de minha mãe, noto minha respiração acelerada. Eu não costumo discutir dessa forma e, pela primeira vez, percebo que fiz exatamente algo pior do que estou acostumado: explodir e gritar com meus pais, sobretudo na casa de outra pessoa.

— Me desculpe... vocês dois — eu digo, fechando os olhos quando sinto o abraço de minha mãe. Passo alguns segundos sentindo seu aperto, não porque ela normalmente não me abraça, mas porque sei que ela merece qualquer tipo de férias que decida ter e que fui injusto ao gritar com ela, com eles — quero... quero que se divirta muito, está bem? Não se preocupe comigo — ergo a cabeça e encontro o olhar de meu pai sobre nós, ele acena com a cabeça para mim — nós vamos ficar bem.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now