Capítulo 25 - Bruno

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Leonardo ficou calado e cabisbaixo durante quase todo o tempo em que falavam a respeito de seu desfile no seu último ano na escola, sobretudo quando voltaram a comentar sobre seu cabelo. Me arrependi por ter entrado no assunto, na verdade, eu só perguntei a respeito na tentativa de mudar o foco de seu corte de cabelo quando percebi que estava constrangido.

De início, pensei que só não gostasse que fizessem grande caso com a brincadeira de assanhá-lo ou, eventualmente, pudesse estar esgotado com a viagem de carro e tudo o que aconteceu depois, mas descartei essas hipóteses quando ele continuou quieto até mesmo quando nos recolhemos, agora a sós, à nossa barraca.

Ao entrar, Leo mal esperou que eu afastasse nossas mochilas para um canto e logo se jogou de costas no colchonete. Somente quando faz isso é que posso constatar o quão espaçosa e confortável é a barraca em que estamos. Me pergunto se todas têm o mesmo padrão ou se meu namorado, que agora está absorto enquanto olha para a pequena lanterna presa no canto mais alto da lona, fez questão de garantir esse conforto para que eu me sentisse bem.

Quero saber o que se passa por sua cabeça, seja uma preocupação, qualquer futilidade ou assunto sério que esteja o incomodando, mas não posso força-lo a se abrir. Eu seria hipócrita se o fizesse, afinal não sou do tipo de pessoa que compartilha seus sentimentos com facilidade, e é justamente por ser assim que sei o quanto deve ser algo importante. Leo não é como eu.

— Eu também gostava muito do meu cabelo como era antes... — ele ainda está um pouco disperso quando começa a falar, um pouco baixo de início. Sou pego de surpresa, mas tento me manter tranquilo, então me aproximo, sentando do seu lado — não era tão grande, e também pode parecer algo bobo, mas eu gostava como era cheio em cima e... — ele sorri, um pouco triste, ao olhar para mim de relance — não era só como um diferencial pra tentar impressionar as pessoas ou pura vaidade, era algo meu, sabe? Eu não só me achava mais bonito como gostava de cuidar dele, até mesmo quando precisava usar chapéu... ele me fazia bem.

Recordo dele na foto de seu perfil, onde posa sentado sobre algo que suponho ser sua caminhonete. E mesmo estando com uma expressão séria na imagem, como se fosse mesmo um modelo fotográfico profissional, eu consigo imaginar os momentos, durante a sessão, em que Leo usou a mesma roupa e o mesmo chapéu, com os fios de um cabelo cheio e ondulado escapando para os lados da mesma forma, enquanto exibia um de seus sorrisos chatos, idiotas e irritantes que torna impossível para qualquer um não se apaixonar.

Não me demoro pensando nisso, também não comento nada a respeito do que me confidencia, pois ele logo se ergue e senta à minha frente.

Olhar para ele agora, de pernas cruzadas, encolhido e concentrado nas próprias mãos que brincam uma com a outra, faz meu peito apertar um pouco. Não me sinto bem em vê-lo triste, me sinto um pouco impotente. E ele parece querer continuar a falar, por isso, sei que não devo demonstrar qualquer coisa que eu possa acabar sentindo enquanto o escuto se não for para garantir que se sinta seguro comigo, garantir que se sinta bem.

— Você deve lembrar de quando beijei o garoto na frente da escola inteira... — faço que sim, mais para mim mesmo do que para ele — bom, a gente já se gostava fazia um tempo então, depois disso, a gente começou a ficar e logo eu aceitei o pedido de namoro dele — Leo balança a cabeça ao soltar uma risada nasal quase imperceptível — por um tempo, tudo parecia bom, muito bom na verdade, mas em alguns momentos ele era ciumento demais... eu não percebi, claro, meio que eu era apaixonado, mas começou com coisas bobas como discutir comigo por emprestar uma caneta pra alguém ou por conversar com alguns amigos nos intervalos e... eu logo me vi pedindo desculpas por fazer essas coisas.

Leo parece sentir um pouco ao relembrar tudo e saber disso me faz querer ao menos segurar sua mão, mas ainda não sei se devo. Quero fazê-lo se sentir bem e acredito que deixar que continue falando é o melhor, afinal essas palavras parecem estar sendo guardadas por bastante tempo.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt