Capítulo 23 - Bruno

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Não sei exatamente por quanto tempo dormi no banco traseiro do carro de Mica, mas o sorriso em seu rosto ao me acordar, com um destaque para um brilho extra em seus olhos, indica que ainda está de bom humor e que, provavelmente, não nos atrasamos.

— Boa tarde, príncipe — ele solta uma risada divertida.

— Furamos outro pneu? — eu coço os olhos ao me ajeitar na poltrona — você não consegue desviar de buracos na estrada ou o quê?

— Fala como se tivesse sentido qualquer buraco na estrada depois que fechou os olhos — ele abre a porta e, antes de sair, completa — vem, a gente chegou e eu tô afim de curtir muito esse fim de semana!

Noto que Paulinha e Larissa já deixaram a picape e provavelmente já ajudam Leo e Bahia com as malas, ou simplesmente admiram a vista que posso ver um tanto borrada pelo vidro do carro. Assim que Mica sai, eu faço o mesmo e o acompanho para fora, e só então percebo que estamos em um grande estacionamento aberto. Não há muitos carros no lugar, mas posso identificar ao menos dois trailers grandes com algumas pessoas espalhando suas coisas ao redor.

Olhando em volta e, aparentemente, acordando aos poucos, miro a paisagem que desponta após o extenso piso de concreto em que estamos. Posso ver onde uma ponta de azul mais escuro toca o claro do céu, ainda iluminado pelo sol ao alto, no mesmo instante em que sinto uma brisa passar por meu rosto. Estranhamente me sinto bem, animado e, ao mesmo tempo em que isso faz com que me sinta relaxado, me faz acordar de uma vez por todas.

— Onde está todo mundo? — Mica se coloca ao meu lado após pegar as mochilas que estavam no seu carro e me entregar a que suponho ser a minha.

— As meninas saíram correndo assim que desliguei o motor, não sei se foram ver algo com o guia ou se estavam apertadas pra ir no banheiro — ele dá de ombros, levando as mãos ao quadril e estufando o peito para respirar fundo. Eu riria do sorriso largo em seu rosto, mas consigo sentir o mesmo que ele e por pouco não o imito — Ah, como é bom sentir essa brisa no rosto...

— Vou ter que concordar com você — ao me ouvir, ele contém um pouco o sorriso e me cerca com um dos braços, se apoiando nos meus ombros.

É estranho ser abraçado pelo ex do garoto que você está "ficando", e por mais que eu me sinta um tanto embaraçado com seu gesto, relaxo meus ombros e deixo que continue assim. Não quero deixar de olhar a vista que, confesso, quero chegar mais perto para apreciar. Além disso, acabei descobrindo que essa é a sua forma de demonstrar algum carinho por mim, se é esse o caso.

Mais cedo, assim que a Paulinha decidiu que iria dormir e Larissa bocejou logo em seguida, Mica tratou de se esforçar para que não tivéssemos nenhuma tensão durante o percurso. Primeiro ele me perguntou sobre como eu estava me sentindo depois de ter me mudado para uma cidade diferente, menor. Emendando que costumava viajar bastante para comprar mercadorias para sua loja e destacando que eram poucas as coisas que gostava em cidades maiores que a que vivia.

Em determinados momentos, os assuntos eram voltados para as pessoas, com ele às vezes contando algo engraçado sobre algum garoto com quem ficou, às vezes lembrando de alguma história sobre alguém da cidade em que morava e, em algumas dessas vezes, sendo atrapalhado por Paula no banco traseiro, que parecia gostar de enriquecer o que era contado.

O garoto não falou de Leonardo, mesmo que em alguns momentos ele citasse seu nome, preferiu deixá-lo de lado. Também não tinha como intenção perguntar a respeito de sua amizade ou de seus envolvimentos no passado, mas ainda assim ele usou o GPS como desculpa para mudar de assunto algumas vezes. De alguma forma, parecia que o garoto que gosto seria um empecilho para uma boa relação entre Mica e eu, então, ao menos durante a viagem e esse final de semana, poderíamos tentar deixá-lo um pouco de fora dos assuntos.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Where stories live. Discover now