Capítulo 10 - Leonardo

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Bruno parece do tipo rabugento quando acorda pela manhã, pois se limitou a desejar bom dia quando chegou à cozinha, onde eu já tomava café com seu pai e minha mãe, mantendo-se quieto e de cara fechada. Fico um pouco grato por não ter tentado falar comigo a respeito do que confessei para ele ontem na cidade, já é vergonhoso o suficiente para mim ele sequer ter reagido quando o disse e, deixar que minha família saiba disso com certeza me faria querer dormir no celeiro por meses.

Depois de retornarmos, Bruno pareceu querer falar algo para mim, mas já estava claro o suficiente que não tem o mesmo interesse por mim quando sua resposta foi um silêncio constrangedor. Por isso o interrompi e o deixei sozinho no carro, tenho a porra do coração mole ao ponto de me importar demais com os outros, mas as vezes cuido um pouco de mim. Não quero ouvi-lo se desculpar por não gostar de mim como provavelmente gosto dele, afinal ele não precisa se desculpar pelo que sente e isso só doeria um pouco mais.

Ainda assim, consegui notar a forma que me secou com os olhos quando tirei a camisa molhada e suja de lama e, em seguida, usei para limpar o meu rosto. Perceber isso só me confunde mais a respeito do que ele pode estar sentindo.

Ainda me preocupo que sua cabeça possa estar cheia com a mudança e com o término do namoro, além de ter ficado de fora das faculdades que tentou uma bolsa, e ainda me preocupo que só o fato de eu ter dito que gosto dele pode ter o confundido, mas ele não pode me responder com um silêncio vergonhoso e em seguida não tirar os olhos de meu corpo. E por saber disso, que pelo menos o meu corpo atrai seus olhos, sei também que o meu lado galanteador vai provocá-lo até que decida entre me dispensar de uma vez ou, quem sabe, confesse que no mínimo se sente atraído por mim.

Estou dirigindo devagar para evitar que os buracos na estrada acabem com a minha velha caminhonete e, também, para evitar que alguma poça grudenta de lama nos atole novamente. Bruno está quieto, como antes, agora evitando olhar para o meu lado. Gosto de pensar que os botões abertos da camisa que uso o afetam.

Eu não queria ter me fechado para ele ontem a tarde, mas já era vergonhoso o suficiente dirigir ao seu lado depois de levar um fora, então permitir qualquer tipo de diálogo parecia impossível. Eu tampouco saberia o que dizer.

Além disso, antes que o garoto acordasse, Alexandre havia me perguntado se teria algum problema se eu levasse seu filho para o mercado hoje cedo, pois poderia precisar de seu carro. Achei que seria essa a ideia desde o princípio, afinal eu quem fiquei encarregado de ajudá-lo no mercado e levar o outro veículo da casa parecia desnecessário, mas Bruno deve ter achado algum momento entre se trancar no seu quarto e seu jantar, momentos em que eu não estaria presente, para perguntar a seu pai se poderia dirigir até a cidade.

— Bom, você vai ficar a maior parte do tempo no Caixa, mas caso alguém te peça algo e não saiba do que se trata — eu levantei o portão de uma vez, enquanto olhava, um pouco sem jeito, o interior do estabelecimento pelo vidro — vou estar nos fundos conferindo o inventário.

— Tudo bem — nós passamos pela porta e ele deu mais uma olhada ao redor — é um pouco maior do que eu esperava.

— Na registradora deve ter algumas notas pequenas e moedas, mas se precisar de mais troco...

— Eu te chamo — noto-o curvar levemente os lábios antes de passar a caminhar por entre as prateleiras — pode deixar.

Logo aparecem os primeiros clientes tocando o velho sino acima da porta e chamando a minha atenção, ao fundo do corredor mais escondido do mercado. Desconfio que sejam dona Maria, mãe de Bahia, e sua vizinha Odete. Elas costumam vir na segunda-feira bem cedo para evitar perder os queijos mais frescos que a minha mãe faz.

Me movo um pouco até conseguir enxergá-los, no fim do primeiro corredor, algo me dizia que podia ser divertido ver um garoto como ele atendendo os clientes, principalmente quando a Dona Odete era, digamos, uma boa amiga minha. Vejo a senhora mais alta usando mais um de seus longos vestidos, com os cabelos brancos penteados para trás como sempre, mas dessa vez com uma expressão emburrada no rosto. Enquanto a mãe de meu amigo tem vestimenta parecida, mas já está com o avental que normalmente usa no restaurante.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now